A primeira vez que me deparei com um weblog foi, creio eu, na Primavera de 2000. Assumo que não me apercebi imediatamente das potencialidades do formato: pareceu-me uma ferramenta de edição de páginas para preguiçosos, que provavelmente só seria útil como quadro de avisos ou algo semelhante. Subestimei, como é evidente, a vertigem da actualização diária (que é, no fundo, uma forma de fazer ou obter companhia), como subestimei a atracção contemporânea pelo efémero: poucos preferem escrever um ensaio longo por mês e colocá-lo num arquivo da web quando podem escrever bitaites de um parágrafo todos os dias. E do outro lado da interacção entre emissor e receptor, a maior parte dos usuários da inter-rede têm cinco minutos de quebra no trabalho que dedicam a olhar distraidamente para um blogue; os livros lêem-nos em casa.
Fui descobrindo progressivamente o fenómeno bloguístico ao longo do ano de 2003. No entanto, não lhe dei grande importância (nomeadamente, como comentador) até iniciar a minha colaboração num blogue (o Diário Ateísta) em Março/Maio de 2004. Posteriormente, criei o meu próprio blogue (o Esquerda Republicana) em Março de 2005.
As razões para a minha relutância em aderir rapidamente à (assim chamada) blogosfera prenderam-se principalmente com o seu hierarquismo ostensivo e com a sua hiper-mediatização nos media tradicionais (que me fez supôr, aliás correctamente, que este media já estaria «infiltrado» por alguns dos mesmos jornalistas e assessores de políticos que dominam os media, e que o usa(va)m como laboratório de teste ou como depósito de refugo). Estes dois pontos merecem ser melhor explicados.
Os formatos condicionam inevitavelmente as formas de funcionamento, como é sabido. Até então, eu participara na internete num formato de debate deliciosamente igualitário (não há que ter medo da palavra) e facilmente alternativo (no sentido de ser fácil impôr a discussão de temas ausentes dos media tradicionais): os niusgrupes. Aí, qualquer afirmação e qualquer resposta tinham o mesmo destaque e presumivelmente eram lidas, em média, pelo mesmo número de pessoas. (Pormenor importante: era impossível saber quantas pessoas estavam a ler o fórum sem participar.) Qualquer argumento apresentado que não passasse pelo crivo (factual e opinativo) das respostas e contra-respostas ficava refutado. O modo de funcionamento desses fóruns acabava assim por sancionar quem apresentava argumentos de autoridade (ou mal fundamentados) e também (a bem da confiança nos debates) os anónimos (que muitas vezes eram totalmente ignorados). Claro que o «lado de baixo» da igualdade de armas era o ambiente de quezília persistente e a violência argumentativa que fazia com que muitos recém-chegados não aguentassem mais do que um mês. As vantagens, para mim, eram duas: aperfeiçoar argumentos e debater temas que os media tradicionais desprezam.
Nos niusgrupes, não havia espaço para «personalidades», pois eram rapidamente descidas do seu pedestal e tratadas de igual para igual. Por isso, os políticos e escritores que agora têm o seu bloguezito muito conhecido e citado seriam incapazes de os frequentar. Mais importante, os maus argumentos eram destroçados rapidamente, ou contornados por uma discussão sobre outro tópico... Os blogues pareceram-me, inicialmente, uma traição a este espírito saudável e exigente.
Os formatos condicionam inevitavelmente as formas de funcionamento, como é sabido. Até então, eu participara na internete num formato de debate deliciosamente igualitário (não há que ter medo da palavra) e facilmente alternativo (no sentido de ser fácil impôr a discussão de temas ausentes dos media tradicionais): os niusgrupes. Aí, qualquer afirmação e qualquer resposta tinham o mesmo destaque e presumivelmente eram lidas, em média, pelo mesmo número de pessoas. (Pormenor importante: era impossível saber quantas pessoas estavam a ler o fórum sem participar.) Qualquer argumento apresentado que não passasse pelo crivo (factual e opinativo) das respostas e contra-respostas ficava refutado. O modo de funcionamento desses fóruns acabava assim por sancionar quem apresentava argumentos de autoridade (ou mal fundamentados) e também (a bem da confiança nos debates) os anónimos (que muitas vezes eram totalmente ignorados). Claro que o «lado de baixo» da igualdade de armas era o ambiente de quezília persistente e a violência argumentativa que fazia com que muitos recém-chegados não aguentassem mais do que um mês. As vantagens, para mim, eram duas: aperfeiçoar argumentos e debater temas que os media tradicionais desprezam.
Nos niusgrupes, não havia espaço para «personalidades», pois eram rapidamente descidas do seu pedestal e tratadas de igual para igual. Por isso, os políticos e escritores que agora têm o seu bloguezito muito conhecido e citado seriam incapazes de os frequentar. Mais importante, os maus argumentos eram destroçados rapidamente, ou contornados por uma discussão sobre outro tópico... Os blogues pareceram-me, inicialmente, uma traição a este espírito saudável e exigente.
1 comentário :
"Como subestimei a atracção contemporânea pelo efémero" Será assim tão contemporânea a atracção por aquilo que pode desaparecer? Não seria a arte, Ricardo, em lato sensu, um exercício de fixação do efémero nalgum suporte? De qualquer maneira não era sobre isso que queria falar, mas sobre essa sequência, essa história da internete que vens contando, está óptima! Abraços
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