quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Perdoai-lhes homens, que elas não sabem do que falam






(Dedicado à Ana Vidigal; a propósito de uma discussão sobre excisão e circuncisão.)

5 comentários :

carla disse...

Li a discussão... Concordo contigo.

Parece-me muito inteligente introduzir esta questão, a da circuncisão, no debate sobre a mutilação genital feminina.

Considero ambas um atentado à integridade fisica, se bem que com distintos graus de gravidade. E quando se trata de menores, mais sério aínda.

E ao ver a reacção geral, não posso deixar de pensar o quão longe ainda estamos de poder lançar uma discussão séria sobre a legitimidade do baptismo de menores.

Ricardo Alves disse...

Carla,
o que a discussão mostra é que mesmo a questão da circuncisão ainda vai demorar muitos anos a ser entendida. O que é curioso, tendo em conta que a excisão (que é evidentemente mais grave) provoca um tão justo horror.

carla disse...

Sim.
Fiquei perplexa com a sensação de impunidade geral perante a circuncisão.

Uma coisa é que nunca tenham pensado no tema. Mas parece que afinal até pensaram, e inclusivamente conseguem encontrar vantagens! :/

Isto deve ter a ver com factores culturais: uma realidade bárbara pode ser considerada normal se é algo realizado com frequência no ambiente em que vivemos.

Acho que é o que acontece nos países em que se realiza a MGF: é uma prática vista como normal, porque é muito comum nesses países.

Na nossa sociedade, a circuncisão é vista com impunidade simplesmente porque é muito comum.

Afinal nós também somos terceiro-mundistas nestes aspectos de rituais religiosos, mas ninguém o quer reconhecer.

JDC disse...

Entrando directamente para a questão do baptismo:
Não que eu concorde com o sacramento em tenra idade, pois nada significa para o baptizado, não advém daí nenhum prejuízo físico para o menor. Aliás, acontecendo como quase sempre acontece, o baptizado nem forma memória do que lhe está a acontecer, devido à tenra idade.
Se, por outro lado, a discussão resvalar para a liberdade religiosa do menor, ela não é posta em causa pois a pessoa em questão, pelo menos em Portugal, não será condenada por apostasia. Poderá sofrer pressão/desaprovação dos pais? Evidentemente que sim, mas também se escolher fazer uma tatuagem ou um piercing ou beber álcool.
Não aceitarei, isso sim, que a sociedade proíba o ensino religioso quando isso é vontade dos pais. Isso seria, primeiro, uma imposição de uma maioria sobre uma minoria religiosa por motivos ideológicos, e, ainda, uma violação do direito de educação que os pais têm sobre os seus filhos.
Evidentemente que haverá excessos, mas os excessos acontecem em qualquer caso, em qualquer situação.

Mais ainda, caso fosse proibido o ensino religioso a menores, qual a obrigação dos pais caso o menor apresente questões religiosas? Responder contra as suas convicções? Negar ao menor a informação que eles acham mais correcta?

carla disse...

Sou contra o baptismo de menores, mas não sou contra o ensino religioso dos menores.

Penso é que não deveria existir tanta pressa em introduzir burocraticamente uma criança dentro de uma instituição religiosa.
Simplesmente porque é mais justo deixar essa criança crescer, formar uma opinião, e em adulto escolher entrar na religião que entender, e no momento que entender.

Os pais têm o direito de educar os filhos segundo as crenças religiosas que consideram adequadas, mas acho que não deveriam ter o direito de os vincular burocraticamente a uma determinada religião sem o seu consentimento.

Até porque parece que desbaptizar nem é assim tão simples. E Entretanto, concordando ou não com os valores da Igreja, lá estão uns quantos a engrossar as estatisticas da Igreja. Que muito provavelmente não escolheriam ser baptizados.

No meu caso pessoal, quando tiver filhos, tenho muito claro que não os baptizarei. E também não procurarei impedir que optem por se baptizar, desde que seja por sua livre vontade.

Vivemos num estado supostamente laico. O direito à laicidade das crianças não deveria ser violado.

Volto a reforçar que nada tenho em contra que os pais eduquem os seus filhos segundo a religião que praticam.