Ainda sobre o "caso Martim", vale a pena ouvir o Ricardo Araújo Pereira, que diz tudo o que eu gostaria de dizer. Via Cinco Dias, onde está transcrito.
O nosso drama
Há 4 horas
«entre le fort et le faible, entre le riche et le pauvre, entre le maître et le serviteur, c’est la liberté qui opprime, et la loi qui affranchit.»
(Lacordaire)
12 comentários :
Lá está: com o RAP até concordo (neste assunto).
É extraordinário, Ricardo: o que o RAP diz é o que eu digo... O "pensamento rústico-liberal" contra a "senhora doutora", discute como é que se pode ser empresário aos 16 anos...
Houve duas coisas erradas neste episódio, a primeira mais grave que a segunda:
(1) Pôr um miúdo de 16 anos a falar ali. O "empreendedorismo" desenfreado não é solução, primeiro porque as pessoas não têm todas condições para tal, depois porque é preciso haver também pessoas que trabalham para empresas (só micro-empresas não fazem uma sociedade competitiva por motivos de escala). Mais, e como o Filipe Moura diz, o empreendedorismo por crianças de 16 anos é altamente desaconselhável como exemplo/modelo para a sociedade. Já houve aqui pelo menos dois posts sobre isso, e não tenho nada a acrescentar.
(2) Dando eu razão em geral à Raquel Varela, fez foi um pequeno e relativamente inocente deslize (antagonizar o puto em vez do princípio, sem saber nada sobre o puto e o seu negócio em particular).
Não achando, como digo acima, que isto é um modelo decente para a sociedade, e subscrevendo as questões e reservas do Filipe Moura em relação a ele, não me parece certo culpar e atacar o miúdo por isto.
Concordo que ele como empreendedor deve ser capaz de responder a tais perguntas (e, efectivamente, foi: ele sabe onde as roupas são feitas e quanto as pessoas lá ganham); concordo que receber o salário mínimo é bastante infeliz, e que a resposta dele é pobre, ainda que inflame as claques de empreendedores. Mas a verdade é que dificilmente um gajo que abre uma fábrica de roupa em Portugal vai pagar aos seus empregados mais que o salário mínimo; nem sequer faz sentido do ponto de vista empresarial, e de resto o miúdo provavelmente nem tem controlo sobre isso (imagino que o fabrico de roupa seja contratado). E não é por isso que a gente não deve fazer roupas e abrir empresas, portanto antagonizar o miúdo 1) não está certo, e 2) é um erro táctico no contexto de um debate, e foi cruel e desproporcionalmente castigado.
Mas é verdade que todo este debate mostra coisas muito feias sobre a sociedade portuguesa e a forma como muita gente pensa. A chantagem do desemprego como alternativa ao salário mínimo; o profundo desrespeito pela academia; o culto do empreendedorismo.
A última é talvez a mais consensual, e eu acho que precisa de ser mais gozada como faz o RAP. Neste momento o mundo do empreendedorismo é quase uma seita, feita de buzzwords e frases vazias de conteúdo, desligada da realidade, com uma retórica arrogante que deifica estes tais de "empreendedores" e é, por omissão ou explicitamente, condescendente ou mesmo insultuosa para os trabalhadores por conta doutrem. Organizam-se workshops com nomes que são trocadilhos em inglês e onde um bando de miúdos com excesso de ego e essencialmente desempregados vão gabar-se a si mesmo e uns aos outros, reforçar o egos a si mesmos e uns aos outros, repetindo entre si aquilo que já todos pensam como forma de auto e hetero-validação. Provoca-me um sincero repúdio...
Não, Filipe. O que tu disseste foi (praticamente) que o rapaz não podia ser empresário enquanto não soubesse o que é um sindicato e uma comissão de trabalhadores, e «moralizaste» sobre as nefastas consequências sociais de adolescentes trabalharem. O RAP não põe em causa o princípio da iniciativa individual, e desmonta o «caso» pelo lado em que vale a pena pegar: que um miúdo de outro meio social não teria acesso ao crédito inicial tão facilmente. E também concorda que é melhor o salário mínimo do que o desemprego.
Li agora o teu comentário e estou a encolher os ombros. Em vez te apontares contradições aos outros deverias reparar nas tuas.
Quais contradições, Filipe?
Desculpem lá meter-me, mas ó RA, se foi isso que percebeste do discurso do FM, entäo estamos todos errados e só tu estás certo, que acho que mais ninguém tirou as mesmas ilaçöes que tu...
Ricardo, contradições entre o que eu digo e o que dizes que eu digo (onde é que digo que o desemprego é preferível ao salário mínimo?), contradições tuas ao apoiares o que diz o RAP (que eu também digo) e criticares o que eu digo... Não vale a pena esta discussão.
Esta discussão contigo, bem entendido. A discussão em si vale bem a pena.
O que o RAP diz é bem diferente daquilo que tu disseste e que eu critiquei. Não se nota na intervenção dele qualquer crítica ao facto de o negócio do Martim existir. Tu, pelo contrário, escreveste que ele deveria estar em casa. Ou que não podia ter o negócio antes de saber o que é um sindicato e uma comissão de trabalhadores.
Enviar um comentário