Quando andava no Técnico fartei-me de experimentar grupos de pessoas e uma vez frequentei um curso na Gulbenkian com um título como 'ver a arte' ou coisa que o valha. Nesse curso lembro-me de o Eduardo Nery dar uma aula sobre o 'mau gosto' com uma sensatez enorme. A definição dele, que mais tarde li em muitos livros e artigos diferentes, era que 'mau gosto' queria dizer desadequado. Ou seja, uma coisa de mau gosto era uma coisa mal pensada, um macaquear de um modelo erudito mal compreendido, uma imitação barata.
Acho que muitos de nós já sofremos a experiência de vermos no teatro uma peça encenada por um encenador que não a percebeu: um exemplo típico de 'mau gosto'.
O pós-modernismo português foi isso mesmo: um macaquear de experiências eruditas de arquitectos com talento (na maior parte falhadas, até porque pretendiam basear-se num olhar erudito que parodiava, ironizava e reutilizava outras linguagens, portanto sempre muito próximo do mau gosto por definição).
Os pós-modernos portugueses eram confrangedores na simplicidade tonta com que imitavam os gurus da moda e deixaram-nos um sem número de edifícios sem pés nem cabeça, com pilares em frente das janelas, cantos esconços onde não se pode viver, fachadas horríveis, materiais e tintas baratas que o sol queimou imediatamente, torres, chaminés e janelas torcidas, mal colocadas, que não fecham, jardins que nos projectos eram verdejantes e alegres e depois de construídos nos lembram Beirut Oriental, normalmente com montes de lixo das obras onde ao fim de cinco ou seis anos começaram a crescer ervas. Um horror terceiro mundista, onde cada edifício gritava "olhem para mim!" e transformava a cidade e o país ainda mais num caos de mau gosto, triste, sujo e disfuncional.
Depois de um curto período em que encheu as capas das revistas, o pós-modernismo morreu. Há muitos anos. Passou de moda, ficou esquecido como um beco da história da arquitectura que não levou ninguém a lado nenhum.
Mas parece que se esqueceram de dizer isto ao arquitecto Troufa Real. E agora Belém vai ter uma igreja com um minarete e um barco e uma onda no telhado - referências um bocado óbvias, para não dizer boçais, ao sítio e ao tema. Porque não um pastel de Belém gigante (em cima do barco)?
Pour épater le bourgeois. Pessoalmente, preferia que ele tivesse metido um padre e um menino de coro, nus. Mau gosto por mau gosto, acho que era mais divertido...
Mas enfim, levamos com o barco e o minarete e a onda. Até aquilo cair, daqui a uns anos. Até lá é um mamarracho horrível cuja única função é ser fotografado por turistas chocados.
Mais um mamarracho, menos um mamarracho... Lisboa tem sido projectada por desenhadores da construção civil e por arquitectos da E.S.B.A.L. (entretanto elevada inexplicavelmente a Fac. Arquitectura, onde os arqueitectos da E.S.B.A.L. depois se 'doutoraram' uns aos outros). Vá o diabo e escolha.
Acima de tudo acho que este projecto é triste porque é triste ver uma pessoa sem talento a tentar fazer-se engraçada. Este 'enfant terrible raté' só conhece um tipo de traquinices: pinceladas de tinta.
Troufa, Taveira e Graça Dias são só isso: eternos rapazes traquinas com ambições artísticas. A tragédia deles é que para se ser artista não basta fazermo-nos artistas...
:o) estava a pensar reler isto e contar os francesismos... de mau gosto? provavelmente! mas agora não vou corrigir isto.
6 comentários :
parece-me injusto quer para com o Taveira quer para com o Graça Dias compará-los com o "arquitecto de referência". Mas lá está, são gostos. O que é certo é que algumas coisas do Taveira (como as Amoreiras) suportam bem o confronto com alguns mamarrachos cinzentos com envidraçados azul esverdeado varejeira que se fizeram posteriormente naquela massacrada região do globo.
Quanto ao Graça Dias, se excluirmos as tiradas aparvalhadas a defender a arquitectura clandestina dos cancros suburbanos e a vituperar os eléctricos, até tem feito algumas intervenções pessoalizadas mas não desprovidas de bom gosto e sofisticação que é uma boa alternativa à "contenção" tristinha dos seguidores do siza e restante manada de maneirismos afins, tipo byrne,carrilho da graça e por aí fora. Isto é, se o gajo se calasse e deixasse de armar ao teórico de arquitectura até se podia suportar.
:o) Concordo que o Troufa é pior que os outros. Mas o Graça Dias... as coisas dele de que me lembro eram o 'edifício golfinho' e o pavilhão de Portugal na expo'92. E aquela casa com uma janela triangular. Os imitadores do Siza são horríveis, mas os pos-modernos portugueses são muita maus!
a coisa mais simpática do Graça Dias de que me lembro (simpática porque não passou do papel) foi aquele projecto magnifico, "Manhattan em Lisboa" ou na Cova da Piedade, ou qualquer coisa, para os antigos estaleiros da Lisnave em Almada, um milhão de metros quadrados, auto-estradas em trevos delicados a passarem por cima do Tejo, torres manhattianas, provavelmente até já tinha contratado com a alqaeda rebentar com parte daquilo como parte de um plano grandioso para arrastar a modernidade a ferros até a esta pacatez. Como dizem os putos, mesmo à boss.
Boa, mas esquece-se que o IST também arranja arquitectos, além de algumas privadas.
Todos acham que vão fazer "a" obra de arte.
Aquela coisa é horrenda, mas como é da ICAR, vamos ter de aturar aquilo uma vez que as Câmaras só servem para chatear os cidadãos comuns.
A mãe de todas as más ideias era um muro em Sagres, que dividia a vista ao meio. Não me lembro quem era o autor.
Quanto à igreja do Restelo, aquilo não é só a ICAR, são também "as caravelas" e o imaginário infantil do Estado Novo. Dá vontade de vomitar. :o)
a mim, a igreja do restelo faz-me lembrar um gigantesco caracol com uma casinha às costas. e também me dá vontade de vomitar
Enviar um comentário