Muita coisa poderia dizer-se sobre este assunto. É verdade que os portugueses encaram os diplomas universitários como mecanismo de ascensão social, mais do que uma garantia de competências (por isso somos o país dos "doutores"). É verdade que se espera que um curso superior resolva uma vida toda e garanta automaticamente um emprego bem pago (muitos alunos das escolas de gestão acham que, ao acabarem o curso, serão automaticamente "gestores"). É verdade que isso leva a que se tenha como objetivo o "canudo", mais do que conhecimentos e competências. É verdade que, infelizmente, muitos dos alunos do ensino superior não sabem o que lá andam a fazer, algo que está diretamente relacionado com o fenómeno das "praxes". É verdade que os portugueses, por terem educação superior, acham que estão naturalmente dispensados de cumprirem tarefas manuais, que encaram como "inferiores": os portugueses aspiram todos a ter empregada doméstica, e compram mobílias no IKEA mas mandam-nas montar. (Ah, o respeito que a senhora Merkel me mereceria se tivesse afirmado que, em Portugal, há excesso de empregadas domésticas, algo que é bem verdade comparado com a realidade alemã!)
Tudo o que escrevi pode ser defendido (e creio que é verdade). Representa uma perspetiva parcial do "lado negro" do ensino superior em Portugal, que não é a história toda: também há muitos excelentes e motivados alunos e professores. Mas mesmo admitindo somente esta perspetiva "negra" que aqui tracei: nada, absolutamente nada nela permite concluir que há excesso de licenciados em Portugal. Além disso, para admitir esta perspetiva é preciso conhecer bem a realidade portuguesa, algo que no caso de Angela Merkel não corresponde de todo à realidade. Os problemas que referi resultam das desigualdades que ainda são muito maiores em Portugal que em outros países, e a educação deve ser um meio privilegiado de combater essas desigualdades. Defender que há excesso de licenciados é uma opinião de que discordo, mas é legítima (é um juízo de valor e não de facto). Independentemente das taxas de licenciados por habitante (discuto valores e não números), quem defende tal opinião em qualquer circunstância não acredita no valor da educação, e julga que tem sempre que haver uma classe de serviçais para satisfazer as suas necessidades. No caso da chanceler alemã, e em relação a Portugal e Espanha, receio que seja não uma classe mas um povo de serviçais.
Tudo o que escrevi pode ser defendido (e creio que é verdade). Representa uma perspetiva parcial do "lado negro" do ensino superior em Portugal, que não é a história toda: também há muitos excelentes e motivados alunos e professores. Mas mesmo admitindo somente esta perspetiva "negra" que aqui tracei: nada, absolutamente nada nela permite concluir que há excesso de licenciados em Portugal. Além disso, para admitir esta perspetiva é preciso conhecer bem a realidade portuguesa, algo que no caso de Angela Merkel não corresponde de todo à realidade. Os problemas que referi resultam das desigualdades que ainda são muito maiores em Portugal que em outros países, e a educação deve ser um meio privilegiado de combater essas desigualdades. Defender que há excesso de licenciados é uma opinião de que discordo, mas é legítima (é um juízo de valor e não de facto). Independentemente das taxas de licenciados por habitante (discuto valores e não números), quem defende tal opinião em qualquer circunstância não acredita no valor da educação, e julga que tem sempre que haver uma classe de serviçais para satisfazer as suas necessidades. No caso da chanceler alemã, e em relação a Portugal e Espanha, receio que seja não uma classe mas um povo de serviçais.
Sem comentários :
Enviar um comentário