Em conversa, um amigo pessoal fez um comentário interessante ao meu texto anterior.
Neste texto eu parti do princípio que alguém quer provocar um atentado terrorista, e reconheço que um aparato de vigilância e repressão muito desenvolvido poderá hipoteticamente diminuir a probabilidade do atentado ser bem sucedido.
Como a circunstância de partida é extremamente rara, e como um tal aparato de vigilância e repressão constitui um perigo muito real para a Liberdade e para a Democracia, eu afirmei preferir ser vulnerável ao terrorismo. Tenho menos medo deste hipotético atentado, do que um Governo com capacidade para saber tanto sobre todos nós que garante o respectivo falhanço.
Mas o princípio de partida não é o mais acertado. Ele esquece a forma mais eficaz de combater o terrorismo: evitar que exista disposição para levar a cabo atentados em primeiro lugar. Disposição essa que tende a ser mais forte precisamente onde existe maior desrespeito pelos direitos civis.
Nesse sentido, o aparato de vigilância e repressão, até pelos recursos que exige e pela dinâmica político-social que provoca, é mais do que um dispositivo que nos oferece um infinitésimo de segurança em troca de sérios riscos quanto à nossa liberdade, e a certeza da devassidão da nossa privacidade. Ele é efectivamente contra-producente. Torna-nos mais vulneráveis ao terrorismo.
Aparentam proteger-nos, pois dado que existe alguém motivado para realizar um atentado, a probabilidade desse alguém ser bem sucedido torna-se menor (reitero que ainda não é o caso). Mas, ao aumentarem a probabilidade de existir alguém com este tipo de motivação, aumentam a dimensão da ameaça terrorista.
Assim, para rejeitar este tipo de aparato, não tenho de sacrificar um infinitésimo que seja da minha segurança pessoal (o que faria de bom grado).
Aquilo que devo fazer para proteger a minha privacidade, a Democracia e a Liberdade colectivas, é precisamente o mesmo que devo fazer para aumentar a segurança face à ameaça terrorista: rejeitar o caríssimo aparato de vigilância e repressão que se tem vindo a construir na última década.
[Editado para introduzir algumas informações trazidas pelo Miguel Madeira nos comentários]
Neste texto eu parti do princípio que alguém quer provocar um atentado terrorista, e reconheço que um aparato de vigilância e repressão muito desenvolvido poderá hipoteticamente diminuir a probabilidade do atentado ser bem sucedido.
Como a circunstância de partida é extremamente rara, e como um tal aparato de vigilância e repressão constitui um perigo muito real para a Liberdade e para a Democracia, eu afirmei preferir ser vulnerável ao terrorismo. Tenho menos medo deste hipotético atentado, do que um Governo com capacidade para saber tanto sobre todos nós que garante o respectivo falhanço.
Mas o princípio de partida não é o mais acertado. Ele esquece a forma mais eficaz de combater o terrorismo: evitar que exista disposição para levar a cabo atentados em primeiro lugar. Disposição essa que tende a ser mais forte precisamente onde existe maior desrespeito pelos direitos civis.
Nesse sentido, o aparato de vigilância e repressão, até pelos recursos que exige e pela dinâmica político-social que provoca, é mais do que um dispositivo que nos oferece um infinitésimo de segurança em troca de sérios riscos quanto à nossa liberdade, e a certeza da devassidão da nossa privacidade. Ele é efectivamente contra-producente. Torna-nos mais vulneráveis ao terrorismo.
Aparentam proteger-nos, pois dado que existe alguém motivado para realizar um atentado, a probabilidade desse alguém ser bem sucedido torna-se menor (reitero que ainda não é o caso). Mas, ao aumentarem a probabilidade de existir alguém com este tipo de motivação, aumentam a dimensão da ameaça terrorista.
Assim, para rejeitar este tipo de aparato, não tenho de sacrificar um infinitésimo que seja da minha segurança pessoal (o que faria de bom grado).
Aquilo que devo fazer para proteger a minha privacidade, a Democracia e a Liberdade colectivas, é precisamente o mesmo que devo fazer para aumentar a segurança face à ameaça terrorista: rejeitar o caríssimo aparato de vigilância e repressão que se tem vindo a construir na última década.
[Editado para introduzir algumas informações trazidas pelo Miguel Madeira nos comentários]
4 comentários :
O João Vasco é capaz de estar ainda mais certo do que julga.
Segundo alguns estudos, parece que isto (" criar sociedades com um nível de equidade, mobilidade social e prosperidade partilhada tais que a probabilidade de alguém ter vontade de levar a cabo um atentado é, logo à priori, muito mais reduzida ") é falso - o terrorismo terá pouco a ver com condições económicos, e será mais motivado por ausência de liberdades civis (um artigo[pdf] expondo essa tese); mas assim, se o mecanismo indirecto que o João apresenta para a restrição às liberdades criar vulnerabilidade ao terrorismo talvez não funcione, em compensação temos um mecanismo directíssimo para o mesmo efeito.
Um possivel teste (além dos exemplos de monarquias do golfo pérsico que o texto que linko dá) - imaginemos um dos países mais ricos da Europa, com mobilidade social razoável, com leis proibindo partidos "extremistas" (e frequentemente aplicadas), com uma cultura geral de ordem e autoridade, e que tenha reagido aos protestos estudantis dos anos 60 reforçando os poderes policiais; pela teoria da pobreza, uma país assim tenderia a ser dos mais pacíficos; pela teoria das liberdades cívis, seria provávelque um país com essas características tivesse assistido a uma das mais drámaticas e sangrentas campanhas terroristas na Europa nas últimas décadas. Agora é procurar países com esse perfil e ver o padrão dominante...
«Segundo alguns estudos, parece que isto (" criar sociedades com um nível de equidade, mobilidade social e prosperidade partilhada tais que a probabilidade de alguém ter vontade de levar a cabo um atentado é, logo à priori, muito mais reduzida ") é falso»
Idealmente eu teria escrito que existe existe um vivo debate sobre essa questão, não quer dizer que quem acredite que essa ligação não existe tenha tido a última palavra.
Mas muito obrigado por falar sobre essa ligação mais directa. Teria escrito um texto diferente se já a conhecesse. Como diz, isso reforça ainda mais a ideia principal, e não deixa de ser um fenómeno interessante.
Aliás, vou editar o texto para introduzir essa informação.
Para quem quiser, aqui fica o texto original:
«Em conversa, um amigo pessoal fez um comentário interessante ao meu texto anterior.
Neste texto eu parti do princípio que alguém quer provocar um atentado terrorista, e reconheço que um aparato de vigilância e repressão muito desenvolvido poderá hipoteticamente diminuir a probabilidade do atentado ser bem sucedido.
Como a circunstância de partida é extremamente rara, e como um tal aparato de vigilância e repressão constitui um perigo muito real para a Liberdade e para a Democracia, eu afirmei preferir ser vulnerável ao terrorismo. Tenho menos medo deste hipotético atentado, do que um Governo com capacidade para saber tanto sobre todos nós que garante o respectivo falhanço.
Mas o princípio de partida não é o mais acertado. Ele esquece a forma mais eficaz de combater o terrorismo: criar sociedades com um nível de equidade, mobilidade social e prosperidade partilhada tais que a probabilidade de alguém ter vontade de levar a cabo um atentado é, logo à priori, muito mais reduzida (e vice-versa).
Nesse sentido, o aparato de vigilância e repressão, até pelos recursos que exige e pela dinâmica político-social que provoca, é mais do que um dispositivo que nos oferece um infinitésimo de segurança em troca de sérios riscos quanto à nossa liberdade, e a certeza da devassidão da nossa privacidade. São efectivamente contra-producentes. Tornam-nos mais vulneráveis ao terrorismo.
Aparentam proteger-nos, pois dado que existe alguém motivado para realizar um atentado, a probabilidade desse alguém ser bem sucedido torna-se menor (reitero que ainda não é o caso). Mas, ao aumentarem a probabilidade de existir alguém com este tipo de motivação, aumentam a dimensão da ameaça terrorista.
Assim, para rejeitar este tipo de aparato, não tenho de sacrificar um infinitésimo que seja da minha segurança pessoal (o que faria de bom grado).
Aquilo que devo fazer para proteger a minha privacidade, a Democracia e a Liberdade colectivas, é precisamente o mesmo que devo fazer para aumentar a segurança face à ameaça terrorista: rejeitar o caríssimo aparato de vigilância e repressão que se tem vindo a construir na última década.»
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