O assunto do dia tem sido o "Prós e Contras" de segunda feira, nomeadamente a parte resumida no vídeo acima: a interpelação do "empreendedor" de 16 anos (!) por parte da
Raquel Varela. O que mais me espanta é haver, à esquerda, quem não se aperceba de que um empresário responsável tem necessariamente que saber responder às questões que a Raquel colocou. Saberá o empreendedor Martim o que é um sindicato? Se fosse confrontado com uma comissão de trabalhadores, saberia o que responder?
Não faz mal nenhum o "menino" ter uma noção das consequências do seu "empreendedorismo", algo que pelos vistos ele não tem. Eu não sou contra o empreendedorismo, mas os empreendedores (ou empresários, como lhes queiram chamar) têm uma responsabilidade social. Enquanto não estiverem conscientes dela, não devem exercer essa atividade. Por essa ordem de ideias, o menino de 16 anos já pode votar? Comprar álcool? Conduzir um carro?
Pelos vistos os meninos de 16 anos não servem se se tratar de discutir as relações laborais do país, mas servem para "arregaçar as mangas" e acabar com a crise. Nada disto parece importar para o
Sérgio Lavos e o Daniel Oliveira.
Já à direita surge a acusação habitual de que a esquerda supostamente defende que mais vale estar desempregado do que ser mal pago (neste caso receber o salário mínimo). Eu defendo que mais vale um trabalho do que estar desempregado, dentro de certas circunstâncias. Uma delas é que obviamente esse trabalho não seja uma exploração. Seguramente a generalização de uma política de salários baixos e desproteção social não é para mim aceitável. Se se prescindir do salário mínimo, como pretende a direita, a favor da "empregabilidade", é meio caminho andado para o regresso à escravatura. Neste assunto, de facto, existe todo um
abismo moral. E - mantenho - um empresário tem de saber discutir isto. Senão, que volte para a escola, que é onde um jovem de 16 anos deve estar com a escolaridade obrigatória até ao 12º. Ainda sou do tempo em que a esquerda era contra o trabalho infantil.
7 comentários :
1) Não é necessário saber o que é um sindicato ou uma comissão de trabalhadores para ter um negócio unipessoal como o descrito. Não me parece que o empreendedorismo do Martim tenha consequência negativas seja para quem for, a não ser talvez para algumas «bennetons», «zaras» e outras multinacionais.
2) A Raquel Varela foi paternalista e despropositada. Parece que não entendeu qual era o papel do Martim no programa, e pôs-se-lhe a dar lições que, honestamente, me parecem estranhas. Sim, ganhar o salário mínimo é melhor do que estar desempregado. E se criticamos qualquer iniciativa individual porque pode ter ao fundo a exploração chinesa ou sequer salários mínimos, então será melhor ficarmos todos parados?
3) Aos 16 anos pode-se sair de casa dos pais, legalmente. Chama-se «emancipação». Tenho respeito por quem começa a trabalhar aos 15 anos, em particular porque quer (não me parece que seja obrigado, como é o caso no verdadeiro trabalho infantil), e ainda mais se não deixar de estudar, como parece ser o caso.
4) Dá-se importância a mais ao «Prós e Contras».
1) É sempre necessário saber o que é um sindicato ou uma comissão de trabalhadores. Quanto ao resto, concordo.
2) A Raquel cumpriu o seu papel e a pergunta dela faz todo o sentido. Ela percebeu muito bem o papel do Martim no programa; ao contrário, quem a critica (e provavelmente não costuma ver o programa) é que não percebeu. (Estou de acordo com o resto do ponto 2).
3) Quem começa a trabalhar aos 15 anos naturalmente vai querer reforma antes dos 60. Fazia sentido no tempo dos nossos pais. Hoje não é sustentável. Se quer fazer qualquer coisa de útil para a sociedade (e eu acho louvável), há muito voluntariado.
4) Pois: dá-se importância a um programa que as pessoas vêem, que passa em sinal aberto (e não no cabo, como o Eixo do Mal ou o Governo Sombra) e discute por vezes temas muito relevantes, como hoje. Haveria de se dar importância a quê? À Maçonaria? À Igreja? Às touradas? Ao Manuel Alegre?
3) Pelo sotaque e até pelo nome, näo me parece que o Martim precise do seu negócio para se sustentar, ou para ajudar a família. Näo é por aí que tem mérito, mérito têm os de 15 anos que alombam nas obras ou no tomate ou no meläo para que a família näo morra de fome--mas esses nunca säo considerados "empreendedores". O mérito do Martim é perceber que os colegas têm graveto suficiente para lhe comprar as camisolas, e cá está a prova (se fosse necessária) de que o emprego é gerado... quando há vendas.
2) Näo, RA, pelas razöes que já foram esmiuçadas neste blog, quase nunca ganhar o salário mínimo é melhor do que estar desempregado. Isso é apenas justificar manter salazarentamente os salários baixos com a miséria.
Quanto à pergunta da Raquel, que é mais do que legítima, ainda mais porque ela näo tem vistas baixas, mas sim um pensamento holístico. Eu por exemplo responder-lhe-ia "eu queria pagar mais mas näo posso, ou iria para a falência", e näo é por ter o dobro da idade do Martim, já com a idade dele diria o mesmo.
"eu queria pagar mais mas näo posso, ou iria para a falência" - frase de Esquerda
"comer merda é melhor que näo comer merda nenhuma" - frase de Direita
É a diferença
Os escravos não morriam de fome...
Maquiavel,
se não precisa do negócio para se sustentar e mesmo assim vai trabalhar, merece respeito. Poderia ficar em casa a jogar no computador ou a ver TV, ou ir onde vão hoje os meninos betos. Em vez disso, montou um pequeno negócio. Se todos os Martins fossem assim, menos mal.
Trabalhar e ganhar dinheiro, mesmo que seja o salário mínimo, é melhor do que estar no subsídio de desemprego.
Filipe,
1) «É necessário» imensas coisas. Estou cada vez mais convencido de que é mesmo necessária uma disciplina de Formação Cívica. Mas, não existindo, não pode ser condição prévia para ter um negócio, ainda por cima «amador».
2) A Raquel Varela não entendeu que a intervenção dela contra o Martim, daquela forma naquele programa, só podia correr mal.
3) «Quem começa a trabalhar aos 15 anos naturalmente vai querer reforma antes dos 60.» -> Isto carece de demonstração. Não acho óbvio.
4) Não me referia especificamente a ti. O clamor que vi pelas redes sociais até me assustou. Até parece que o PeC se tornou mais importante que o Parlamento...
Ou como disse o Filipe e muito bem, podia ficar em casa a limpar o pó, ou a cozinhar, ou a a fazer repararaçöes. Há mérito, pois há, mas näo é favor nenhum que faz.
Mais relativamente ao "empreendedorismo": um desempregado com pouco dinheiro vai fazer uma empresa de quê, neste momento de procura interna deprimida? Vamos todos fazer empresas de prestaçäo de serviços ao pessoal rico (como os amigos e clientes do Martim), que é o único que ainda tem rendimento disponível? O problema é que näo há ricos suficientes para movimentar toda uma economia, porque uma economia só cresce com uma classe média "forte". EM Portugal, acabou.
No mínimo o empresário vai trabalhar para aquecer, no máximo vai perder o pouco dinheiro que tem (só com as burocracias...).
Lá na terrinha temos um empresário que acabou de fechar o café e vai para França trabalhar. É que sem clientes ele näo arrecada para comer.
O que fazer, entäo? Há muito campo para amanhar, pelo menos de fome näo se morre!
Quanto à tua última frase... o subsídio de desemprego em Portugal agora é o quê, 6 meses? Para mim é melhor usar esse pouco tempo para intensivamente procurar emprego que pague mais que o salário mínimo, em vez de apanhar a primeira coisa que aparece tal como deseja o Ricardo Salgado. Mais, quando te vir a trabalhar pelo salário mínimo reconhecer-te-ei moral para falar. Apenas espero nunca o tenha de fazer.
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