segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Os uns e os outros: diálogo inter-religioso na terra dita «santa»

Uns reclamam a terra porque crêem no mesmo «Deus» dos que ali viveram há uns milhares de anos. Outros não os aceitam porque já lá estavam e acreditam num livro diferente. Uns acharam que não podiam viver noutros países porque eram minoritários, e querem que a sua religião seja lei no novo Estado. Outros estão habituados a que outra religião (a deles) seja lei, e não querem misturas. Uns e outros não querem um Estado comum em que as leis sejam escolhidas por debate e voto. Uns são poucos. Outros são muitos. Uns são fortes. Outros são fracos. Uns são judeus. Outros são muçulmanos. Todos são infelizes assim há pelo menos sessenta anos. E assim continuarão enquanto preferirem as bombas contra o diálogo, a religião contra o laicismo, Abraão contra a humanidade.

O outro lado de Teresa de Calcutá

Uma ex-freira fala do lado de Teresa de Calcutá que os católicos não querem conhecer.

O autoritarismo e a exigência de submissão:
  • «Any organisation that demands you stick to a rigid timetable and do exactly what you're told is on the road to inhumanity, and I think and that was the problem," she says. "Mother Teresa asked you to give up your brain, your will, everything. She asked for total surrender of the person."» (Courier Mail)

O isolamento e condicionamento psicológico típico das seitas:

  • «"You're cut off. You can't listen to the radio or read the newspapers or talk to friends. You have very little contact with your family. Your mind is only hearing one opinion. There's only one voice speaking. It's difficult to leave when Mother Teresa is telling you that it's to do with the devil."» (idem)

A recusa de providenciar tratamento médico às crianças nos dias «santos»:

  • «"A ruling was made that on this recollection day, this day of prayer, children were not to be admitted to the Home for the Children. "This really sick child came in with stick arms, breathing really fast and dehydrated and I was told he couldn't stay."» (ibidem)

A ordem religiosa de Teresa de Calcutá era, no fundo, um sistema totalitário:

  • «Mother Teresa's mistake, says Livermore, was in thinking that obedience was more important than compassion."That's not something that's widely known and not part of what the media says about her. It was dictatorial. I should have got out sooner," she says.» (ibidem)

E não falta o detalhe da auto-flagelação:

  • «She says the problems within the order are exemplified by the nuns' practice of self-flagellation, whipping themselves to try to imitate Christ's suffering.» (ibidem)

Todavia, há um final feliz: esta freira já não o é.

  • «"I ended up an agnostic," she says.» (ibidem)

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Máquina de Costura Portátil

As desigualdades mundiais na distribuição da riqueza fazem com que o preço da mão de obra nalguns países seja irrisório, o que pode ter consequências trágicas na vida
de muitas pessoas.
As injustiças e ganâncias subjacentes a muitos destes casos são satirizadas pelo The Onion:

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Jacques Brel: «Les bigotes»

As beatas

Elas envelhecem com pequenos passos
Como de cãezinhos ou de gatinhos
As beatas
Elas envelhecem tão depressa
Que confundem o amor e a água benta
Como todas as beatas
Se eu fosse diabo ao vê-las por vezes
Eu acho que me faria castrar
Se eu fosse Deus ao vê-las rezar
Eu acho que perderia a fé
Pelas beatas
Elas procissionam em pequenos passos
De pia de água benta em pia de água benta
As beatas
E patati e patata
As minhas orelhas começam a assobiar
As beatas
Vestidas de negro como o Senhor Padre
Que é demasiado bom com as criaturas
Elas beatizam-se de olhos em baixo
Como se Deus dormisse sob os seus sapatos
De beatas
No sábado à noite depois do trabalho
Vê-se o operário parisiense
Mas nada de beatas
Porque é no fundo das suas casas
Que elas se preservam dos rapazes
As beatas
Que preferem encarquilhar-se
De vésperas em vésperas, de missa em missa
Muito orgulhosas de terem conservado
O diamante que dorme entre as suas pernas
De beatas
Depois morrem em pequenos passos
Em fogo lento, em montinhos
As beatas
E enterram-se em pequenos passos
De manhãzinha num dia frio
De beatas
E no céu que não existe
Os anjos fazem depressa um paraíso para elas
Uma auréola e duas pontas de asa
E elas voam... com pequenos passos
De beatas
(Jacques Brel, 1962; tradução livre de Ricardo Alves)




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Les bigotes

Elles vieillissent à petits pas
De petits chiens en petits chats
Les bigotes
Elles vieillissent d'autant plus vite
Qu'elles confondent l'amour et l'eau bénite
Comme toutes les bigotes
Si j'étais diable en les voyant parfois
Je crois que je me ferais châtrer
Si j'étais Dieu en les voyant prier
Je crois que je perdrais la foi
Par les bigotes
Elles processionnent à petits pas
De bénitier en bénitier
Les bigotes
Et patati et patata
Mes oreilles commencent à siffler
Les bigotes
Vêtues de noir comme Monsieur le Curé
Qui est trop bon avec les créatures
Elles s'embigotent les yeux baissés
Comme si Dieu dormait sous leurs chaussures
De bigotes
Le samedi soir après le turbin
On voit l'ouvrier parisien
Mais pas de bigotes
Car c'est au fond de leur maison
Qu'elles se préservent des garçons
Les bigotes
Qui préfèrent se ratatiner
De vêpres en vêpres de messe en messe
Toutes fières d'avoir pu conserver
Le diamant qui dort entre leurs f...s
De bigotes
Puis elles meurent à petits pas
A petit feu en petit tas
Les bigotes
Qui cimetièrent à petits pas
Au petit jour d'un petit froid
De bigotes
Et dans le ciel qui n'existe pas
Les anges font vite un paradis pour elles
Une auréole et deux bouts d'ailes
Et elles s'envolent... à petits pas
De bigotes
Jacques Brel (1929-1978)

domingo, 21 de dezembro de 2008

Solstício de Inverno

O solstício de inverno acontece neste exacto momento, às 12 horas e 4 minutos.

É o instante em que a ponta norte do eixo de rotação da Terra se encontra inclinada 23.44º para fora da órbita da Terra (ver o lado direito da imagem de baixo). No solstício de verão, a ponta norte do eixo de rotação da Terra encontra-se inclinada para dentro da órbita da Terra (ver o lado esquerdo da imagem de baixo).

O sinal mais evidente do solstício é a menor duração do dia no hemisfério norte (e a menor duração da noite no hemisfério sul). Outra evidência é a menor altura a que o sol «sobe», no mesmo hemisfério, relativamente à linha do horizonte (durante o seu «movimento» diário).

O dia mais curto do ano e a noite mais longa do ano marcam o início de um novo ciclo, com dias que se alongarão sucessivamente durante os próximos seis meses, até ao solstício de verão, quando o sol estará no seu máximo de altura no horizonte.

Bom ano!

Humanismo secular (na medida do possível)

Depois de sofrerem oito anos de governo pelo “Stupid Party” os EUA preparam-se para mitigar a crise e emendar a mão no que fôr possível.

Obama nomeou Jane Lubchenco (segundo a AP "an Oregon State University professor specializing in overfishing and climate change) para dirigir a NOAA (a NASA dos oceanos), e três cientistas para dirigirem o White House Office of Science and Technology Policy. Segundo a AP:

Eric Lander, "who teaches at both MIT and Harvard, founded the Whitehead Institute-MIT Center for Genome Research in 1990, which became part of the Broad Institute in 2003."

John Holdren "is a former president of the American Association for the Advancement of Science in Washington who has pushed for more urgent action on global warming."

Harold Varmus, "who was a co-recipient of the Nobel Prize for his research on the causes of cancer, served as NIH director during the Clinton administration."

Nada mau, depois de oito anos a sermos governados por pastores evangélicos, loucos varridos a chefiarem gabinetes políticos e científicos. Lembram-se do Dr. Hager, o chefe da FDA que sodomizava a mulher contra a vontade dela?

sábado, 20 de dezembro de 2008

God is not Great

Hitchens, God is not Great. New York: Twelve, 2007, pp.6-7.
“(…) To us no spot on earth is or could be “holier” than another: to the ostentatious absurdity of the pilgrimage, or the plain horror of killing civilians in the name of some sacred wall or cave or shrine or rock, we can counterpose a leisurely or urgent walk from one side of the library or the gallery to another, or to lunch with an agreeable friend, in pursuit of truth or beauty. Some of these excursions to the bookshelf or the lunch or the gallery will obviously, if they are serious, bring us into contact with belief and believers, from the great devotional painters and composers to the works of Augustine, Aquinas, Maimonides, and Newman. Those mighty scholars may have written many evil things or many foolish things, and been laughably ignorant of the germ theory of disease or the place of the terrestrial globe in the solar system, let alone the universe, and this is the plain reason why there are no more of them today, and why there will be no more of them tomorrow. Religion spoke its last intelligible or noble or inspiring words a long time ago: either that, or it mutated into an admirable but nebulous humanism, as did, say, Dietrich Bonhoeffer, a brave Lutheran pastor hanged by the Nazis for his refusal to collude with them. We shall have no more prophets or sages from the ancient quarter, which is why the devotions of today are only the echoing repetitions of yesterday, sometimes ratcheted up to screaming point so as to ward off the terrible emptiness.”

acho que vou copiar para aqui mais algumas passagens deste livro. :o)

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

O sistema partidário implantado pelo 25 de Novembro

Portugal vive no regime político implantado pela revolução de 25 de Abril de 1974 (e pelas eleições constituintes de 25 de Abril de 1975), e no sistema partidário resultante do 25 de Novembro de 1975.


Explico-me. Do 25 de Novembro de 1975 resultou a assunção (correcta ou não, já pouco importa...) de que os partidos políticos à esquerda do PS eram irremediavelmente antidemocráticos, como o «comprovava» o seu alegado envolvimento numa tentativa de tomada de poder pela força. Deste mito fundador do sistema partidário português pouco resta hoje: as «provas» de uma tentativa de tomada de poder partidariamente organizada a 25 de Novembro de 1975 são escassas, para não dizer risíveis. No entanto, o PCP e outros partidos da esquerda radical (incluindo, na última década, o BE) ficaram definitivamente afastados do poder governamental, e mesmo de simples coligações locais com o partido maioritário da esquerda, o PS. Ao contrário do que se passa na França, na Itália ou até na Espanha, em Portugal as convergências globais das forças de esquerda, em trinta e três anos, resumiram-se a três eleições presidenciais (1980, 1986 e 1995, no segundo caso só na segunda volta) e a uma única câmara municipal (a de Lisboa, entre 1989 e 2001). A divisória funcional fundamental não é entre esquerda e direita, mas entre o bloco CDS-PSD-PS e os partidos à esquerda do PS. Esta é uma situação anómala, e que só prejudica o conjunto da esquerda.


Manuel Alegre identificou certeiramente este bloqueio da esquerda portuguesa, como tem referido em discursos e entrevistas. É à amputação da esquerda do espaço de poder que se deve o desequilíbrio à direita da política portuguesa, particularmente a «direitização» do PS, com as consequências conhecidas de o PS governar sempre à direita da sua base de apoio e da maioria dos seus militantes. Construir uma força política que permitisse romper este bloqueio (uma «força de desbloqueio»?) poria fim ao sistema partidário que dura desde o 25 de Novembro. E já é mais que tempo.

Omer Goldman

Hoje o Público on-line tinha um vídeo de um grupo de miúdos israelitas que se recusam a lutar contra os palestinianos no contexto em que a direita israelita equaciona o conflito entre judeus e árabes.

Acho fantástico que a voz deles tenha passado os crivos da propaganda da extrema direita, que há anos tenta vender uma imagem inventada dos judeus, todos iguais, todos sionistas de direita, todos contentes com os ataques de Sharon à classe média israelita e com o tratamento escandaloso dos colonos, um grupo de fanáticos violentos e racistas que custam um braço e uma perna aos contribuintes israelitas e americanos.

As direitas americana e europeia, que controlam os media, habituaram-se a perseguir quem critica a brutalidade da direita israelita contra os não judeus com insultos de anti-semitismo.

Isto é uma injustiça repugnante quando se sabe, por exemplo, que quatro quintos dos judeus americanos votaram Obama, apesar da propaganda da direita que pintou Obama como um muçulmano perigoso.

Como é óbvio, ser-se judeu, católico, luterano, ou muçulmano não define ninguém, de ponto de vista nenhum. Há judeus horríveis, como há católicos horríveis, luteranos horríveis e muçulmanos horríveis. Como há judeus, católicos, protestantes, muçulmanos, budistas e indus fantásticos.

E estes miúdos são verdadeiros heróis, com uma generosidade e uma coragem formidáveis, que se atrevem a arriscar o futuro pelos ideais humanistas que os inspiram, apesar dos ataques dos media ao bom senso, à paz e à solidariedade entre os seres humanos.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Em tempos de crise, pensemos nos ricos

Neste momento de crise, o nosso coração (não me refiro ao órgão que faz circular o sangue, mas à metáfora sentimental dos poetas) deve estar com os ricos em dificuldades. O Estado, por todos nós, tem estado com eles. Tudo pelos milionários!





(Agradecimentos aos contemporâneos.)

Contas erradas?

Acho que entre os sociais democratas e os neo-cons o que está e causa não é aritmética, mas ideologia.

Acho que não vale a pena discutir com eles porque os nossos pressupostos e as nossas prioridades são diferentes.

Como acho que não vale a pena discutir com os jeovás. Para os neo-cons a solidariedade social é uma ideia que contraria uma ganância primária e infantil, um bocado disparatada, baseada numa visão do mundo paroquial e de curto prazo.

A esquerda tenta argumentar com eles, mas a realidade dos últimos 30 anos demonstra que os neo-cons não são intelectuais. São uma seita, como os PCs, ou os jeovás, ou os creacionistas.

Nós andamos para aí a defender uma visão do mundo com uma classe média forte e informada, com democracia, com teatros, óperas, museus e livrarias, cidades planeadas, um sistema de segurança social que assegure condições mínimas de dignidade para os fracos, os lentos, as crianças, os doentes e os velhos, e eles passam os dias a ver revistas de automóveis e a sonhar com um ferrari.

Que se lixem o ambiente e os pobres, se eles puderem ir a uma festa ostentar o relógio novo.

Quando vivia em Portugal via-os no S. Carlos, chateados de morte, com brilhantina e um caracol modernaço por cima do colarinho branco da camisa às riscas, a olharem para o relógo como se o tempo tivesse parado, com umas mulheres horríveis, cheias de pulseiras, mascaradas de adolescentes, as saias curtas demais, sempre a mexerem no cabelo e a olharem para o relógio de marca...

As nossas realidades não se tocam.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Contas erradas

No Blasfémias o João Miranda tenta mostrar que o sistema actual para a segurança social não tem sustentabilidade. Com a esperança média de vida a subir e a natalidade a descer, até poderia ser tarefa fácil. No entanto, o João Miranda complicou-a fazendo umas contas completamente erradas:

«A Segurança Social portuguesa paga por ano cerca de 12 mil milhões de euros em pensões. Este valor é o fluxo. Supondo uma rentabiliade de 5%, o stock de capital necessário para gerar este fluxo é de 240 mil milhões de euros.»

Nos comentários, vários explicaram ao João Miranda o disparate. Além da assunção razoável de uma população constante, este raciocínio assume que todos os contribuintes da segurança social são imortais. Imortais: com o sistema do João Miranda, um indivíduo podia contribuir durante 40 anos e viver para a eternidade dos seus rendimentos.
É evidente que isto é uma exigência um bocadinho mais forte que a mera sustentabilidade da segurança social...

Alianças, compromissos e acção

«[...] Estamos longe do desespero dos anos 30, mas há algo que podemos aprender com as pessoas que nesse tempo tentaram salvar o mundo da barbárie: a vontade de superar os papéis que nos estão atribuídos. Em Espanha, 1936, até os anarquistas aceitaram entrar no governo, e logo com a primeira mulher ministra no país — Federica Montseny. É algo que talvez os "anarquistas" gregos de hoje desconheçam. Mas sei que assustou muito mais os fascistas do que qualquer montra partida.» (Salvem os ricos em ruitavares.net)

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O «caso Esmeralda»: na contra-corrente

No «caso Esmeralda», estou do lado do pai biológico. E estou-o perfeitamente bem, embora sabendo que estou na contra-corrente da quase totalidade da comunicação social e, mais relevante para mim, da esmagadora maioria dos meus amigos e conhecidos.

Bastam-me os factos: um homem e uma mulher uniram-se ocasionalmente e a mulher engravidou. O homem não tinha a certeza de que fosse o pai, e portanto houve um processo de averiguação de paternidade. A certeza de que era o pai chegou por volta do primeiro aniversário da filha. A partir daqui, o normal seria que os progenitores acordassem horários de visita e de férias, já que não queriam, nitidamente, viver juntos. Foi o que tentou o pai.

Porém, tal não foi possível. A mãe da criança «dera» a filha a um casal que a queria. Não a «dera» para adopção, que é uma figura legal e em que intervém o Estado como mediador entre a família de origem e a família de acolhimento. Não. A criança fora entregue por alta recreação da mãe.

E aqui é que a estória descambou.

As pessoas a quem a criança fora entregue recusaram-se a cumprir as inevitáveis ordens dos tribunais, fugiram, esconderam-se, praticaram portanto a ilegalidade de se auto-atribuirem a tutela da criança. O que dura já há cinco anos. Há cinco anos que beneficiam da lentidão da justiça portuguesa, dos seus atrasos e protelamentos, das mil e uma habilidades que se podem cometer para evitar uma ida a tribunal ou a entrega de uma criança, para continuarem a cometer uma ilegalidade.

Como se não bastasse, os media, não se sabe bem como nem porquê, tomaram partido pelo casal que fez uma «adopção selvagem», a quem chamam carinhosamente «os pais afectivos». Esquecem-se de que ser «pai afectivo» à força é fácil. Basta raptar uma criança numa maternidade. E a única diferença entre este caso e um rapto numa maternidade é, pura e simplesmente, o consentimento da mãe biológica.

Leituras recomendadas:
  1. «Esmeralda-Sim» (vários autores).
  2. «A minha versão do "Caso Esmeralda"» (Nuno Albuquerque).

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Da inutilidade da oração

O melhor estudo sobre a inutilidade da oração para efeitos terapêuticos é referido aqui. O resumo é o seguinte:
  • «The 1,802 patients were divided into three groups, two of which were prayed for by members of three congregations: St. Paul’s Monastery in St. Paul, Minnesota; the Community of Teresian Carmelites in Worcester, Massachusetts; and Silent Unity, a Missouri prayer ministry near Kansas City. The prayers were allowed to pray in their own manner, but they were instructed to include the following phrase in their prayers: “for a successful surgery with a quick, healthy recovery and no complications.” Prayers began the night before the surgery and continued daily for two weeks after. Half the prayer-recipient patients were told that they were being prayed for while the other half were told that they might or might not receive prayers. The researchers monitored the patients for 30 days after the operations.
    Results showed no statistically significant differences between the prayed-for and non-prayed-for groups. Although the following findings were not statistically significant, 59% of patients who knew that they were being prayed for suffered complications, compared with 51% of those who were uncertain whether they were being prayed for or not; and 18% in the uninformed prayer group suffered major complications such as heart attack or stroke, compared with 13% in the group that received no prayers.
    » (Skeptic Society)

Aguarda-se, com expectativa, que a Ministra da Saúde apresente provas em sentido contrário.

E pronto

Bush e os 8 anos de poder absoluto da extrema direita evangélica podem ir para casa passar o Natal orgulhosos. A FOX já tinha dado o tom, ao acusar os sindicatos de terem destruído a indústria automóvel americana. Agora os trabalhadores vão pagar, mais uma vez, os erros dos oligarcas e os media vão, mais uma vez, aplaudir.

O resumo da situação aqui.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Prioridades

Quando a ICAR fala da dignidade da pessoa humana, nove em cada dez vezes não se trata de crianças com fome, de adolescentes obrigados a lutar em guerras que não lhes dizem respeito, adultos sem emprego, ou velhos sem reforma. Estas coisas nunca fizeram grande impressão a bispos e cardeais, que sabem que o poder da organização depende das aristocracias e oligarquias que os protegem.
A expressão ‘dignidade da pessoa humana’ aplica-se quase sempre a óvulos, espermatozóides e embriões. Quando nascemos deixamos de lhes interessar (a menos que tenhamos dinheiro ou poder, mas isso é outra história).
E é assim: num planeta em que se mata e tortura por razões políticas, em que os frabricates de armas organizam guerras, metade da população vive na pobreza mais abjecta, os oligarcas do capitalismo selvagem global destroem o ambiente e as diferenças entre ricos e pobres não param de aumentar, o que verdadeiramente preocupa o Vaticano é a fertilização in vitru...

Sereis europeus, quer queireis quer não

Quando a Irlanda se atreveu a blasfemar contra o credo europeísta, comentei para um amigo europatriota que a solução seria a mesma encontrada noutras ocasiões: mais um «protocolo anexo» que criasse excepções para a Irlanda, e que permitisse ao governo irlandês fazer um novo referendo garantindo ao eleitorado que A, B e C não se aplicariam à Irlanda.
Previsão confirmada: da reunião do Conselho Europeu já se anunciou que a Irlanda fará novo referendo, para votar «bem» desta vez, e que haverá «garantias jurídicas» de que o Tratado respeitará a «neutralidade militar» irlandesa, a sua «autonomia fiscal» e a sua esplêndida «interdição do aborto» (são os A, B e C do parágrafo anterior). Mais problemática parece-me a garantia de que haverá um comissário europeu por Estado, pois tal garantia implicaria a revisão do Tratado (que foi ratificado na forma actual por 25 Estados membros).
E Portugal? Tudo caladinho. Um Tratado que mantém a estrutura anti-democrática da União Europeia (o Parlamento Europeu não pode iniciar legislação, a Comissão, que não é eleita, pode), que engloba uma normal anti-laicista (garante reconhecer os «direitos nacionais» das comunidades religiosas, e cria uma «câmara consultiva» clerical) e neoliberal (num momento em que o mercado desregulado nos permite contemplar o abismo) deveria ser discutida democraticamente. Mas parece que não somos considerados cidadãos suficientemente crescidos para tal.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Professores II

Até agora tem sido difícil pronunciar-me sobre este assunto.

Por um lado, considerava que os professores tinham razão em várias das críticas concretas que faziam a esta reforma. Por outro lado, defendo o principio da avaliação, e considerava que não estava nenhuma proposta alternativa séria em cima da mesa.

Esta objecção parece não ter mais razão de ser. Pelo que tenho lido e visto na comunicação social, a mais recente proposta da plataforma sindical dos professores é séria. Pretende-se avaliar a assiduidade, o cumprimento do programa lectivo, e a competência científico-pedagógica. Por outro lado, rejeitam as quotas.

Agora os detalhes serão tudo. Uma avaliação sem quotas não tem nada de errado, se for suficientemente restritiva para que nem todos (nem muitos) consigam a nota máxima, o que levaria à ausência de qualquer tipo de esforço para cumprir os requisitos. Como será avaliada a competência científico-pedagógica? Como será aferido o cumprimento do programa?

Mas aquilo que sei até agora parece promissor. No geral, parece existir mais bom senso nesta proposta alternativa do que na proposta original do ministério. Agora é esperar que exista compromisso de parte a parte, e esperar que não ocorra uma persistência cega (chamada "teimosia") em manter o modelo antigo durante este ano, mesmo caso se tenha encontrado um modelo melhor. As declarações que já aconteceram nesse sentido são preocupantes.
Isso seria um conflito inútil, apenas explicado por eleitoralismo barato. Se isso acontecer, o ministério irá perder qualquer razão que possa ter tido neste processo.

Se a ministra souber alcançar um bom compromisso, aceitando aquilo que de bom esta nova proposta dos sindicatos possa ter, a sua persistência terá sido compensada, e todos ficarão a ganhar.

Crente perde bilhete para o paraíso

A polícia belga deteve 14 islamistas suspeitos de ligações à Al-Qaeda, dos quais pelo menos um já se despedira da família por tencionar entrar em breve «no paraíso».

Os suspeitos tinham feito a habitual peregrinação aos santuários ex-mujahedin, ex-talibã, ex-anticaxemira da fronteira noroeste do Paquistão.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

Sempre disponíveis

O incrível ministro Amado diz que Portugal «está disponível» para «acolher» os detidos de Guantánamo, se e quando Obama decidir acabar com as detenções ilegais. É tocante. Portugal esteve «disponível» para receber a cimeira das Lages, «disponível» para fechar os olhos quando detidos ilegais foram levados, através do nosso espaço aéreo, para onde as leis nacionais ou as convenções internacionais não os pudessem proteger ou libertar, disponível para operações sinistras como esta. E agora, está «disponível» para o branqueamento e para a desresponsabilização dos principais responsáveis pelo autêntico recuo civilizacional a que assistimos nestes últimos sete anos: os EUA.
Sempre pensei, na minha ingenuidade, que a democracia portuguesa se construíra, deste 1976, sobre um consenso ético de repúdio por práticas anteriores ao 25 de Abril de 1974 como a tortura, as escutas telefónicas e as detenções indefinidas sem culpa formada. Parece que, afinal, era tudo treta. PSD´s e PS´s colaboraram alegremente com a deslocalização da tortura e com o «off-shore» de Guantánamo sem problemas de consciência, e preparam-se agora para dispersar as provas e os prisioneiros, sem punir os responsáveis nem tirar consequências. Mas eu vou tirá-las.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

A cura pelo cura

  • «O novo acordo de colaboração entre o Ministério da Saúde e a Igreja Católica, no sentido de regular a assistência religiosa nos hospitais, levanta sérias preocupações a dois níveis. Por um lado, porque se aparenta justificar numa suposta eficácia terapêutica que terá a participação de padres católicos no processo de recobro. Por outro lado porque representa uma intromissão inaceitável do Estado nesta matéria tão pessoal que é a religião.
    A Sra. Ministra da saúde Ana Jorge anunciou em Fátima que o acordo com a igreja católica se justificava porque a saúde «não é só o tratamento físico», mas a «espiritualidade entra neste campo global»(1). No entanto, mesmo que o bem estar dos doentes não resulte só da terapia e da medicação, não é verdade que exija uma espiritualidade no sentido de crença religiosa ou dependência do sacerdócio. Muitos doentes encontrarão todo o conforto e consolo nos seus familiares, nos seus amigos e na competência e empenho dos técnicos de saúde que os acompanham. A religião não é uma componente necessária da terapia.
    Além disso, a espiritualidade religiosa não é necessariamente o catolicismo. Só se justificaria por razões médicas celebrar este acordo específico com a Igreja Católica se houvesse evidências concretas que esta religião não só é eficaz no recobro dos pacientes como é mais eficaz que as outras religiões que não estão cobertas por este acordo. Não há indícios que assim seja.
    Quanto ao direito de acompanhamento religioso este acordo tenta resolver um problema inexistente. O direito de receber apoio espiritual já está garantido nas visitas hospitalares, nas quais o doente pode receber familiares, amigos ou sacerdotes da sua religião sempre que tais visitas não comprometam a sua recuperação. Por isso o que parece estar em causa neste acordo não é o direito à assistência religiosa mas sim quem financiará este encargo, se a Igreja Católica ou se o contribuinte. O que põe em causa outros direitos do doente.
    Põe em causa o direito do doente, enquanto doente, que o Ministério da Saúde promova uma utilização eficiente dos recursos de que dispõe. E estes não são tão abundantes que o salário de um capelão não faça falta para equipamento, técnicos de apoio, de enfermagem ou médicos. Põe em causa o direito do doente, enquanto crente, que o Estado não se intrometa na religião nem favoreça umas em detrimento de outras. E põe em causa o direito do doente, enquanto contribuinte, que o seu contributo para o Estado seja usado com justiça para ajudar aqueles que mais precisam em vez de subsidiar a Igreja Católica, uma das organizações mais opulentas de Portugal
    .» (Do Diário Ateísta)

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Leis Secretas

A falta de escrutínio público da actividade dos serviços de informação constitui um risco para a Democracia. É esse o tema desta sátira da Onion:

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Amado que responda

Parece que ainda há alguém no PS (para além de Ana Gomes...) com verticalidade para colocar perguntas incómodas em defesa de valores que deveriam ser património irrenunciável (mas não exclusivo) desse partido:
  • «Em causa estão as notícias dos últimos dias no diário espanhol El País dando conta que logo em Janeiro de 2002, cerca de dois meses depois do início dos ataques dos EUA ao Afeganistão (que derrubaram o regime talibã), as autoridades norte-americanas pediram autorização às de Espanha para utilizar o seu território no transporte de prisioneiros do Afeganistão para Guantánamo. Segundo o El País, documentos diplomáticos secretos espanhóis dessa altura revelam também que os EUA tencionavam fazer o mesmo pedido a outros países, depreendendo o jornal que um deles seria Portugal, por ficar na rota para Guantánamo. (...) Aparentemente, as respostas de Amado não deixaram os deputados socialistas Paulo Pedroso e Vera Jardim completamente esclarecidos. Daí o requerimento ontem anunciado. São feitas ao MNE português duas perguntas: "Iniciou ou tenciona iniciar qualquer processo de averiguação da eventual existência de contactos de teor semelhante com as autoridades portuguesas?"; e se "está em condições de disponibilizar à Assembleia da República o que tiver apurado ou vier a apurar sobre a matéria?"» (Diário de Notícias)

Curiosidades jornalísticas

Na primeira página do Público (em papel), os 94% dos sindicatos são o número que se lê primeiro (os 61% do Ministério ficam entre parêntesis); na primeira página do Diário de Notícias, os 61% são o único número que se lê a um metro da banca de jornais (é necessário aproximar o dispositivo ocular para ler os 94% em letra miudinha).
Assim se percebe quem apoia quem...

Lavar a História

Bush começou a já esperada campanha para reescrever a história da sua presidência delinquente. O presidente da administração pós-moderna que declarou ao mundo: "nós criamos a nossa realidade" não vai deixar a história julgá-lo com base nos factos. Tal como Reagan, aliás, que como se sabe construíu uma história da sua presidência que os media e os biografos repetiram até se tornar 'real'.

Mas enfim, na sequência de uma administração caracterizada pelo secretismo, propaganda, desrespeito pela lei e conspiração permanente, W já começou a divulgar a versão oficial destes 8 anos ignóbeis na história do mundo.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

O fim político de Maria de Lurdes Rodrigues?

A serem verdade os 92% de adesão à greve (FENPROF) de professores de hoje, Maria de Lurdes Rodrigues ficaria politicamente moribunda. A serem verdade os 60% do Ministério, ficaria muito mais frágil. Em qualquer dos casos, pode ter mais ou menos razão, mas governar contra a maioria (esmagadora?) da classe docente é insustentável.
Um final amargo para a única anarquista assumida (!) que passou pelo governo da República (pelo menos que eu me recorde)?

A culpa é sempre dos outros...

Bush, em 1999:

"One of the keys to being seen as a great leader is to be seen as a commander-in-chief. My father had all this political capital built up when he drove the Iraqis out of Kuwait and he wasted it. If I have a chance to invade---if I had that much capital, I'm not going to waste it. I'm going to get everything passed that I want to get passed and I'm going to have a successful presidency."

A guerra foi planeada antes do 11 de Setembro e as armas foram inventadas. A história está documentada num discurso do senador ted Kennedy. E aqui: http://www.gnn.tv/articles/article.php?id=761; e aqui: http://www.pbs.org/wgbh/pages/frontline/shows/iraq/etc/cron.html; e aqui: http://www.newamericancentury.org/.

Toda a gente sabia - pelo menos aqui a imprensa fartou-se de repetir - que as armas biológicas não duram 10 anos.

Armas de destruição em massa

Aqueles que apoiaram a decisão de Bush de atacar o Iraque, ou mesmo o próprio que a tomou, defendem-se agora alegando que, segundo as informações de que dispunham, o Iraque tinha armas de destruição em massa (ADMs).

É possível observar que existiram vozes ignoradas ou silenciadas (e pessoas demitidas) nos diferentes serviços de informação por tentarem trazer a público as lacunas na alegação das ADMs no Iraque. E que neste sentido, tendo tido a casa branca um papel importante no silenciamento destas vozes, o erro não podia deixar de ser da responsabilidade do presidente e dos seus colaboradores mais próximos.

É possível notar que existiu fraude deliberada na tentiva de associar Saddam à compra de urânio da Nigéria. Fraude com intenção de enganar não apenas o povo americano, mas a comunidade internacional, tendo em vista o alargar da «coalition of the willing».

É possível referir que perante os factos de que todos dispunham antes da invasão, não deixaria de ser um erro de análise grosseiro assumir que (parte d)os serviços de informação americanos estavam correctos no seu receio face às ADMs, e que os restantes serviços de informação em todo o mundo (mesmo a injustiçada Mossad) estavam equivocados por não ter detectado nada, bem como toda a informação publicamente acessível a respeito da destruição de grande parte das armas químicas de que Saddam chegou a dispôr. Ter nessa assunção disparatada confiança ao ponto de planear com base nela uma gigantesca campanha militar, sem confirmações adicionais de nenhum tipo.

Mas demos tudo isso de barato. Esqueçamos a fraude deliberada, imaginemos que a casa branca não silenciou nenhuma voz crítica nos seus serviços de informação, consideremos que não existiu qualquer erro de análise na confiança elevadíssima que o presindente depositou nos serviços de informação do Pentágono, mesmo que em contradição com toda a restante informação disponível.

Ainda assim teria sido um erro a invasão do Iraque.

Poucos se parecem lembrar que as nações unidas tinham enviado para o Iraque um conjunto de inspectores. Saddam começara por dizer que estes não podiam entrar no seu território, mas acabou por temer o ataque norte-americano, e deixou entrar os inspectores para que estes procurassem as ADMs.
E à medida que o tempo passava, e os inspectores não encontravam nada, as potencias ocidentais pressionavam o regime de Saddam para que aos inspectores fosse dada maior margem de manobra, para que o escrutínio pudesse ser mais eficaz. O regime resistia, mas acabava sempre por ceder. O governo dos EUA mantinha a sua indignação pelo facto das armas não aparecerem, e anunciava um ataque para breve. Hans Blix pedia mais dias, manifestando a sua vontade de encontrar as alegadas armas, mas dando já a entender algumas suspeitas de que as mesmas podiam não existir.

Sabendo-se que Saddam estava com as mãos e pés atados para usar qualquer ADM que pudesse ter em seu poder enquanto os inspectores por lá estivessem, não existiu qualquer justificação para que não tivesse sido dado mais tempo à comissão de Hans Blix. Aqui não há «erros de análise» ou «confiança nas pessoas erradas», ou qualquer tipo de legitimação parcial desta atitude. Foi unilaterialismo belicista, violento, arrogante, imperialista.

Desta tragédia, espero que ao menos tenha saído uma lição da dimensão da asneira.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

«Destruímos as provas», sr. ministro?

Luís Amado, Ministro dos Negócios Estrangeiros, garante que não há documentos que «comprometam» governos portugueses (este ou os dois anteriores) nos voos da CIA que transportaram prisioneiros ilegais por território português. Como os voos existiram, Amado só pode estar a dizer uma de três coisas: ou que os governos portugueses não foram informados pelos EUA, ou que foram informados oralmente, ou que foram informados por escrito e as provas «desapareceram». Em qualquer dos casos, é uma vergonha.

A culpa é sempre dos outros

Cem mil mortos depois, o George W «lamenta» ter confiado nos serviços de informações. É tarde. Poderiam ter-se poupado vidas e não se ter concedido um novo foco de recrutamento à Al-Qaeda. Será que alguém aprendeu a lição para a próxima? E o que vai acontecer às «muitas pessoas [que] puseram as suas reputações em jogo» (sobre as armas de destruição «maciça»(*))? Alguma vai perder o emprego? Serem despromovidos? Pode-se saber os nomes deles, já agora?
(*) Um neologismo que fica desta guerra: as destruições «maciças» (supõe-se que antónimas das destruições «ocas»).