quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Religião é poesia, ateísmo é palavrão

O Ricardo Araújo Pereira escreveu na Visão um texto notável a propósito da mensagem natalícia do José Policarpo. Pega no assunto pelo lado de Policarpo, ostensivamente e de forma algo provocatória, ter saudado outros monoteístas mas não os ateus. Há também a questão, quanto a mim grave, de o Policarpo estar na realidade a abusar de um formato de «tempo de antena» para entrar em polémica com os ateus e apelar à conversão de judeus e muçulmanos.
Mas vamos ao RAP. Delicioso:
  • «O ateísmo tem sido, para mim e para tantos outros incréus, a luz que me tem conduzido na vida. Às vezes fraquejo, em momentos de obscuridade e de dúvida, mas, mesmo sendo incapaz de provar a inexistência de Deus, tenho conseguido manter a fé - uma fé íntima fundada numa peregrinação que tem a grandeza e a humildade da longa caminhada da vida - em que Ele não exista. Todos os dias busco a não-existência do Senhor com renovada crença, ciente de que a Sua inexistência é misteriosa demais para que eu a tenha inventado.»
E o pedaço que me leva a escrever este artigo:
  • «Acreditar que Deus existe é uma convicção profunda, mas acreditar que não existe, curiosamente, não o é. Alguém, munido de um aparelho próprio, mediu a profundidade das convicções e deliberou que as do crente são mais fundas que as do ateu. Quando alguém diz acreditar em Deus, está a exprimir legitimamente a sua fé; quando um ateu ousa afirmar que não acredita, está a agredir as convicções dos crentes. Ser crente é merecedor de respeito, ser ateu é um crime contra a humanidade.»
E esta é uma dificuldade que nós, os que somos ateus, continuamos a ter, em alguns meios sociais: ter fé é bonito, talvez mesmo poético, enquanto afirmar-se ateu é agredir, dizer um palavrão. O que se deve ao facto de a religião significar «esperança» noutra vida, ou numa qualquer forma de contacto com entes queridos desaparecidos. Enquanto o ateísmo não tem ilusões comparáveis para oferecer. Somos uns desmancha-prazeres.

2 comentários :

Anónimo disse...

A religião é a válvula de escape da classe exploradora.Ah!pois é,bébé.É a doutrina ideal para nos sugar e prometer um reino de Justiça no outro lado,pq neste,nem os xuxas fazem melhor q lamber as botas ao Capital

Micael Sousa disse...

Nós ateus não nos devemos intimidar, nada devemos temer e afirmar com orgulho a nossa escolha, pois muitas das vezes parte de um exercício de procura, pesquisa e estudo. No meu caso estudei e continuo a estudar o Homem e as suas relações, a sua História e a sua própria condição enquanto ser vivo num mundo competitivo. Só depois de uma análise profunda me assumi como tal. Não querendo que todos fossem Ateus, pelo menos gostava que todos questionassem a sua fé e o sentido, razão e sentido das religiões e crenças, talvez assim pudéssemos viver todos melhor.