sexta-feira, 25 de novembro de 2005

Avançaram-se mais uns centímetros? Ou é só mais uma tese?

«Quem é que deu a ordem de sublevação aos pára-quedistas?
Foi a estrutura militar do PCP, que queria alterar a correlação de forças dentro da Força Aérea, forçando a nomeação de um novo chefe do Estado-Maior (CEMFA) e substituindo Morais e Silva por Costa Martins. O projecto não passava por nenhum golpe de Estado, já que eles sabiam não ter condições para isso. Na minha opinião, a ideia de que o PCP tentou tomar o poder a 25 de Novembro é um mito. O que eles queriam era mudar a correlação de forças na Força Aérea. E chegaram a chamar Rangel de Lima para ser CEMFA.
(...)
Ordem que partiu do PCP ou do SDCI?
Do que sei, a ordem partiu de Pereira Pinto e Ramiro Correia, que estavam no SDCI.
E que fez o PCP para os apoiar?
Quando viu a mobilização do adversário, percebeu que ia perder. Foi mais ou menos nessa altura, a meio da noite do dia 25, que o PCP optou por falar directamente com Costa Gomes, tentando evitar a sua ilegalização. E Costa Gomes pediu-lhes, em troca, que o PCP retirasse os civis que rodeavam as bases militares e os depósitos de armamento, o que os comunistas fizeram.
É isso que explica que Rosa Coutinho e Martins Guerreiro tenham ajudado a travar a saída dos fuzileiros?
Sim.
Mas também houve quem estivesse na Rua Castilho e se tenha transferido para o Copcon. Dá a sensação de que havia duas dinâmicas a do PCP, que negoceia, e a de alguns militares gonçalvistas que forçam os acontecimentos...
Havia pessoas que pensavam que o poder estava ao seu alcance e outras que temiam pelo futuro, se se entregassem assim, sem mais nem menos. Por isso, existiram várias dinâmicas. Mas Varela Gomes, por exemplo, aludiu sempre às dificuldades que existiam na Rua Castilho, onde foi montado um posto de comando à pressa e onde não existiam facilidades de comunicação.
Não é por isso que se mudam para o Copcon, onde existia uma estrutura?
Mas o facto de não terem um posto de comando é o que revela que o objectivo deles não era tomar o poder. Como não tinham mais nada, tentaram encostar-se ao Otelo, esperando que ele os apoiasse. Mas, para mim, a questão fundamental é a do posto de comando. Sem um comando operacional não se pode fazer nada. Isso é básico.
O Grupo dos Nove tinha um...
Tinha um posto de comando e tinham planos e missões atribuídas. Ao contrário dos gonçalvistas. Mas a dinâmica também não lhes era favorável. Nem no que respeita à Europa, nem dentro das forças armadas. É isso que os leva a actuar: recuperar a influência perdida entre militares.
Mas há ou não uma Esquerda Militar mais próxima do PCP e outra menos, que se movem em sentidos diferentes na noite de 25 para 26 de Novembro?
As pessoas que vão da Rua Castilho para o Copcon são só as pessoas que o PCP desejava já que não atrapalhassem mais. Até porque, nessa altura, já não havia nada para fazer no Copcon. Basta ver o que aconteceu com Varela Gomes. Falou para o Alfeite, convenceu um antigo camarada da Academia, mas depois apareceu o Rosa Coutinho e acabou com tudo. Tentou falar para a Marinha, mas sempre que o fazia atendia o Martins Guerreiro, que lhe desligava o telefone. Portanto...»

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