sábado, 12 de maio de 2007

Bernardo Joffily: «Primeiro discurso do Papa: extrapolou»

«Joseph Alois Ratzinger, o papa Bento XVI, Sumo Pontífice da Igreja Católica, Bispo e Patriarca de Roma, Vigário de Cristo, Sucessor do Príncipe dos Apóstolos, Supremo Pontífice, Primaz de Itália, Arcebispo e Metropolita da Província Romana, Soberano do Estado do Vaticano e Servo dos Servos de Deus, está no Brasil. Sua presença, para além das manifestações de devoção como a supermissa no Estádio do Pacaembu (São Paulo), avivou mais de uma polêmica na sociedade brasileira.

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(...)
Respeito o papa, sobretudo em atenção aos que vêem nele o expoente máximo de suas sinceras crenças. Bento XVI foi nazista na juventude, porém proclama-se arrependido e não tenho por que duvidar desse arrependimento. Seus olhos, sobretudo quando sorriem, transmitem-me um quê de mefistofélico, mas deve ser, claro, só uma impressão.

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Tampouco discutirei como se edifica a portentosa catedral das instituições da Santa Madre Igreja. Eu não pertenceria a uma estrutura organizativa que recusa a todas as mulheres qualquer papel ou poder em seu seio, e se constrói integralmente de cima para baixo. Mas admito que este é um assunto interno da Igreja Católica e seus fiéis. Talvez algum bispo mais ousado se atreva a levantar temas assim na 5ª Conferência Episcopal da América Latina, que o papa abrirá em Aparecida do Norte (SP).

Referência inapropriada e indelicada

Mas, santo padre, assim como respeito as crenças e os assuntos internos das diferentes confissões religiosas, mesmo quando me intrigam, assombram ou repugnam, sua santidade deve respeitar os debates da cidadania brasileira. Não foi delicada a referência de seu primeiro discurso em nossas terras, na presença do presidente Lula e de autoridades de Estado, a questões que, no Brasil, quem define soberanamente é o povo brasileiro.

Não foi apropriada, santo padre, a sua referência ao "respeito pela vida, desde a sua concepção até o seu natural declínio" – fórmulas que expressam a defesa da criminalização do aborto e da eutanásia. Mais ainda em uma frase que começa com afirmações radicais, peremptórias e irremovíveis, sobre "a alma deste povo, bem como de toda a América Latina".

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O aborto, santo padre, assim como o caráter laico de nossas escolas públicas, e as campanhas de prevenções da aids que fazemos com sucesso mundialmente reconhecido, são questões que compete ao Brasil e aos brasileiros resolverem. A posição de sua santidade a respeito é bem conhecida. Reafirmá-la, nas circunstâncias, foi inoportuno.

(...)

Na questão da interrupção voluntária da gravidez, por exemplo, o debate na sociedade brasileira está aberto. E há indícios de que se encaminha para um referendo onde os eleitores decidirão soberanamente sobre o tema, como vem sugerindo oportunamente Temporão, por razões de saúde pública, desde sua recente posse no ministério.

As pesquisas de opinião pública no Brasil indicam, por enquanto, uma maioria favorável à legislação atual. Esta criminaliza "radicalmente" (para usar uma palavra do discurso papal) quem pratique o aborto, mais até do que na Arábia Saudita (embora as penas criminais sejam brasileiramente ignoradas, sob o olhar que só posso chamar de farisaico dos antiabortistas).

Pois iremos ao debate. Faremos como a América do Norte e a Europa (com exceção apenas da Irlanda e da Polônia, dois países onde é forte a influência do fundamentalismo católico). Faremos como Portugal, que proscreveu a interrupção voluntária da gravidez, no referendo de 1998, e depois mudou de posição e legalizou-o, no referendo de 11 de março passado.

Argumentos não faltam, tanto os de saúde pública como os morais, para que o Brasil saia, neste particular, da Idade Média para a modernidade. É certo que sua santidade a enxerga como "a escuridão e o abismo da nossa era moderna" (expressão usada na mensagem de Páscoa deste ano), mas muitos de nós, que somos um povo novo, vemos nela esperanças de libertação, e queremos nos mobilizar.

(...)

Santo padre, aqui no Brasil não temos santos, por enquanto – o primeiro será canonizado sábado, contra 626 italianos, 576 franceses e 102 alemães –, mas somos um povo hospitaleiro e tolerante. Toleramos até discursos de recém-chegados que passam as medidas. Quanto ao aborto, a camisinha, a união gay, o divórcio e similares, não extrapole: no Brasil, somos nós brasileiros que decidimos.»

(Ler na íntegra.)

12 comentários :

fa disse...

A ti não te faz diferença e a mim dá-me um jeitão

Caros Amigos

Estou a participar num concurso dos Correios, com uma proposta de um selo evocativo da vida e obra de Zeca Afonso.

Usando dois itens fundamentais da vida do Zeca, a música e a luta pela liberdade.

Conto com o vosso voto.

http://aquihaselo.com/Vote.aspx?idUser=2367

Nota: o sistema é um email, um voto, por isso podem votar tanta vezes como os email's que tenham.

Anónimo disse...

esses titulos todos???grande coisa, Vossa Boçalidade!!!

dorean paxorales disse...

Pois, pois.
Mas, Ricardo, a ICAR tem vindo a perder almas no Brasil a um ritmo assustador: de noventa e tal por cento de seguidores na população há 10 anos passaram a uns 75% hoje em dia.
O diferencial passou-se para as centenas de cultos evangelistas, inevitavelmente retrógrados, e ao pé dos quais o papa é um perigoso revolucionário, com iPod e tudo.

Ricardo Alves disse...

Dorean, não é bem assim. A ICAR tem descido, mas não tem perdido apenas clientela para os neopentecostais. Há muitos a dar em ateus, também (hei-de postar os números).

Quanto aos «evangélicos retrógrados», é muito discutível. Parece-me que em questões como o aborto ou a homossexualidade ficam ao mesmo nível do Sapatinhos Vermelhos. Mas mais aldrabões do que os da ICAR, isso sim. Estes últimos fizeram uma grande aldrabice há 90 anos, que ainda andam a fazer render com milagrezecos de trazer por casa. Os da IURD parece que gostariam de fazer uma fátima por semana se pudessem.

Ricardo Alves disse...

Já agora dá uma espreitadela aos números:

Religiões 1991 (%) 2000
(%)
Católica apostólica romana 83,0 73,6
Evangélicas 9,0 15,4
Espíritas 1,1 1,3
Umbanda e Candomblé 0,4 0,3
Outras religiosidades 1,4 1,8
Sem religião 4,7 7,4

http://www.ibge.gov.br/7a12/conhecer_brasil/default.php?id_tema_menu=2&id_tema_submenu=5

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142004000300003

David Cameira disse...

MAS O PAPA DE ROMA tem não penas o direito como o dever de pregar contar a vida de pecado em q o secularismo ateu e humanista mergulhou o Brazil

Aliás julgo até q o Papa deveria pedir aos católicos Brasileiros para fazerem orações do terço e do rosario inteiro se fosse preciso para q o Brazil fosse liberto de todos os dDEMÓNIOS DA UMBANDA, QUIBANDAE CAMDOMBLÉ isso sim era um estrondo

O papa la , e de joelhoos e tudo, a orar contra os demónios q estao por tras de todos os orixas da macumba

ou a quimar um poster de 2 iemanjá "
depois de exorcizar o dito

ISSO SIM É Q E CATÓLICO !

Mas obviamente q o presidente LULA teve mais coragem q todos os politicos da europa pq senão tinha-se ajoelhado aos pes do papa e pedido q abençoasse a presidencia ou qq coisa assim do genero

Qt aos evangelicos não vale a pena dizer nada , nos estamos na VERDADE e por isso " quer vivamos quer morramos somos do SENHOR " diz S Paulo

HÓ GLÓRIA, ALELUIA !!!

Ricardo Alves disse...

David Cameira, aquilo a que chama «vida de pecado» não é um produto cultural. Resulta de tendências biológicas. Querer combatê-las só pode ser feito por quem tem uma visão ingénua da natureza humana.

Quanto ao resto, concordo consigo: seria digno da tradição católica inquisitorial queimar cartazes de outros cultos, ou até mesmo tentar impedi-los. Há igrejas evangélicas no Brasil que fazem exactamente isso: invadem locais de cultos afro-brasileiros para impedir as pessoas de viverem a sua liberdade religiosa. Concordo consigo que essa atitude é profundamente evangélica.

David Cameira disse...

É profundamente protestante mas se quizer ter boa fé tb tem de dizer q não é NDA evangélica pq o evangelho até ao DIADO E SATANÁS dá direito de hexistir

Mas isto é o " homen natural " a falar...

Mas tb lhe digo era uma atitude muito católica rezar o terço contra os demónios da macunba

Eu espero q e o Ricardo nao esteja a falar a sério qd igual esse forma se satanismo áos cultos cristãso ( e poderia ate dizer reunioes maçonicas ) q são coisas q nao fazem mal mas apenas bem

Agora o stanismo q pratica sacrificios humanos ( para alem dos de animais ) na me merece a mm consideração q a religiao catolica, de facto

Ricardo Alves disse...

«igual esse forma se satanismo áos cultos cristãso»

Não sei se compreendo muito bem a sua mensagem. Tem demasiado ruído. Mas sim, cristianismo evangélico e satanismo tem tudo a mesma validade na forma de lidar com a realidade: zero.
E o catolicismo também já praticou sacrifícios humanos (inquisição)...

David Cameira disse...

Onde ve o Ricardo Alves o " demasiado ruido " ?

Bem o Ricardo pode nao crer a sua vontade mas nao pode ignorar a abismal diferença entre o avanço da civilização e os barbarismos dos rituais de grupo praticados, olhe desde logo, na serra de Sintra

A macumba e uma manifestação do sobrenatural satanico, como a WICCA, o espiritismo ( Kardecista ou não ) e todas essas coisas tem q haver uma maneira de classificar as diversas experiencias humanas, tem q se poder fazer, com rigor, a distinçao entre quem atenta contra a vida e contra os valores constitucionalmente estabelecidos
e quem nao o faz

É isso q eu disse e reafirmo

dorean paxorales disse...

Sem religião, aumento de 3%; evangelistas, de mais de 6%.
Era interessante saber se achas que compensará. Pela minha parte, e desde que vi um vídeo de um pastor pregando que o "Rei Leão" promovia a homossexualidade, tenho pesadelos com a Walt Disney.

David Cameira disse...

Pois eu tenho pesadelos e com o boneco gay para induzir as crianças a essa preverção sexual abominavel.....

Mas enfim, os evangelicos são muito diversos, o pastor josué ( não sei se o video ainda está disponivel no YOUTUBE )tem as ideias dele mas ninguem mais e obrigado a telas
O jack Chick diz q a o papa é a BESTA APOCALIPTICA mas é ele q é responsabilizado por essa interpretação teológica

Agora o papa orar contra os demónios da macumba é algo q deveria ser feito, nem q fosse la no Vaticano por razões de segurança