terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Os que dão mau nome à ciência

Delgado Domingos:
  • «(...) O que sucedeu em 1967 em Lisboa e se repete cada vez mais agravado por esse mundo fora não é devido a emissões de CO2eq ou alegado aquecimento global.
    É devido simplesmente ao facto de fenómenos climáticos naturais, que sempre existiram, terem efeitos cada vez mais catastróficos porque as acções humanas sobre o território criaram as condições para isso ao desflorestarem as cabeceiras de rios (que agravaram o seu assoreamento e as consequentes inundações), ao aumentarem os riscos de deslizamento das encostas (porque eliminaram a vegetação que as estabilizava), ao construírem cada vez mais em leitos de cheia, e ao provocarem alterações cada vez mais extensas e profundas no uso do solo. 
    (...)

    ###

    Em termos científicos, o que os emails revelam são os esforços concertados dos seus autores, junto de editores de revistas prestigiadas, para não acolher publicações que pusessem em causa as suas teses ou os dados utilizados pelo grupo, recorrendo mesmo a ameaças de substituição de editores ou de boicote à revista que não se submetesse aos seus desígnios.
    Propuseram-se mesmo alterar as regras de aceitação das publicações para consideração nos Relatórios do IPCC de modo a suprimir as críticas fundamentadas às suas conclusões. Em resumo, procuraram subverter, em seu benefício, toda a ética científica da prova, da contraprova e de replicação de resultados que está no cerne do método científico, controlando o próprio processo da revisão por pares.
    Em conjunto, conseguiram impedir que fossem publicados a maioria dos dados e conclusões que pusessem em causa e com fundamento o seu dogma do aquecimento global devido às emissões de CO2eq. 
    (...)
    O comportamento escandaloso e intolerável de um grupo restrito de cientistas que atraiçoaram o que de melhor a Ciência tem só foi possível porque um grupo de políticos, sobretudo europeus, criou as condições para o tornar possível.
    (...)
    Seria também irresponsável agir como se as consequências da variabilidade climática e da utilização desbragada de combustíveis fósseis tivesse desaparecido com a revelação do escândalo. Muito pelo contrário. (...)» (Expresso)

14 comentários :

Filipe Moura disse...

Vários aspectos.
Vejo-te muito entusiasmado com a divulgação ilegal de correspondência alheia. Será que também gostarias que divulgassem assim, por exemplo, os telefonemas do nosso primeiro ministro?
Quanto ao texto do Delgado Domingos em si, as primeiras medidas que ele refere são ordenamento do território básico (que, é um facto, tem sido ignorado por décadas). Podem ser eficazes para evitar cheias, mas não contra o aquecimento global.

Quanto à última frase:

"Seria também irresponsável agir como se as consequências da variabilidade climática e da utilização desbragada de combustíveis fósseis tivesse desaparecido com a revelação do escândalo. Muito pelo contrário."

Ou seja, seria irresponsável não seguir as indicações dos climatologistas relativamente ao aquecimento global. Certo? Nunca ninguém disse que o único problema causado pelos combustíveis fósseis era o aquecimento global. Mesmo que esse nem fosse o principal problema (algo de que eu duvido), não há dúvida de que a utilização de tais combustíveis acarreta problemas graves. Então qual é o problema de segurimos as recomendações dos climatologistas do aquecimento global?

Ricardo Alves disse...

Não Filipe, a divulgação de correspondência privada não me entusiasma. O problema, aqui, é que se instalou uma obsessão com a «origem humana» do aquecimento global que tem pouco de racional e de científico.

O que o Delgado Domingos diz, com muita razão, é que existe variabilidade climática, e que essa variabilidade terá consequências desagradáveis sobretudo à escala local - ao contrário do que muitos têm argumentado de forma precipitada.

O «aquecimento global» devido a causas humanas será, provavelmente, um mito. Não digo que a humanidade não tenha capacidade para alterar o clima e destruir a vida no planeta - provavelmente tem. Não considero é provado que algumas altas temperaturas actuais sejam muito diferentes da «época quente» por altura do ano 1000 - época em que até foi possível colonizar a Gronelândia.

Quanto à questão dos combustíveis fósseis, penso que é separável desta discussão.

João Vasco disse...

Ricardo Alves:

A sério que não compreendo esta ideia de que "O «aquecimento global» devido a causas humanas será, provavelmente, um mito." quando todos os dados empíricos apontam para o contrário.

Coloquei neste blogue 5 vídeos muito bons sobre esse assunto, que descrevem muito bem a discussão científica que existe a esse respeito e mostram que não são meia dúzia de comentários de café (tipo "há uns anos atrás falava-se era no arrefecimento global") que desmentem as várias razões que levaram a maioria dos climatologistas a defender essa hipótese como a mais provável.

Que se investigue, e que a investigação seja justa e deixe espaço para quem quer criticar a hipótese. Mas não se dêem como irrelevantes as conclusões que até agora se têm alcançado.

Esta ideia de que o aquecimento global causado pelo homem é um mito e não uma hipótese extremamente bem fundamentada parece-me das maiores lavagens cerebrais que os grandes interesses económicos alcançaram sobre a nossa sociedade. Em que a projecção mediática de uma minoria é bem maior que o seu peso científico. Bem maior, mesmo...

Anónimo disse...

De facto não há nada que dê mau nome à Ciência como responder a alegações empíricas com teorias da conspiração e acusações vagas de manipulação política.

Quanto a acusações bem mais concretas e documentadas, há um contra-exemplo americano para Delgado Domingos: o da censura de conclusões de uma instituição científica por parte da administração norte-americana.

Anónimo disse...

Mas totalmente de acordo a respeito do desordenamento do território, com a ressalva de não aceditar que seja a única causa do aumento das catástrofes.

No caso português, nenhum tema é tão transversal a tantos os problemas nacionais como o do ordenamento do território. Porque está relacinado com o desrespeito da lei e as más leis, a corrupção, a inexistência de uma estratégia para o país, o desleixo político e a insipidez da classe, a política de betuneira-às-costas, a cedência aos interesses particulares, as desigualdades entre o interior e o litoral e a agricultura, (nomeadamente os incêndios florestais).

O estado do ordenamento é o melhor indicador da nossa bandalheira.

carla disse...

Concordo em absoluto com o João Vasco.

O problema da ciência é que a investigação depende de financiamento. E esse financiamento muitas vezes não é imparcial.

Lembro-me de um documentário que vi há uns anos, sobre isto. Davam o exemplo de uma equipa de investigação que tinha encontrado fortes indicios de que o plastico poderia estar envolvido na maior incidencia de alguns tipos de cancro. Falavam no exemplo do plastico dos biberons, que quando aquecido poderia libertar substancias com actividade estrogenica. Estas substancais seriam ingeridas pelas crianças em conjunto com o leite, e esta exposição precoce e crónica poderia ser muito preocupante.
Parece que a investigação ficou mesmo só pela suspeita, porque no momento não conseguiram mais financiamento para seguir por aí. Pelo menos não com a urgencia merecida.

Já imaginaram o panico, a mudança no mercado? Practicamente todos os alimentos vêm embalados em plasticos, utilizamos plastico e mais plastico.

Com certeza que nem todos os plasticos dariam este problema, existe uma variedade de polimeros, mas...

Há 6 anos atrás foi publicado um artigo em que relacionavam e exposição de bisfenol A con alterações reproductivas em ratinhos de laboratorio. O bisfenol é utilizado para fabricar plasticos que eram utilizados para fabricar as jaulas dos animais. Estas jaulas ao serem lavadas a altas temperaturas íam libertando esta substancia.

Este exemplo, que pouco tem em comum com o tema da alteração climática (embora estejamos a falar de plásticos que também são derivados do petróleo), tem a ver como informações podem ser abafadas, manipuladas.

Eu gosto de ser cuidadosa, e apesar de viver da ciência, considero que a ciência muitas vezes é miope. Nós raramente conseguimos ver o quadro todo, quais as verdadeiras consequências a longo alcance das alterações que introduzimos. Somos demasiado pequenos. ;)

E existem informações que podem ser dadas com o objectivo de fazer verdadeiras lavagens cerebrais. E normalmente as que coincidem com um estilo de vida mais fácil, são as melhor aceites.

SMP disse...

Eu acho que a histeria do aquecimento global está de certo modo relacionada com a religião, ou pelo menos com o teísmo.

A humanidade gosta de acreditar que está a "matar o planeta" porque se recusa a aceitar a sua insignificância e a sua reduzidíssima importância relativa na história geológica do planeta. Como o teísmo nos meteu na cabeça que somos mais importantes que todos os outros seres vivos e que o planeta é apenas um habitat que nos foi concedido pelo criador, temos a ilusão que podemos estragá-lo, assim como o filho espatifa o carro que o papá lhe deu.

Acontece que o planeta e a habitabilidade do mesmo se vão modificar quer o homem queira, quer não. Quer contribua para isso, quer não.

Mesmo que se responda afirmativamente à pergunta de ser ou não o homem a provocar o aquecimento global (o que é cientificamente discutível), a resposta de um ateu só poderá ser: "so what"?

Se o mundo está a aquecer, e pressupondo que está mesmo (menos os meus pés, que continuam frios), seriam mais inteligente aceitá-lo como inevitabilidade, gastando dinheiro a tentar preparar-nos para isso e não para evitar o que será, nesse caso, inevitável.

Atacar a pobreza deveria ser a prioridade, até porque as populações mais pobres serão os primeiras a sofrer o impacto negativo de um aquecimento significativo.

Mas nesta opinião estou normalmente isolado, porque o teísmo inculcou a convicção nas pessoas que o mundo é "nosso" e que o estamos a "estragar", recusando-se a perceber que muito antes de darmos cabo do planeta o planeta vai dar cabo de nós, que apenas transitória e acidentalmente o estamos a dominar.

Não se leia no meu comentário uma apologia ao homem poluidor. Devemos preservar o que temos, mas numa perspectiva egoísta, por nós e pelos nossos descendentes, e não pelo coitadinho do planeta, que também terá o seu fim mais milhão de anos, menos milhão de anos. Ou seja, por civilidade e não por designio superior.

O que me parece óbvio é que o aquecimento global é uma oportunidade de negócio como qualquer outra, e que muitas das politicas verdes são mais fruto do lobbies correspondentes e do funcionamento do mercado capitalista, que vê ali um filão por explorar, do que numa preocupação sincera com a saude do planeta.

As marcas de automoveis vao apostar tanto mais nas energias alternativas quanto o consumidor o exigir. E o consumidor vai exigi-lo quando isso deixar de ser mais caro para o seu bolso e a moda e o markting o impuserem aos seus comportamentos. O Al Gore é o lobbista como outro qualquer, tão respeitável como o tipo que assusta os americanos com o papão da insegurança para vender armas de uso pessoal. Um tem a simpatia da esquerda, o outro não, mas ambos exploram o medo para fazer business.

Medo, essa componente sagrada de todas as religiões :)

Filipe Moura disse...

Não me interessa agora a questão religiosa (eu não me preocupo absolutamente nada com religião), mas este comentário de SMP é a coisa mais reacionária que eu tenho lido. Para quê mudar o mundo? Por que não aceitar as coisas como elas são? As desigualdades, as injustiças, o aquecimento global...

"recusando-se a perceber que muito antes de darmos cabo do planeta o planeta vai dar cabo de nós"

A questão é que isto pode não ser verdade, se continuarmos a dar cabo do planeta. Antes de o planeta dar cabo de nós, haveremos de ter encontrado outro sítio para viver. Mas se não fizermos nada, vamos dar cabo do planeta muito mais depressa que isso.

SMP disse...

Reaccionário? Eu de comunista a facho já ouvi de tudo, estou habituado. Gosto de pensar com a minha cabeça, mesmo que isso me valha uns rotulos simpáticos como este.

Deixo só esta consideração à discussão, um mundo com menos desigualdades, melhor distribuição de riqueza, menos pobreza, seria sempre e necessariamente um mundo com maiores emissões e mais poluente. Por quem menos polui são os miseráveis. O impulso mais primário dos remediados é o consumo. O que preferiamos, se tivessemos que escolher, menos poluição ou menos pobreza?

O instinto de sobrevivência e o espirito inventivo do homem seria sempre capaz de o adaptar a um planeta mais quente. O nivel dos oceanos subia? Os holandeses vivem há decadas abaixo dos niveis do mar. Em Portugal logo tratariamos de dar construção dos diques à mota-engil e seria logo um novo designio nacional, daqueles que estimulam a economia nos orçamentos socialistas.

O que não se pode é querer sol na eira e chuva no nabal. Ou os chineses têm menos direito a andar de automóvel do que nós? A sociedade de consumo estendida a 90% da população mundial em vez de 30% não provocaria um aumento brutal de emissões poluentes?

Fiz questão de dizer que não sou apologista do homem poluente e é evidente que o homem deve procurar ter energia mais limpa e amiga do ambiente, nem que seja por uma questão civilizacional. Vamos evoluindo e as preocupações ambientais fazem agora parte (e bem) da nossa vida. Ou melhor, da vida dos paises ricos e desenvolvidos, os pobres têm mais com que se preocupar. Primeiro viver, depois filosofar, já se dizia na Antiga Grécia.

Agora, lá que acho que eco-histeria goriana uma empolação do problema com fins lucrativos, isso acho. E a maneira delico-doce e profundamente hipocrita como a coisa tem entrado na pseudo-agenda de todos os politicos irrita-me.

E o que me irrita provoca-me uma reacção negativa. Deve ser por isso que sou um reaccionário. :)

SMP disse...

A frase é "Primeiro comer, depois filosofar". Pensei "comer" e escrevi "viver", o que é um lapso que não deixa de fazer sentido... :)

carla disse...

" A humanidade gosta de acreditar que está a "matar o planeta" porque se recusa a aceitar a sua insignificância e a sua reduzidíssima importância relativa na história geológica do planeta"

SMP,

Não sub-estime a enorme capacidade de destruição do Homem.

Quantas espécies já se extinguiram, num curto espaço de tempo, por acção directa do Homem? Muitissimas.

Só vejo relação com algumas religiões porque realmente algumas (as dominantes no mundo ocidental, pelo menos) são antropocêntricas.

Se calhar não fazemos mais ao ambiente que nos rodeia, que a nós próprios. Repara: passamos metade da vida a consumir para destruir a nossa saúde, e a outra metade a consumir para tentar recuperar a saúde perdida.

Com respeito ao planeta, estamos a tratar da 1ª parte: dedicamo-nos a fundo a consumir recursos,a alterar equilibrios. E atribuimos as consequências (que já se vão fazendo sentir) a que tudo evoluciona como está fadado desde o inicio dos tempos? Que tudo terminará como tem de terminar? Não.

Não acredito em deus, nem no destino.

Quanto ao aproveitamento politico, existe nos 2 sentidos: de lucrar com o consumo excessivo, e logo o lucro com as inovações verdes.

Tal e qual como com a nossa saúde: interesse económico em que consumamos produtos nefastos para a nossa saúde e depois interesses económicos em que consumamos medicamentos para a tentar restablecer.

SMP disse...

Carla,

O planeta pode extinguir a vida humana e de muitas outras especies com um simples acidente geologico. O planeta tem pelo menos 4 mil milhoes de anos, o Homo Sapiens uns 50.000.

O Homem pode destruir o nosso modo de vida e substitui-lo por outro, que ao Homem desse tempo parecerá melhor, mesmo que isso nos choque. Se colocássemos um Homem do seculo 5 AC no meio de Nova Iorque ou São Paulo neste século o que diria? E no fundo, é a mesma especie... E algum de nós preferiria viver em 5AC, onde o mundo era menos poluido?

Não me interpretem mal, mais uma vez, não digo que se deva poluir. Essa atitude de encostar quem diz algo de diferente ao extremismo é tipico de um certo talibanismo ambiental muito na moda.

O tudo ter de terminar não é fado, nem destino, muito menos profecia cataclismica. É ciencia. As estrelas morrem. Mas muito antes disso vamos desaparecer. Basta perceber que as condições permitem a vida humana nas condições em que as conhecemos são um incrivel conjugação de factores acidentais, que dificilmente continuará imutável. Dai a relação que o teismo, que se recusa a encarar a existência humana como um acidente ou uma incrivel conjugação de factores acidentais.

Achar que o Homem tem o controle sobre os factores geológicos e ambientais é tão ilusório que me espanta como é que os politicos conseguem vender esse embuste tão bem. A longevidade do nosso planeta depende tão directamente do nosso bom comportamento como o nosso lugarzinho no céu.

Outra coisa é defender para todos qualidade de vida do ponto de visto ambiental. Isso faz sentido (nos paises desenvolvidos). Mas sem chantagens ou papões destruidores de planetas, por favor.

carla disse...

Não disse que o homem tem influência sobre os factores geológicos. Nem me interessa especular se vai existir um cataclismo geológico amanhã, ou daqui a 100 anos, que acabe com a Terra.
É certo que as estrelas morrem, imagino que o Filipe que é Fisico tenha mais a dizer sobre isso do que eu.
Mas não habitamos uma estrela. E quanto à duração prevista para o Sol, não tenho ideia.

Agora não questiono que o homem tenha influência sobre os factores ambientais: para mim, tem, e muita. Olha as chuvas ácidas em Sao Paulo.

dorean paxorales disse...

é um processo de descredibilização do ipcc e por isso não se fundamenta em qualquer dado científico mas sim em propaganda. ie, argumentos à la miranda consubstanciados com citações fora de contexto.

(se eu fosse fazer uso da mesma estratégia, diria que os emails foram obtidos de forma ilegal)

levantar dúvidas sobre a imparcialidade do processo de 'peer review' quando o que pode estar em causa é a escolha 'editorial' do ipcc é uma atitude desonesta.
além de que teorias da conspiração não bastam para desmentir dados já publicados nem provar que o aquecimento global com causa humana não existe.