quinta-feira, 17 de maio de 2007

Grandes touradas

Existem duas-razões-duas para manifestações anti-touradas como a prevista para hoje à tarde no Campo Pequeno:
  1. Acreditar que os animais não humanos podem ser sujeitos de Direito;
  2. Achar que os outros não têm o direito de se divertir de uma forma que não aprovamos.

A primeira é típica de correntes de pensamento anti-humanistas que têm o mau gosto (ou a desorientação ética...) de comparar a escravatura ao bife na grelha; a segunda, de puritanos que acham que os espectáculos de que eles não gostam devem ser proibidos. As consequências remotas da primeira postura seriam a proibição do consumo de carne de todos os mamíferos que não tivessem morrido acidentalmente ou de velhice; as da segunda, seriam a proibição do boxe, da pornografia e do Big Brother.

16 comentários :

Anónimo disse...

Não estarás a ser fundamentalista ao só pôr essas duas hipóteses?

Não é fundamentalista dizer que a consagração legal da proibição dos maus-tratos e tortura de animais para efeitos lúdicos é equivalente à proibição da sua morte para efeito de alimentação?

Pelo que sei, o Direito europeu, admitindo que animais como os bovinos sentirão dor e sofrimento como os seres humanos, e indo de encontro a ligação empatia-ética, consagra realmente os animais como sujeito com direito a proteção.

Existem normas sobre, por exemplo, a matança de animais para fins alimentares, que tem que ser rápida e indolor.

Estas leis consagram também os casos em que o sofrimento animal é permitido: pesquisa médica e coisas que tais. E os casos em que não é: eu não posso, porque me apetece, pontapear um cachorrinho rua acima rua abaixo. Um grupo de adolescentes não pode furar os olhos a um cão vadio com uma espingarda pressão de ar só para se divertir.

Este entendimento ético da empatia com o sofrimento está cada vez mais a passar para o direito, e mesmo em Portugal há um entendimento sobre ele, sendo as touradas de morte proibidas.

A tourada nos países onde é praticada, é uma excepção a um entendimento ético e legal que consagra a tortura e a provocação sofrimento com fins lúdicos errado e punível.

O que se pede é o fim dessa excepção legal.

Comparar a caça, pesca ou o abate a um espectáculo de tortura deste género é que é fundamentalista, e faz até lembrar os argumentos "pró-vida" que equivaliam matar uma criança a interromper a gestação de um embrião.

Anónimo disse...

Um grupo de miudos da minha cidade divertia-se a cegar e amputar cães com uma espingarda pressão de ar. Segundo a tua lógica, isto não deve ser proibido?

Porque isso seria, passo a citar:

"Achar que os outros não têm o direito de se divertir de uma forma que não aprovamos."

e teria como implicação lógica

"a proibição do boxe, da pornografia e do Big Brother."

Muito manhosa a tua argumentação. É óbvio que existe diferença entre formas de diversão que não causam sofrimento ou que causam sofrimento consentido pelas duas partes (caso do boxe) e formas de diversão em que um sujeito não concordante é submetido a tortura para deleite do espectador.
Essa do "formas de diversão com que não concordamos" tem muito que se lhe diga. Se tens uma razão ética, moral, empática para não concordar com o boxe,pornografia ou big brother, isso é contigo, mas não a deves comparar em gravidade com a tourada.

Quanto à primeira "animais sujeitos de direito" é evidente, e desde os primeiros tempos em que há lei e ética, que é reconhecido aos animais algum Direito, claro que diferente dos humanos. Prova disso é a tourada (e vá lá, a caça) serem excepções à norma vigente.

Anónimo disse...

O Ricardo Alves gosta de touradas... Ahhhh!

E ainda fala em racionalidade e ateísmos vários...

Que eu saiba a única definidora dos limites do direito é o próprio direito.. Desde que se legisle o objecto das leis passa a estar sob o «direito».

No entanto, nestas entradas do Ricardo Alves também encontro justificativas para o bestialismo.

Bora, enrabar vacas e cadelas!
Estou mesmo a ver nas feiras as quinteiras a gritar:
- Olha a franga apertadinha!!! É limpa! É limpa!

E já agora, daí a permitir o usufruto sexual de crianças deficientes mentais profundas não é um passinho? Afinal... Mentalmente são o quê? De humano só têm a aparência.

Camarelli disse...

Então vamos ver:

Existem apenas duas razões para a oposição aos apedrejamentos de mulheres adúlteras:

1. Acreditar que humanos do sexo feminino podem ser sujeitos de Direito como os do sexo masculino;

2. Achar que os outros não têm o direito de fazer o que quiser com as suas mulheres.

A primeira é típica dos maus muçulmanos que esquecendo a óbvia inferioridade da mulher em relação ao marido, embarcam em blasfemos ideais anti-islão. A segunda é uma clara violação dos deveres do homem de educar as esposas segundo os preceitos de maomé-paz-à-sua-alma.

mesmo pondo de parte os fundamentalismos ricardo, serás a favor
-- das lutas de cães?
-- do massacre de focas bébé à paulada para não estragar a pele que enfeitará os mui nobres pescoços do jet set?
-- de aprisionar grande felinos (para não falar de outros animais) em celas minúsculas para mostrar à criançada?
-- das brincadeiras cruéis de jovens alienados que atam cães a automóveis e depois os desfazem na estrada?

basta definir um ser como inferior para nos legitimar os actos cruéis?

de facto, fraquinha a ética que está por trás da justificação do sacrifício de animais para nosso divertimento...

Anónimo disse...

A malta gostou muito foi de ver o Saddam pendurado na corda.

Anónimo disse...

Que argumentação ludibriadora que para aí vai! Eu gostava de o conseguir fazer, mas o mundo, infelizmente, é demasiado complexo para ser olhado de forma tão redutora: os bons e os maus; a liberdade e a não-liberdade.
Uma coisa é compreender porque que há touradas, porque é que há pessoas que gostam delas e que não compreendem porque que alguém se opõe tanto às mesmas. Outra é contestarmos, só porque sim e dessa forma exageradamente relativista, aqueles que se opõe a esse tipo de espectáculo. Depois dos comentários aqui deixados não há muito mais a dizer, mas se não costumo concordar muito com o típico argumento de contestar a tradição recorrendo ao exemplo das arenas romanas, desta vez não pude deixar de pensar nisso: porque não recuperarmos essas arenas com as "lutas" entre homens e animais selvagens? Eu não aprovo, mas divertiam tanta gente!
Sobre a questão de atribuir direitos aos animais, levaria muito mais tempo a comentar. Mas considerar essa posição como anti-humanista parece-me muito pouco rigoroso, confesso que nem consigo perceber a relação e duvido que tenha justificação. É que um animal ter direitos não implica que ele passe a ter que votar, ir a tribunal ou pagar impostos.

Anónimo disse...

Está para além da minha compreenção, como é possível existir devertimento na turtura de um animal...

Flávio Santos disse...

Caro Ricardo,

Considerei que o teu post necessita de uma resposta minimamente elaborada. Aproveitei o mote e escrevi um pequeno 'ensaio', estravasando a questão das touradas (como, de resto têm feito os bloggers que comentaram antes) em http://sosacriticismo.blogspot.com/2007/05/tica-das-touradas.html

David Cameira disse...

Ricardo.

E incomparavel a pornografia devia mm ser proibida pq está cientificamente provado q contribui para o aumento da criminalidade violenta em especial da criminalidade sexual violenta

Agora o resto....julgo q devia-mos ter menos preconceitos e aceitar a nossa cultura como ela é. Especialmente nao concordo qd esse pessoal todo se poe a comparar as Touradas com os antigos jogos de galadiadores do império romano

Demonstram ignorancia e /ou má fé

Anónimo disse...

Ora aqui está um texto verdadeiramente disparatado. De alguém que tenta escrever direito mas por vezes saem "coisas" assim. Existem alturas em que devemos estar caladinhos

P Amorim disse...

Fiquei abismado agora mesmo. Agora não tenho tempo para escrever, mas depois envio o link.

João Branco (JORB) disse...

Depois de completamente arrasada a tua argumentação pró-tourada, resta notar que o entendimento dos animais irracionais como seres a que não é devida qualquer protecção é está fortemente ligado à moral religiosa: os animais não têm alma, não vão para o inferno nem para o paraíso, Deus pô-los na Terra para nos servirmos deles como bem apetecer.
Uma perspectiva humanista reconhece as semelhanças, e reconhecendo o sofrimento animal como equivalente ao humano, funda na empatia a base para a condenação ética do sofrimento animal.
Conclusão: a empatia pelo sofrimento é um valor humanista. O desprezo por este é forçado pela moral religiosa.

Ricardo Alves disse...

matarbusto,
as mulheres podem ser sujeitas de Direito, tal qual os homens. Os touros não podem. A diferença é toda essa.

Quanto aos numerosos anónimos: responderei em artigo.

Camarelli disse...

Ricardo Alves,

mas é mesmo esse o ponto, há quem julge que não, ou pelo menos não em igualdade com o homem. a intenção era apenas ilustrar o absurdo do que disseste; obviamente não advogo que as mulheres não podem ser sujeitas de direito, mas até os animais são contemplados com uma série de direitos, o que pareces ignorar com a tua argumentação.

David Cameira:

por favor apresente as provas «científicas» de que a pornografia "contribui para o aumento da criminalidade violenta em especial da criminalidade sexual violenta".
há fundamentalismos que nem a ciência explica.

Ricardo Alves disse...

Matarbustos,
o facto é que as mulheres podem realmente ser sujeitos de Direito: acontece por todo o mundo há milhares de anos (felizmente, acontece cada vez mais).
Os animais não podem ser sujeitos de Direito. Ponto final.

Anónimo disse...

Viva a tourada!