sexta-feira, 8 de julho de 2005

IRA e Al-Qaida: diferenças

Os ataques terroristas do IRA são facilmente diferenciáveis dos ataques de ontem (em Londres), que presumivelmente foram da autoria de um grupo jihadista, comandado ou inspirado pela Al-Qaida.
O IRA atacava predominantemente alvos militares na Irlanda do Norte e, quando atacava na Inglaterra (nunca na Escócia nem no País de Gales...) escolhia membros das forças armadas ou do governo como alvos preferenciais. Efectuou efectivamente ataques a pubs e lojas, mas que raramente chegaram à dezena de vítimas.
Os atentados de ontem visaram exclusivamente alvos civis indiscriminados, foram programados para a hora de maior movimento e aconteceram simultaneamente em vários pontos (tudo à semelhança dos atentados de Madrid). O número de vítimas, à hora a que escrevo, anda pelas cinco dezenas.
Deve notar-se que o IRA dispunha de quantidades enormes de explosivos e de outro material militar (fornecido pela Líbia e pela OLP), o que lhe permitia organizar atentados com mais de uma tonelada de material explosivo, nos quais poderia facilmente ter matado centenas de pessoas. Aparentemente, a Al-Qaida não será apoiada por governo algum e, tanto em Madrid como em Londres, os operacionais parecem ter usado não muito mais de cinco quilogramas de explosivos transportados em mochilas.
O IRA era (e ainda é) uma estrutura centralizada, com uma liderança política clara e reconhecida, o Sinn Fein. A Al-Qaida não se assume como o braço armado de organização civil alguma com a qual se possa negociar e, apesar de existir um núcleo central (duas dezenas de pessoas?) parece ser uma estrutura em rede, em que o papel da liderança poderá ser «apenas» de treino, financiamento e aconselhamento.
Enquanto o objectivo do IRA era conseguir uma negociação (o que conseguiram), e nesse sentido aumentavam ou diminuiam o impacto das suas acções conforme o clima político, a violência jihadista parece gratuita e irracional, pelo menos na fase actual, que já dura há quase quatro anos. As acções do IRA, sem dúvida condenáveis, eram compreensíveis face aos objectivos pretendidos, que, embora permaneçam por se realizar na totalidade, eram realistas. Os objectivos conhecidos da Al-Qaida (a analisar num artigo futuro) são irrealistas, e a brutalidade dos métodos parece proporcional ao absurdo que constituem.

2 comentários :

Narcisista disse...

Compreendo o que quer dizer, mas mesmo assim está a ser demasiado simpático com o IRA...

André Carapinha disse...

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(ainda n tem o link p este blogue, mas vai ter)