O autor deste lamentável incidente foi identificado e, dentro da sua (in)imputabilidade, foi ou vai ser responsabilizado pelo seu acto. Entretanto parece que o autor já tem mais de 30000 “amigos” no Facebook. Quantos destes “amigos” eram capazes de praticar e dar a cara por um acto destes? Tornar-se amigo no Facebook, escrever em blogues, comentar em jornais é muito fácil. Diz-se que o governo de Berlusconi foi o responsável pelo esmagamento dos protestos de Génova, em 2001. Como tal, quem lá estava “sorri” ao ver Berlusconi “esmagado”. Eu não estava em Génova em 2001, mas estava na Assembleia da República em 1993 (com muitos colegas de curso de membros deste blogue), quando o governo de Cavaco Silva também esmagou brutalmente, sem justificação, protestos contra a lei das propinas. Os subscritores portugueses deste grupo do Facebook também estariam dispostos a atirar uma réplica da Catedral de Milão, ou do Centro Cultural de Belém, a Cavaco Silva, assim que o vissem? (Este não é um apelo à violência, que eu condenaria. É uma questão de retórica.)
Muito interessantes os debates que têm ocorrido sobre o assunto no Cinco Dias e no Arrastão (vale a pena ler os textos e os comentários), nomeadamente sobre o papel do Estado como agente da luta de classes (que eu recuso – o Estado deve ser neutro) e monopolizador da violência. Não se pode “acabar” com a violência, por isso ser “contra” ela não tem muita utilidade prática. Pode ser-se contra a violência indiscriminada e irresponsável – o recurso à violência tem de ser mesmo o último recurso, mas por não podermos acabar com a violência não podemos exluir este recurso. sendo assim, o importante é que quem recorre à violência o faça mandatado pela sociedade, seja sempre identificado e possa ser responsabilizado (ou os seus superiores hierárquicos) pelos seus actos perante a sociedade.
Uma semana depois, vale a pena ler o artigo (premonitório) de José Saramago sobre o "no B-day":
Itália não merece o destino que Berlusconi lhe traçou com criminosa frieza e sem o menor vestígio de pudor político, sem o mais elementar sentimento de vergonha própria. Quero pensar que a gigantesca manifestação contra a "coisa" Berlusconi, na qual estas palavras irão ser lidas, se converterá no primeiro passo para a libertação e a regeneração de Itália. Para isso não são necessárias armas, bastam os votos.
4 comentários :
Sim, estou de acordo contigo.
O que custa, é que ninguém consegue atingir o Berlusconi dentro das regras: seja pelo voto, seja pelos tribunais. Admito que isso cause desespero. Mas a violência, mesmo em desespero, não é justificável.
E o Ferreira Fernandes, que é dos melhores cronistas da actualidade, esteve mal desta vez.
"...nomeadamente sobre o papel do Estado como agente da luta de classes (que eu recuso – o Estado deve ser neutro)"
Importa-se de elaborar?
O que é um Estado "neutro"? Pode ser a acção de proibir manifestações "neutra"? Permitir as manifestações e deixar a fúria grega sair à rua em destruição é ser neutro?
O Estado é violento, por definição. O Estado, ao permitir a existência de propriedade, está a permitir, directa ou mais indirectamente, a violência dos mais ricos contra os mais pobres.
Contudo, Saramago tem toda a razão: não são necessárias as armas, bastam os votos; todos sabemos que a Esquerda está pelas ruas da amargura.
Os votos contra Berlusconi têm a desvantagem de serem votos a favor de Prodi e/ou Veltroni. A estátua nas fuças não delega poder numa clique oligarca diferente. Os italianos há 3 anos votaram contra Berlusconi e elegeram Prodi. Não ficaram contentes com o resultado.
Está mais de que provado que o povo italiano não confia na esquerda a tarefa de oposição contra Berlusconi, por outras palavras, não confia no voto como alternativa às igrejas nas fuças. Ainda por outras palavras: a alternativa que sugere o Filipe Moura é preterida pelos italianos.
Por outro lado a oposição a Berlusconi fora do parlamento é cada vez mais forte.
"Mas a violência, mesmo em desespero, não é justificável."
No próximo ano, quando este blogue celebrar o centenário da República, terá que agradecer a Manuel Buíça e Alfredo Costa.
Onde está escrito Filipe Moura leia-se José Saramago, visto que é uma citação dele.
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