A propósito das recorrentes propostas do CDS sobre os beneficiários do rendimento mínimo (desta vez a propósito dos fogos florestais), recordo aqui um texto lapidar do
Miguel Madeira:
Se esses trabalhos que se sugere que os desempregados deveriam fazer são mesmo necessários, faria mais sentido, pura e simplesmente, o Estado contratar pessoas para os fazer, não?
A propósito da regulação do teor de sal no pão (mais um tema que demonstra quão reacionários são os defensores da “liberdade individual acima de tudo”), "Imagine um país que deixa morrer os seus cidadãos" no
StatuQuo:
Era uma vez um país, onde as panificadoras, a seu belo prazer, vendiam 50% da Dose Diária Recomendada (DDR) de sódio numa simples carcaça de 100g. A pândega era tanta que admitiam, com todos os dentes e sem pudor ou vergonha, que o cloreto de sódio (vulgo sal) era colocado a olho. (...) É sempre esclarecedor, que perante um Estado representativo, atento e responsável, existam nichos opositores, desde minarquistas até colectivistas, que criticam o garante da “saúde em dignidade” da população portuguesa. Perante o problema, a solução destes é deixar morrer… Fixem os seus nomes.
16 comentários :
Não percebo o que é que tem de reaccionário considerar que a opção de consumir mais ou menos sal deve pertencer a cada um e não ao colectivo.
Para quando a ginástica obrigatória por lei? Há que proteger a saúde dos cidadãos...
PS- Mas seria bem capaz de admitir que as panificadoras que quisessem vender pão com sal acima de um determinado limite fossem obrigadas a rotular devidamente o pão para o cliente estar consciente dessa situação.
Como podem as mesmas pessoas que defendem uma liberalização do consumo de drogas defender a regulamentação da quantidade de sal no pão? Que as panificadoras sejam obrigadas a controlar e identificar a quantidade de sal, tudo bem, mas exigir comportamentos saudáveis aos cidadãos, comportamentos esses impostos por lei pelo Estado, é que é francamente abusador.
Em relação ao texto citado, para ser sincero não percebi nada. Parece-me muito furioso e eloquente mas não percebi o que está a tentar defender nem quais os seus argumentos. Podias explicar, Filipe? (mais uma vez - sem ironia nenhuma)
Ok, fui à fonte e percebi o texto. Fosse o governo tão cuidadoso com os transgénicos ...
Hoje comi um gelado com 140% da dose diária recomendada de glícidos, dizia isso no rótulo :-)
JDC, quem defendeu aqui a liberalização do consumo das drogas? Eu não vi ninguém.
O texto do Miguel Carvalho falava da descriminalização do consumo de drogas, algo bem diferente (e que eu sem dúvida apoio). Vai uma grande confusão nessa cabeça.
João Vasco, a ginástica com certeza não é obrigatória, mas olha que se não tem já teve benefícios fiscais. De resto são situações bem diferentes. O consumidor quando come pão não sabe a quantidade de pão que está a ingerir. Dir-me-ás que isso se resolvia com etiquetas. Eu digo que não. Esse produto com excesso de sal, chama-lhe o que quiseres, mas não se pode chamar pão, o bem de primeira necessidade. Se quiseres podes continuar a fazer "pão" com excesso de sal, mas esse "pão" deveria ser equiparado ao tabaco: ter rótulos a avisar que pode matar e sobretudo pagar mais imposto. Nessas condições não me oponho à sua comercialização. Mas não deve ser confundido com o pão nosso de cada dia.
João Branco, acho que o excesso de glicose te afetou a mona... Diz-me que marca é para eu me queixar à ASAE.
"O consumidor quando come pão não sabe a quantidade de pão que está a ingerir."
Queria dizer quantidade de sal. É da hora...
Quanto ao imposto, poderia existir um imposto sobre o sal simplesmente.
Faz mais sentido pagar o mesmo quem compra pão salgado e quem põe sal no pão em casa, se o problema é compensar o SNS pelo que terá de arcar a mais pelo prejuízo que o sal causa na saúde.
Mas enfim, nesse caso também deveria existir um imposto sobre o açúcar, e sobre as gorduras...
Bom, mas pelo menos estamos de acordo que ao invés de proibido, o "pão" com sal acima de determinado ponto deveria ser rotulado como tal.
Quanto ao comentário do João Branco, não me parece nada delirante. Faz sentido notar que um gelado com 140% da dose diária de glícidos é permitido enquanto que o pão do dia-a-dia (o tal que tem sal em excesso) muito mais saudável que esse gelado, passou a ser proibido. Ou se proibem ambos, ou se rotulam ambos, e a segunda faz bem mais sentido que a primeira.
"Bom, mas pelo menos estamos de acordo que ao invés de proibido, o "pão" com sal acima de determinado ponto deveria ser rotulado como tal."
Não sei se estamos de acordo. Esse "pão" salgado, para além de ser etiquetado, deveria ser retirado das prateleiras dos supermercados onde está o outro pão e ser vendido como um produto gourmet para excêntricos. Deveria ser banido dos restaurantes e sobretudo das cantinas. Ou seja, defendo uma proibição, mesmo que parcial. Mas, pronto, se querem assim, que a proibição não seja total. Para não dizerem que eu não respeito as liberdadezinhas burguesas.
Não disse que o comentário do João era delirante. Quando sugeri que o excesso de glicose lhe afetara a mona, era por, por duas vezes, ele não ter percebido o texto à primeira (aqui e no texto do Miguel). Aqui posso não ter sido claro. Ainda assim gostaria de saber que marca de gelado é essa que escreve que este tem 140% da dose diária de glicose. João, isso não era um pacote de 1kg de Carte D'Or? E foi cá em Portugal?
João Branco, tal como Filipe Moura disse e bem é uma questão de informação, ainda para mais de um bem essencial, intrinsecamente enraizado na nossa cultura. Tão enraizado que chocaria muita gente se dissesse que o pão de milho é um alimento potencialmente prejudicial a outros níveis e não só na quantidade de sódio. Como temos que atender às questões sócio-culturais, não se pede que venha na saqueta (e talvez bem) toda a informação nutricional mas tem que haver um aperto do Estado na regulação nos abusos de certos nutrientes.
E sem me querer desviar muito do assunto, o mais grave é que quem sai prejudicado são mais uma vez as classes mais baixas, dependentes do pão de milho, a típica carcaça que é economicamente mais viável. Quem tem dinheiro pode dar-se ao "luxo" de comprar pão de trigo ou de centeio ou mistura (bastante mais saudável) e pão com quantidades inferiores de sal (mesmo que estas sejam ainda acima da média).
O Filipe Moura está muito acalorado nesta discussão. Vejamos:
Onde eu disse que aqui se defenda a liberalização do consumo de drogas? Mas já agora, defende? Eu levantei a questão que há muita gente que defende a liberalização das drogas e, ao mesmo tempo, a proibição de pão "salgado" por questões de saúde pública, só isso. Não vai confusão nenhuma na minha cabeça.
Por outro lado, porquê esse desprezo à liberdade de consumo (informado, acrescento) das pessoas? Porque deve o Estado controlar todos os aspectos da minha vida? E porque é que a possibilidade de escolha de pão "salgado" faz de mim um burguês? Em casa você não põe a quantidade de sal que deseja, e a olho, na comida que prepara? Sente-se um liberalzinho burguês? Ou quer um dispensador de sal calibrado por entidade estatal para definir a quantidade de sal que põe nos bifes?
Acalorado está o JDC. Deve ser da tensão. Ai esse sal...
CC, em que consiste o perigo do pão de milho, podes explicar-nos sucintamente? É que, desde que me mudei para o Minho, ele passou a fazer parte da minha dieta com uma certa regularidade.
Não se preocupe com a minha tensão arterial, até a tenho baixa por natureza! Só fico mais acalorado quando começam a chover os chavões do comunismo, como liberdadezinhas burguesas, ainda para mais quando aplicadas a coisas ridiculamente simples como o Estado legislar (ou não) na quantidade de sal no pão. Se ainda estivéssemos a falar da Banca ou de contractos de trabalho...
"CC, em que consiste o perigo do pão de milho, podes explicar-nos sucintamente? É que, desde que me mudei para o Minho, ele passou a fazer parte da minha dieta com uma certa regularidade."
O milho é essencialmente composto por um amido de assimilação rápida, apesar de ser um amido e portanto um polímero de grande cadeia. Causando picos de glicemia existe um risco bastante acrescido a diversos níveis:
- maior propensão para a obesidade
- menor saciedade o que também afecta o primeiro ponto
- causa picos de glicemia o que potencia casos de diabetes mellitus
Claro que o típico português diz que agora não se pode comer nada. Não é bem assim, pode-se comer quase de tudo mas deveriam existir algumas prevenções e algumas restrições ao nível de certos polissacarídeos, gorduras saturadas e sal. O resto são preocupações apenas circunstanciais.
Cláudio Carvalho
JDC, o ficar meio acalorado, já lhe disse, é tensão alta. Afinal, você põe sal nos bifes, algo inconcebível (nos bifes põe-se pimenta e alho). Um comunista só tempera a comida com coentros, orégãos, hortelã, poejo... Mas é verdade que os comunistas também só comem criancinhas.
Cláudio, muito obrigado pela excelente explicação. Vou passar a consumir o pão de milho de uma forma bem mais consciente. No fundo o que faz falta é isso - as pessoas estarem conscientes do mal que as coisas fazem.
"Mas é verdade que os comunistas também só comem criancinhas."
Epa, que disparate. A vitimização fica-lhe mal...
E um bife com sal grosso na brasa?!
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