Compreendo perfeitamente que a direita odeie Chávez, e entendo que a esquerda radical o idolatre: derrubou democraticamente uma oligarquia capitalista latino-americana. Mas nem tudo é tão simples.
Chávez cortou para metade o número de pobres da Venezuela, diminuiu significativamente a iliteracia, e fê-lo legitimando o seu poder em eleições livres e (aparentemente) justas. Por tudo isso, o balanço é essencialmente positivo. E chamar-lhe ditador é claramente idiota. Acontece, porém, que também não se pode considerá-lo exactamente um bom exemplo de democrata e republicano. Em parte por ter tentado silenciar a oposição de uma forma que seria inaceitável para os padrões europeus, mas também por o «chavismo» ter vivido do culto da personalidade do cidadão Hugo Frías, de uma polarização política desagradável e violenta (facilitada por uma direita que o tentou derrubar pela força), e de «plebiscitos» quase anuais ao caudilho e a uma Constituição ao seu gosto. É sempre mais democrático procurar um consenso alargado - principalmente em matéria constitucional. E não é republicano ter mandatos (ainda por cima, presidenciais) ilimitados. Dito isto, há também que ter em conta os péssimos antecedentes do país.
Nas relações externas, Chávez estabeleceu as alianças que possibilitaram este instantâneo(*) do seu funeral: na primeira fila estão os ditadores cubano, iraniano e bielorrusso. Nenhum democrata pode ter qualquer simpatia por nenhum deles. Se o pretexto do «anti-imperialismo» levava a muito más companhias no tempo da guerra fria, hoje em dia deveria ser indesculpável. E se Chávez apoiou as transformações políticas de esquerda dinamizadas pelos seus aliados Morales e Correa na Bolívia e no Equador, hoje são os governos de Lula no Brasil, Bachelet no Chile ou dos Kirchner na Argentina que parecem ter um futuro mais seguro, justamente porque não personalizaram movimentos políticos numa única pessoa nem polarizaram desnecessariamente as suas sociedades. O movimento político que Chávez deixa em herança, e as práticas políticas que o legitimaram, não garantem um futuro tão solidamente democrático.
Deve ainda acrescentar-se que a esquerda marxista propunha também um modelo de organização do trabalho supostamente mais igualitário, e que nesse aspecto o «chavismo» não trouxe qualquer inovação. E que a prosperidade que distribuiu se deve ao petróleo venezuelano. Um modelo que não é exportável, portanto.
(*) Agradeço à Shyznogud ter difundido a fotografia no Facebook.
Nas relações externas, Chávez estabeleceu as alianças que possibilitaram este instantâneo(*) do seu funeral: na primeira fila estão os ditadores cubano, iraniano e bielorrusso. Nenhum democrata pode ter qualquer simpatia por nenhum deles. Se o pretexto do «anti-imperialismo» levava a muito más companhias no tempo da guerra fria, hoje em dia deveria ser indesculpável. E se Chávez apoiou as transformações políticas de esquerda dinamizadas pelos seus aliados Morales e Correa na Bolívia e no Equador, hoje são os governos de Lula no Brasil, Bachelet no Chile ou dos Kirchner na Argentina que parecem ter um futuro mais seguro, justamente porque não personalizaram movimentos políticos numa única pessoa nem polarizaram desnecessariamente as suas sociedades. O movimento político que Chávez deixa em herança, e as práticas políticas que o legitimaram, não garantem um futuro tão solidamente democrático.
Deve ainda acrescentar-se que a esquerda marxista propunha também um modelo de organização do trabalho supostamente mais igualitário, e que nesse aspecto o «chavismo» não trouxe qualquer inovação. E que a prosperidade que distribuiu se deve ao petróleo venezuelano. Um modelo que não é exportável, portanto.
(*) Agradeço à Shyznogud ter difundido a fotografia no Facebook.
2 comentários :
Apesar dos conselhos do médico, voltaste a ler o "Vias de Facto"...
Não entendi o teu comentário, Filipe Moura. Explica.
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