Mas li hoje um texto do Bernard Henry-Levy no El Pais que me relembrou que este desgraçado continua na prisão, vítima da campanha de caça às bruxas lançada por Bush em 2005 e agora aproveitada por um delegado do ministério público abjecto, contra a vontade da vítima, por razões políticas, aparentemente em ano de eleição.
Já sei que os anónimos do costume acham bem prendê-lo, humilhar-lhe a família e retomar um julgamento que começou há 32 anos, com um juiz a dar o dito por não dito e a forçar-lhe a fuga, depois de ter acordado numa pena que Polanski cumpriu integralmente.
Acho que vale a pena lembrar aqui que a vítima de Polanski já o desculpou publicamente e que publicamente pediu ao ministério público que a não fizessem passar, mais uma vez, pelo martírio dos tribunais, dos pormenores mais repugnantes e aviltantes repetidos à exaustão, publicados e lidos e debatidos com as mãos suadas de nervos por todos os tarados sexuais deste triste país. Desta vez em frente dos filhos dela.
Segundo Samantha Gailey, a única vítima desta história, o que Polanski lhe fez foi horrível, mas não foi nada comparado com os olhares e os comentários e o interesse pegajoso que os polícias, os advogados, os contínuos do tribunal, os jurados e todos os homens que acorreram em defesa dela, demonstraram oleosamente, enquanto a interrogavam e lhe saboreavam as respostas.
Porcos como todos os puritanos, fartos de saberem que a linha entre o bem e mal passa pelo meio de cada um de nós, estes mamíferos repugnantes vão-se regalar mais uma vez com a história sórdida deste incidente, exercer o poder de julgarem os outros como se as pessoas fossem simples e coerentes, ou completamente boas, ou completamente más.
Talvez porque vivo aqui há 11 anos a ver juízes e políticos (como os que se vão agora espojar nesta história sórdida) a serem apanhados em actos muito mais revoltantes do que este. Talvez porque me custe ver um artista ser julgado por por boçais. Talvez porque Polanski é judeu e os Suiços têm uma longa história de anti-semitismo. Não sei. Acho esta história triste e injusta. Hipócrita. E como BHL, com quem geralmente nunca concordo, apetece-me perguntar se alguém sabe de outra história de outro criminoso sexual que tenha sido seleccionado e activamente procurado pela interpol.
Esta história é repugnante e de uma injustiça atroz.
11 comentários :
Subscrevo inteiramente este post.
A minha opinião vai ao encontro dele, como se pode ver aqui:
http://a-terceira-via.blogspot.com/2009/10/o-estranho-caso-de-roman-polanski.html
Filipe,
dá vontade de perguntar ao BHL o que faria se a miúda violada fosse irmã ou filha dele...
É que o Polanski drogou e depois violou, com violência, uma menor de 13 anos. É claro que contratou os melhores advogados e conseguiu safar-se com uma pena menor do que merecia. Mesmo assim, podia ter sido homem para cumprir a pena. Mas não foi. Fugiu e tem andado fugido dos EUA há 32 anos.
Quanto à vítima, não sabemos se terá recebido dinheiro «por fora» depois do acordo de 93. Isso explicaria que ande por aí a dizer que o «desculpa».
Polanski não tem desculpa. Ser judeu ou um realizador genial não vem ao caso. Cometeu um crime, amanhe-se. Há outros com menos dinheiro do que ele que dão com os ossos na prisão por muito menos.
e se o hitler fosse vivo os crimes dele também deviam prescrever. juro que não porque continua a mossad atrás dos criminosos de guerra nazis. é uma perseguição puramente política e arbitrária. foi há tanto tempo que até algumas das vítimas os perdoaram, o melhor é para com isso...
inacreditável este post.
Subscrevo inteiramente o post. Sugiro que façam buscas ás casas desses hipócritas "defensores das crianças" pois muito provavelmente vão ter grandes surpresas.
A (eventual) hipocrisia de uns não desculpa os crimes de outros.
Zé Gato: os crimes de sangue não prescrevem.
Ricardo, mas concordas pelo menos que o facto de o Bush ter escolhido um cidadão e determinado que ele tinha de ser preso... a lei devia, acho eu, ser igual para todos.
Justamente por a lei ser igual para todos, e os crimes de sangue não prescreverem, é que não me choca que Polanski dê com os costados na choldra.
mas drogar e violar brutalmente uma miúda de 13 anos já devia prescrever.
essa é boa.
Quer dizer então que o sujeito que, com 40 anos de idade, drogou e violentou analmente uma garotinha de 13 anos é agora um perseguido político? Polanski, da noite para o dia, se tornou um bastião da liberdade contra o puritanismo malvado norte-americano? Crimes de sangue não prescrevem. Também, a opinião da vítima pouco importa, já que não puní-lo é uma afronta não só à garota estuprada mas a todas as mulheres e à sociedade, um atestado de que, se você tem dinheiro e amigos poderosos pode violentar garotinhas e fugir para uma vida glamourosa em meio ao jet-set europeu e isto é inaceitável. Além disso - e MUITO importante - Polanski FUGIU. Problemas com o juiz? Tivesse apelado, Suprema Corte, sei lá o que mais, os EUA tem um sistema de justiça centenário e respeitável no qual Polanski certamente seria ouvido, mas este preferiu fugir e fazer de idiotas todo um país.
Que pague pelo crime que cometeu. Isto é de um simbolismo poderoso e importante, pois mostra que lá a justiça é igual para todos, dos negros traficantes de crack aos Polanskis e Madoffs brancos e criminosos.
Li algo que muito me agradou dia desses:
"The French revere Polanski because of his talent, which is undeniable, and therefore are willing to treat him differently than they would a common criminal. Judging by the voices across the Internet today, most people in the U.S. consider him a rapist who belongs behind bars. God Bless America."
"Os franceses reverenciam Polanski pelo seu talento, que é inegável, e por isso estão dispostos a tratá-lo de forma diferente à forma que tratariam um criminoso comum. Julgando pelas vozes na Internet hoje, a maioria das pessoas nos EUA o considera mesmo um estuprador que deve estar atrás das grades. Deus abençoe a América."
haha
Que, se oficialmente drogar e violentar uma garota de 13 anos não é um crime de sangue já que não houve morte, é uma monstruosidade tão semelhante que não há motivos para tratar de forma diferente.
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