Primeira asneira
«Para jovens com menos de 30 anos ou para quem procura o primeiro emprego, os contratos deviam ser "mais flexíveis"». Deviam?
Será que elevado desemprego jovem é devido ao facto do mercado laboral em Portugal ser particularmente rígido, em particular o mercado associado à mão de obra jovem? O que acontece é que o contrário é verdade: «Portugal tem um dos mercados de emprego mais flexíveis da UE», flexibilidade essa que está concentrada nos segmentos associados à população mais jovem.
Segunda asneira
«Palavra de quem faz do empreendedorismo – um dos pilares do programa – um dos temas de trabalho preferidos na Assembleia da República.» É o que faz falta em Portugal - mais empreendedorismo, certo?
Só que não. Trata-se de propaganda importada da direita norte-americana, com pouca aplicação à realidade nacional. Nenhum indicador mostra que existe falta de empreendedorismo em Portugal, mas existem vários indicadores que dão indícios em sentido contrário, desde a estrutura empresarial portuguesa demasiado fragmentada, até valores de auto-emprego que são mais do triplo dos norte-americanos e muito superiores aos da generalidade dos países desenvolvidos.
Terceira asneira
«"mas também é verdade que a licenciatura, o mestrado e o doutoramento não são um passaporte para o emprego"». Ninguém acredita que sejam. Mas será que a formação superior, ao contrário do que a frase anterior sugere, ajuda a encontrar emprego? E melhor pago? Ou será Portugal, como muitos dizem, um «país de doutores»?
Quando comparado com os países mais desenvolvidos, Portugal não tem licenciados a mais - tem licenciados a menos. A taxa de desemprego entre licenciados é significativamente menor que entre não-licenciados. Em Portugal, um licenciado ganha, em média, muito mais que um não licenciado, e o investimento em educação superior é dos mais rentáveis que um indivíduo pode fazer.
Bónus: a asneira irónica
A justificação que Michael Seufert dá para o facto da sua proposta poder comprometer a sustentabilidade da Segurança Social: «A ideia de ficar fora do sistema social não é coisa que o assuste: "É provável que a reforma que vou ter quando chegar aos 60 ou 65 anos, se é que vou ter, seja insignificante."».
É provável pois: se deixarmos políticos como Michael Seufert destruírem o sistema de Segurança Social, é razoável esperar que ele não exista daqui a umas décadas. E mais não digo.
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