segunda-feira, 28 de maio de 2007

A superfície e o fundo

Uma acusação recorrente que os religiosos fazem aos ateus é a da superficialidade. Dizem-nos que a origem do universo e da vida, e a natureza da consciência, são Grandes Mistérios que nós resolvemos, insistem, de maneira superficial. Eles, pelo contrário, alegadamente atingem enormes profundidades de análise com o seu estudo dos textos sagrados da sua religião preferida. Assim, se alguém disser que aprofundou o seu conhecimento da evolução do universo estudando a relatividade generalizada e usando tensores, resolvendo equações diferenciais e adaptando a métrica de Friedmann-Robertson-Walker, os religiosos fungam com desdém e respondem que leram atentamente alguns capítulos de uma narrativa escrita por uns pastores da idade do ferro, e ainda os comentários de uns frustrados medievais. Podemos explicar que a coerência das contas não depende do desejo de quem as faz de que estejam certas, ou que as contas corroboram ou até prevêem observações que eles não sabem explicar, que a resposta será sempre a mesma: eles é que aprofundaram. Aprofundar é eliminar as dúvidas e acreditar nos devaneios de pessoas que nem eclipses sabiam prever.

Que fazer? Talvez rir...

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

1 comentário :

Max Mortner disse...

Certo dia caminhava pela praia e encontrei Deus. Ele parecia estar chateado, era provável que as nossas discussões sobre a sua existência o andassem a aborrecer. Mal conseguia olhar para mim…
Fiquei com remorsos e, tocando-O no ombro, pedi-lhe desculpa. Ele olhou para mim, com um ar terno e meigo e justificou-se (utilizando a terceira pessoa, ao bom e velho estilo de certas vedetas ou dos jogadores de futebol):
“Ao pensarmos em Deus como um ser criador torna-se impossível nega-lo. Isto porque partindo desta premissa, Deus pode ser reduzido a matéria. Deus pode tornar-se matéria cósmica, espacial. Pode ser o primeiro grão de poeira que deu origem ao Universo. É claro que este Deus não é doutrinário. (…)[1] O Deus-Matéria é, assim, inegável. E não perde o carácter sobrenatural visto que, não se sabe a origem nem a verdade sobre a matéria que formou o Universo em que julgamos habitar. A própria Matéria-Deus poderá ter sido fruto de si mesma!”
Depois de ouvir isto, duvidei e mergulhei.

[1] Este parêntesis comprova a veracidade desta conversa. Não se poderia esperar brevidade numa conversa com Deus. Contudo os blogs não são locais para grandes textos, sob pena de perdermos os nossos leitores.
Só espero que Ele compreenda.