sábado, 16 de março de 2013

O momento cipriota

O que se passou hoje no Chipre mostra como a crise europeia ainda não bateu no fundo. A partir do momento em que o dinheiro que está no banco já não é de quem o depositou, o Chipre é a Argentina e Portugal para lá caminha.

Por enquanto, os banqueiros ainda têm governos em Portugal, na Grécia e no Chipre que permitam a rapina. Mas quanto tempo passará antes de acontecer algo de politicamente muito violento?

7 comentários :

Anónimo disse...

Parece-me preferível a cortar na saúde, na educação, nos salários e nas pensões... embora reconheça que é psicologicamente diferente. Para mim a medida é melhor do que a receita aplicada em Portugal porque:

1. É provável que a engrenagem económica não saia tão prejudicada, uma vez que a parte maioritária dos valores em depósito não flui na chamada economia real (isto não significa que a economia real não se possa ressentir, mas pelo menos não é um efeito de primeira ordem como no caso Português);
2. Deixa os pobres incólumes (pelo menos em primeira ordem; e em segunda ordem se se verificar a predição 1).

Teria ficado mais satisfeito se estendessem a confiscação a outras realizações de capital (penso em fundos de investimento, acções, obrigações, etc.) que parecem ficar de fora...

The Hounds Of Doom disse...

No que diz respeito a "Detroitização" que aí vem, aconselho-vos a irem ao youtube e verem este filme.

"British filmmaker Temujin Doran has released a new movie that is based on the book "The Death of the Liberal Class" by Truthdig columnist Chris Hedges. The film, titled "Obey," explores the rise of the corporate state and the future of obedience in a world filled with unfettered capitalism, worsening inequality and environmental changes.


Warning: Viewers may find some of the clips in the film disturbing."

http://www.youtube.com/watch?v=hH6UynI5m7Y

PS: se tiverem a oportunidade, leiam também o livro do Chris Hedges - "The Death of the Liberal Class" que é bastante mais detalhado, embora duvide que encontrem traduções portuguesas.


Anónimo disse...

O mais grave de tudo é que as taxas cobradas aos depósitos é convertida em acções dos bancos. No fundo, o contribuinte está a ser chamado a resgatar a banca privada, de forma directa, sem direito a juros nem nada...

Ricardo Alves disse...

Não concordo. Se eu, por exemplo, estiver farto de ver o salário baixar e as taxas sobre o consumo subirem, posso emigrar e ir ganhar mais. Deixo para trás poupanças que serão taxadas...

De outra forma: taxarem pensões e salários sempre aconteceu. Mas o dinheiro que pomos no banco pensamos que é nosso, que ninguém lhe vai mexer... E no entanto, podem tirar-nos o que lá pusemos.

Maquiavel disse...

A outra opçäo é deixar falir os dois bancos, e em vez de reduçäo de 10% os seus depositantes ficaräo apenas com o fundo de garantia, parece-me que é 50.000€/conta.
Para quem tem 100.000€, entre 90.000€ e 50.000€ (ou entre 900.000 e 50.000...), digam-me lá qual escolheriam?
Entretanto, os senhores do Eurogrupo já vieram a terreiro dizer que natramente o melhor é näo taxar depósitos de menos de 100.000€.

Seja lá como for
http://krugman.blogs.nytimes.com/2013/03/18/the-%D1%8Fussians-are-coming-the-%D1%8Fussians-are-coming/?smid=tw-NytimesKrugman&seid=auto

Ó RA, o dinheiro que depositamos nos bancos é nosso, espera lá, *deveria* ser todos nosso, mas o que está garantido é só o coberto pelo seguro inter-bancário! O pessoal é que pensa que os bancos *näo väo* à falência (como se näo tivesse já acontecido, em Espanha no fim dos anos 70). Ai väo, väo... especialmente quando se misturam bancos comerciais com bancos de especulaçäo, PERDÃO, de investimento.
Como os alemäes näo säo parvos, e näo lhes apetece ter de safar bancos à custa do contribuinte (porque o povo alemäo näo é manso), legislaram recentemente a separaçäo forçada entre eles (e muito bem).

Maquiavel disse...

Vim a descobrir entäo que desde há pouco tempo o fundo de garantia a nível europeu passou para 100.000€; assim sendo os "pequenos aforradores" estäo safos (e mesmo estiver farto de ver o salário baixar e as taxas sobre o consumo subirem, posso emigrar e ir ganhar mais näo consegue poupar 100k€ assim täo facilmente, que onde se ganha mais o custo de vida também é bem mais elevado, ah poizé).
Ou seja, no fim de contas safaram foi os oligarcas que usam o Chipre como off-shore na Zona Euro. Seguem-se privatizaçöes e cortes nos serviços sociais, que o novo presidente é muito amiguinho da Merdkel. Daqui a 6 meses os cipriotas estaräo a suspirar pelos "malvados comunistas"...

Ricardo Alves disse...

Eu sei que os bancos podem falir. E também acho que não se separar banca comercial e banca de especulação é uma das raízes da presente crise...