quinta-feira, 5 de outubro de 2006
Subscrever:
Enviar feedback
(
Atom
)
«entre le fort et le faible, entre le riche et le pauvre, entre le maître et le serviteur, c’est la liberté qui opprime, et la loi qui affranchit.»
(Lacordaire)
22 comentários :
Viva a Republica! Este ano vou contar outra vez aos meus filhos a historia da monarquia, da D. Maria II e dos jesuitas, da pena de morte por apostasia que vigorou em Portugal pelo menos ate 1850, das escolas em que se ensinava o modelo aristotelico do sistema solar, etc. E explicar-lhes que a liberdade, a paz, a justica social e o progresso (que e diferente de crescimento economico) sao sempre coisas conquistadas.
Viva a República! Foram realmente feitas grds conquistas neste dia, mas será que as conquistas do 5 de Outubro não se foram perdendo? Será o nosso estado verdadeiramente laico?
Quando tiver filhos, tb vou querer contar essa história, Filipe. E vou querer que eles saibam o q é justiça social. Pelo que tenho lido ultimamente, parece um conceito que vai sendo esquecido por muitos de nós...
Parabéns pela prosa.
Viva a República! Convém, de vez em quando, pode ser nos dias 5 de Outubro, recordarmos os passos de gigante que foram dados com a implementação da República e, com ela, da separação entre a Igreja e o Estado e da laicidade da Escola pública. Convinha que os nossos governantes relessem estes documentos!
Pois este apóstata que vos escreve leu, entre outros, "A República e o povo" (*) e ficou esclarecido.
Vae victis...
(*) foi tese de doutoramento de um senhor muito conhecido.
Referes-te a «O Poder e o Povo». O tal senhor muito conhecido, algo reacionário, reconhece que a República teve o apoio empenhado da maioria dos letrados urbanos.
Foi uma Revolução feita pelo povo em armas, e não pelo exército regular. Goste-se ou não, foi assim.
Nesta data não poderia deixar de lembrar um dos marcos mais importantes da história do nosso país. A abolição dos privilégios da nobreza e a efectiva igualdade de todos os homens e mulheres perante a lei. Sem dúvida um grande avanço progressista para este nosso Portugal.
Liberdade!Igualdade!Fraternidade!
Caro Filipe,
A pena de morte vigora em muitas republicas e monarquias no mundo inteiro, infelizmente. Pela minha parte, tanto se me da' que fulano a tal seja codenado por ateismo ou crime de sangue: e' uma disposicao legal barbara e congratulo-me que tenha sido por ca' abolida antes de o ser noutros paises.
A laicizacao do estado teve parto dificil mas a concepcao vem apos o triunfo dos constitucionalistas e quase 70 anos antes da republica: extincao das ordens religiosas e nacionalizacao dos bens da Igreja.
Dorean Paxorales,
antes de 1910 o culto não católico era privado. Isto não era laicidade nenhuma.
Ricardo Alves,
Antes de 1910 havia um regime parlamentar. Depois, nem por isso. Patati-patatá.
Vamos a vêr.
Podiamos passar aqui dias a trocar galhardetes a propósito de repúblicas e monarquias sem que um convencesse o outro.
Nem eu acho que isto seja questão que mereça qualquer prioridade. Mas chateiam-me as falácias, que fazer?
Tu acreditas na mitologia perpetuada por todas as repúblicas que se seguiram ao cinco de outubro. Compreendo. Todos os regimes posteriores lhe cantaram virtudes porque todos se apresentam como seus herdeiros naturais. É a única história da altura que temos propagandeada.
Eu acabo por ter uma visão menos dantesca da monarquia que o precedeu, talvez nunca me ter percebido, apesar do meu laicismo, qual foi o real benefício para o país da sua queda.
A mim, causa-me grande espanto que se gritem vivas à república como se antes dessa revolução o país vivesse espartilhado por um regime totalitário quando este foi sim aquele que se lhe seguiu, abolindo a liberdade política e perseguindo quem se lhe opunha, republicano ou monárquico. Que se julgue que o edifício da Assembleia da República tivesse brotado do chão na manhã de 6 de outubro (por acaso até era um convento antes da revolução liberal). Que se esqueça que a participação na guerra (e não a Paz, como alguém aqui escreveu) e o colonialismo foram os principais trunfos de implantação do novo regime.
Agora não tenho tempo para mais. Mas acho que ficou clara a minha posição. Se não, é só dizer.
"orean paxorales disse...
A laicizacao do estado teve parto dificil mas a concepcao vem apos o triunfo dos constitucionalistas e quase 70 anos antes da republica: extincao das ordens religiosas e nacionalizacao dos bens da Igreja. "
E adivinha quem esteve na vanguarda da Revolução de 1820? Um rei progressista que por acaso abraçava as ideias iluministas. Investiga também sobre a que organização pertencia e onde desenpenhou o mais alto dos cargos...
Dorean,
a visão mais ruidosa da República (e talvez a maioritária) não é aquela que mencionas: é a visão salazarista, apoiada no livro do tal senhor (lido à pressa...). É essa que apresentas: um «regime totalitário»(!). Oh, sim. Totalitário com três facções, só contando as saídas do PRP. Tão repressor da sociedade civil que anarquistas e socialistas organizaram secções, sindicatos, bibliotecas populares. Tão mauzinho para as liberdades que até o Salazar foi eleito deputado (o tal não deixou o Afonso Costa voltar ao país).
O «colonialismo» da República não me impressiona. Não houve um único Estado europeu que descolonizasse antes de 1945. Haveria a República de ser original? E aliás, esqueces que foi a República que impediu que os franceses e os alemães se entendessem à custa das nossas colónias.
Também estou cansado.
Infelizmente, este sistema de educação, está produzindo gente ignorante...gente que não sabe o que se comemora em 5 de Outubro.
Portugal no seu melhor.
O tal acordo das colónias era com os ingleses, não com os franceses; e o colonialismo impressiona-me pois vem dos sectores mais reaccionários e menos humanistas do PRP. Adiante e cuidado que isto saiu grande.
Vamos à biblioteca dos leitores incultos e rápidos. Tenho o cuidado de não citar nada que defenda a monarquia ou que tenha origem na pena de fascistas (e.g., VPV ou Hermano Saraiva).
Segundo a wikipédia, Afonso Costa tentou fazer do PRP o partido único da República. Não admira que outros menos ‘democráticos' tenham preferido constituir os seus próprios partidos. Os jornais que se lhe opõem ou são fechados ou são calados.
No consulado de ‘Mata-frades’ a liberdade religiosa da lei torna-se difícil e perigosa de pôr em prática.
A entrada cita o também conhecido reaccionário Fernando Rosas quando este chama a esse regime de liberdade "a ditadura do partido 'democrático'".
O dr. Afonso Costa é também o mesmo que, em 1912, retira o direito de voto aos chefes de família analfabetos quando 80% da população ainda o era. O sufrágio universal deixa de existir em Portugal ao contrário de países como a Alemanha, Itália, Áustria, Montenegro, Suécia e Suiça. O número de eleitores é agora igual ao existente no tempo da monarquia.
Como exemplo da bonomia sindicalista do regime, em 31 de Janeiro de 1912, forças militares e da carbonária tomam de assalto a União dos Sindicatos. Os presos são enviados para bordo da fragata D. Fernando e do transporte Pêro d'Alenquer e deportados. Os grevistas alcunham Afonso Costa de 'racha-sindicalistas'.
Do talassa www.presidencia.pt vem que Manuel de Arriaga, eleito presidente por colégio em 1911 e deposto ‘democraticamente’ por golpe militar em 1915, havia em 1892 discursado como deputado no parlamento de acerca da "descaracterização da Nacionalidade Portuguesa no regime monárquico", em 1892.' Não conheço o texto mas adivinho-o edificante para as gerações que hoje em dia celebram o humanismo republicano d’antanho.
Pelo meio, depôs o governo do camarada anterior sem consultar o Congresso (senado e deputados) e proibiu os deputados desse partido de entrarem no parlamento. Deu entrada à ditadura de Pimenta de Castro.
A 14 de Maio de 1915 o descontentamento das hostes leva, com toda a legitimidade democrática, alguns barcos de guerra a bombardear Lisboa. Os combates são violentos e os mortos às centenas. O General Pimenta de Castro é preso e substituído por Teófilo Braga.
Quando volta ao poder, Afonso Costa decreta a censura para todas as publicações.
Sigamos para bingo. De Sidónio Pais, outro grande democrata, todos conhecem um pouco. Na biografia de Machado Santos, esse grande reaccionário (o tal herói de uma Rotunda defendida por 400 contra 4000 tropas legalistas - onde estariam os 40 mil carbonários de que falava aqui Gil Gonzaga, não sei), encontra-se a lavrada a seguinte passagem do seu protesto contra Sidónio, na sessão de abertura do Senado, em 3 de Dezembro de 1918:
«...Factos revoltantes como este posso citá-los aos centos e invocar o testemunho dos dez mil e tantos presos políticos que se encontram nas cadeias, com a seguinte nota de culpa: «preso às tantas horas do dia tal pelo agente fulano»...
Mas… 'presos políticos'? Na livre primeira república das justiças sociais?? Calúnias!
Entre 1919 e 23, a fome grassa no país, fecham cinco bancos e as greves e as bombas eclodem diariamente sem que deixem de ter resposta adequadamente musculada. Entre Julho e Setembro de 1919, os ataques dos anarquistas aos comboios e subsequentes descarrilamentos são tantos que o Governo para acabar com a crista coloca um vagão cheio de grevistas à frente da máquina. Sem grandes resultados.
Em 1925, ocupa outra vez a Presidência da República Bernardino Machado e a Liga dos Direitos do Homem protesta contra as deportações sem julgamento.
A ‘segunda’ república faz a sua primeira aparição com o golpe de Costa Gomes mas só se solidifica com o convite feito por todos os partidos a Carmona para que este governe em ditadura. Estavam criadas as condições para o nascimento do Estado Novo.
Por último, uma pergunta de algibeira: qual o político da republicano acima mencionado que trouxe pela primeira vez a eleição presidencial por sufrágio livre, directo e universal e quando é que esta teve lugar?
Pista: houve quem o alcunhasse de ‘rei’ mas também acabou em ditador assassinado.
Nunca disse que estiverem 40000 carbonários na rotunda. Apenas que a carbonária no seu expoente máximo contava com este número de homens nas suas fileiras por todo o país. Muitos deves eram chefes de família, mais ou menos instruídos, e que tinham filhos para sustentar enquanto o Rei e companhia esbanjavam à grande num país onde a miséria era muita...
Caro Gil,
Não pretendi desmentir ninguém nesse pormenor. O que eu quis dizer foi que, existindo os tais 40 mil 'irmãos', ou lá como eles se chamavam uns aos outros, é estranho que só 400 tenham dado o corpo ao manifesto na defesa daquele tão crucial ponto estratégico.
Peço desculpa pela confusão, se o que escrevi dá a isso azo.
dorean paxorales,
Os Carbonários tratavam-se por 'primos', 'irmãos' é noutra 'porta' =P
Não te posso dizer onde andavam os outros 39600, mas muitos deles certamente que asseguravam outros pontos estratégicos, algins deles dentro das forças armadas um pouco por todo o país. Outros davam suporte logistico através dos seus negócios e lojas, outros eram estudantes ou operários que aguentavam as células nos polos industriais das maiores cidades...
Dorean Paxorales,
em primeiro lugar, evita citar a wikipédia. Para matérias históricas, não é brilhante... ;)
Em segundo lugar, a troca de franceses por ingleses mostra que o meu cansaço nesse comentário não era simulado. ;)
É assim como tu chamares Costa Gomes ao Gomes da Costa, como fazes a seguir... ;)
Mas passando à substância...
1) Quanto à Carbonária e ao terrorismo, há que distinguir a Carbonária Lusitana da Carbonária Portuguesa, a primeira é a dos anarquistas (mais dados ao bombismo) e a segunda é a organização liderada por Luz de Almeida (e, depois de exilado este, por Machado Santos e António Maria da Silva). Foi a Carbonária Lusitana que fez o 5 de Outubro, mas honestamente duvido que ainda fossem 40 000 em 1910, porque houvera muitas prisões e exílios nos anos anteriores.
Mas a ideia de que o 5 de Outubro se resumiu ao grupo que se barricou na Rotunda é falsa; houve movimentações em várias zonas do país, e mesmo em Lisboa fora da Rotunda. E havia os grupos de apoio, como disse o Gil Gonzaga.
2) Quanto ao facto de a República não ter sabido/querido assegurar o apoio dos sectores operários, estou essencialmente de acordo. Mas não atribuas as desordens pós-1919 a qualquer tendência congénita da República: desafio-te a mencionares um único Estado europeu em que não se tenham verificado fomes, greves insurrecionais e levantamentos armados no pós-1919. A queda da República em 1926 não é muito diferente do que aconteceu em Itália, aliás.
3) Antes que venhas dizer que a entrada na guerra foi mais um disparate do Afonso Costa, vai conferir que a tua querida monarquia tinha hipotecado Angola, Moçambique e Timor à Inglaterra, talvez para pagar o fausto do sr. Carlos que era rei e que passava o tempo a pedir adiantamentos. E em 1998 a nossa sempre fiel aliada Inglaterra vendeu as hipotecas à Alemanha, o que significava que se não entrássemos na guerra, o entendimento entre hunos e bifes seria feito à custa das colónias.
Ah, e agradeço que me indiques um Estado europeu que tenha descolonizado antes de 1945.
Acho que nem sequer encontras muitas personalidades de «esquerda» (seja lá isso o que for) que defendessem descolonizações em 1910. Talvez um outro anarquista, quando muito.
4) Finalmente, e quanto à «liberdade religiosa», quero saber a tua opinião sobre estes dois linques:
http://www.geocities.com/republaicidade/Historicos/Protestantes.html
http://esquerda-republicana.blogspot.com/2005/09/desfazendo-os-mitos-sobre-repblica-2.html
E sobre as dificuldades do sufrágio universal:
http://esquerda-republicana.blogspot.com/2005/09/desfazendo-os-mitos-sobre-repblica-3.html
E sobre o «pacifismo» e a «inocência» dos sacerdotes católicos:
http://esquerda-republicana.blogspot.com/2005/09/desfazendo-os-mitos-sobre-repblica-1.html
Ricardo Alves,
De facto que o número de carbonários não seria esse. Até porque as tentativas anteriores de implantar a república levaram a que muitos tivessem sido presos e deportados. E estou em crer que muitos deles abandonaram a Carbonária por terem dificuldade em compreender o que realmente se passava, como aconteceu durante a organização do PC anos mais tarde, isto porque não conheciam os seus chefes...
Mas que ainda eram uns largos milhares disso não há dúvida...
Enviar um comentário