Recordo-me de ter usado pela primeira vez a internete na Primavera de 1995. Portanto, já passaram mais de dez anos. Dez anos da minha vida e dez anos para este media.
Comecei utilizando um programa de correio electrónico chamado PINE (que ainda hoje considero do melhor que há), e nos primeiros meses lia (lia apenas) os fóruns de discussão, vulgo niusgrupes. Nessa época, o que me prendeu imediatamente foi a possibilidade de acompanhar as discussões, mesmo que bizantinas (sobretudo se bizantinas), que por aí se geravam entre pessoas sentadas em frente de ecrãs geograficamente muito distantes. Lembro-me do fascínio que me causaram as polémicas num niusgrupe da Europa de leste (seria o soc.culture.hungary? Ou o soc.culture.romania?) entre participantes que tinham visões das respectivas narrativas nacionais altamente divergentes. As potencialidades da internete, à época, foram instantaneamente óbvias: aceder a informação obscura e recôndita com facilidade, e encontrar, transnacionalmente, pessoas com os mesmos interesses temáticos. Além disso, podia manter (ou até estabelecer) contactos com pessoas das quais, de outra forma, pouco ou nada saberia.
Numa segunda fase, que correspondeu à utilização desse grande marcador geracional que foi o Netscape, descobri que qualquer um podia colocar informação permanente na rede (bastava saber uns rudimentos de html) e que podia ler todos os jornais do mundo (se tivesse tempo). Foi nessa época que comecei a interessar-me pela formação de grupos com interesses específicos (o que acontecia, por exemplo, através das listas de distribuição) e pela disseminação de informações e de pontos de vista que de outra forma não seriam divulgados. A grande vantagem da inter-rede, no fundo, era possibilitar a comunicação (sem filtros) entre aqueles que de outra forma estariam reduzidos à condição de espectadores passivos dos media tradicionais. Bastava uma linha telefónica e um computador.
Foi pelo final dos anos 90 que as instituições estatais se instalaram, muito rapidamente, na internete. E com elas os seus endereços de http. As hierarquias que se tinham mantido de fora desse interessantíssimo caos primevo, começaram a trasladar-se. O cidadão modemizado que desejava participar na conversa global continuava a ter o imeile, o niusgrupe e (nalguns casos), os saites. Foi então que, no final do século, chegaram os uéblogues...
1 comentário :
Ual, e o meu amigo agora escreve a história da internet, a partir do depoimento pessoal. Muito bem, Ricardo. Com um abraço!
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