segunda-feira, 7 de novembro de 2005

Os motins na França

Não escrevi ainda, aqui no blogue, uma linha que seja sobre os motins que se registam há onze noites nos subúrbios de Paris. Porquê? Porque a situação me parece ainda pouco clara. Tenho, apesar disso, perdido tempo (é o termo correcto) lendo os blogues da nossa direita, onde este parece ter sido considerado um mero pretexto para bater no francês, no «estado social», na «esquerda», no «multiculturalismo», no «politicamente correcto» e etc. Esforços honestos para propor soluções ou sequer para tentar compreender o que se passa, é algo que não tenho visto .
Pela minha parte, após uma vista de olhos rápida pelos comunicados dos partidos e das associações da esquerda republicana francesa, realço os pontos seguintes:
  1. Há uma condenação clara da violência;
  2. Acusa-se Sarkozy de ter substituído o policiamento de proximidade pelos esquadrões de intervenção rápida, o que foi feito, aliás, por razões economicistas (ler o que diz Chevénement, ex-Ministro do Interior);
  3. Critica-se Sarkozy pelos seus deslizes verbais (o já famoso uso do delicado termo «escumalha», mas também a rapidez em acusar os jovens eletrocutados de serem «ladrões», quando não está provado que o fossem);
  4. Acusa-se ainda o Governo de ter feito cortes nos programas de emprego jovem e de apoio às associações culturais e de mediação (ver no PSF, por exemplo), ao mesmo tempo que se têm reforçado os apoios governamentais às associações islâmicas (o que permite à Gauche Républicaine tirar as conclusões que se lêem no artigo anterior);
  5. O SOS Racisme sublinha a ausência de medidas que penalizem as empresas que fazem discriminação racial no recrutamento, e recorda que os maiores prejudicados por estes motins são os habitantes dos subúrbios.

Apesar de tudo, parece-me importante sublinhar que não se trata de motins inter-étnicos como acontecem regularmente nos EUA, no Reino Unido, ou como aconteceram, em menor medida, na Holanda após a morte de Theo Van Gogh. A violência parece estar a ser dirigida preferencialmente contra a polícia e contra a propriedade, não contra as pessoas. E mesmo assim, já é o surto de violência urbana mais impressionante deste século, na Europa...

(O meu esforço para compreender os vários sentidos em que se usa a palavra «multiculturalismo» pode ser lido em «Multiculturalismo(s): identidade cultural é opressão individual».)

3 comentários :

Geosapiens disse...

...uma boa análise...não faria melhor...um abraço...

Roberto Iza Valdés disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Roberto Iza Valdés disse...
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