quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Bispo católico processado por anti-semitismo

O bispo católico tradicionalista Richard Williamson, recentemente re-incomungado por Ratzinger, vai ser processado judicialmente, na Alemanha, por «incitação ao ódio racial» e por negação do «Holocausto». A pena máxima para estes crimes é de cinco anos de prisão. Simultaneamente, há rumores de que o governo argentino, incomodado com a presença de Williamson no seu país, prepara também uma acção judicial.

Pessoalmente, sou contrário a leis que penalizem o mero discurso, mesmo que fascista e factualmente errado, como é o caso. No entanto, concedo que na Alemanha o negacionismo, particularmente quando vindo da ICAR, possa colocar um problema de ordem pública.

Hipocritamente, Ratzinger e os seus insistem que «não sabiam» do anti-semitismo de Williamson antes da divulgação da famosa entrevista à televisão sueca. Há razões para duvidar, quanto mais não seja porque as diatribes de Williamson encontram-se pela internet, quer defendendo que os judeus têm «vocação para o domínio mundial», e que as «nações ex-cristãs» só devem «culpar o seu próprio Liberalismo por permitirem a livre circulação na Cristandade aos inimigos de Cristo» (os judeus), quer garantindo a autenticidade dos «Protocolos dos Sábios de Sião», quer ainda rejeitando a liberdade religiosa, quer considerando Ratzinger (em 1999) um «inimigo terrível da Igreja Católica» (em quem não se podia «confiar»), quer recomendando que as mulheres não vão à universidade, quer contra a mistura de sexos nas escolas, quer argumentando que a ICAR mentiu sobre o «terceiro segredo de Fátima», quer dizendo que o 11 de setembro foi orquestrado pelo governo dos EUA. Portanto, não acredito que B16 não conhecesse a fera que voltava ao redil.

Embora a imprensa refira os dislates negacionistas de Williamson, tem-se abstido de evidenciar que entre os lefebvristas há quem defenda que a a Inquisição «deve ser reabilitada», e que os católicos «não têm nada de que se envergonhar no trabalho passado deste santo tribunal». Seria interessante que os jornalistas portugueses confrontassem a ICAR portuguesa (incluindo os seus lefebvristas) com estas (e outras) tomadas de posição.

Note-se ainda que um teólogo católico abandonou a ICAR em protesto contra a decisão papal de levantar a excomunhão aos lefebvristas, que qualifica de «grupo extremamente reacionário e profundamente anti-semita que simpatiza com ditadores e regimes direitistas». Um protesto usando a táctica oposta foi feito por um grupo católico que ordenou mulheres sacerdotisas («padresas»?), que pediu também a sua desexcomunhão. Não creio que as católicas feministas tenham o mesmo acolhimento caloroso que Ratzinger proporcionou aos fascistas da Sociedade Pio X. E do lado dos «católicos progressistas» portugueses houve-se um ensurdecedor silêncio.

Refira-se finalmente que os membros do grupo ex-cismático são claros quanto aos seus propósitos: «temos a intenção de converter Roma, isto é, trazer o Vaticano para as nossas posições». Trata-se de um regresso entendido por quem regressa como uma reconquista. Nada, repita-se, que o Diário Ateísta não tivesse previsto já em 2005. À época, os católicos insultaram-nos. Afinal, tinhamos razão.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

10 comentários :

dorean paxorales disse...

Duas notas: a "desexcomunhão" é uma coisa; a (re)integração na ICAR é outra.

Os patriarcas ortodoxos também foram "desexcomunhados" pelo papa não há muitos anos e nem por isso as duas igrejas se unificaram ou adoptaram a mesma doutrina.

Mas a tua tese está pouco clara (se calhar por não ter lido textos anteriores): a putativa aproximação de Ratzinger aos SSPX é prova de que o papa é nazi ou anti-semita?

Ricardo Alves disse...

É prova de que tem abertura ao fascismo (não necessariamente à particularidade nazi): está disposto a sacrificar o «catolicismo progressista» a troco de re-integrar os integristas. Ele já o disse: prefere uma ICAR mais pequena, mas mais coesa, do que uma versão «modernizada» do catolicismo.

É também um sinal, mais um (lembrar o discurso de Ratisbona), de que Ratzinger não está interessado em aproximações a outras religiões (mesmo as ditas «do livro»). O diálogo inter-religioso de Wojtyla terminou.

Ah, e esta «desexcomunhão» tem no horizonte a plena reintegração. A esse respeito, basta ler o que dizem os protagonistas. A discussão agora é se lhes concedem um estatuto de prelatura pessoal, ou uma administração apostólica, ou...

Zeca Portuga disse...

Bem!

Porque razão o anti-semitismo poderá ser crime e o anti-cristianismo não?

Anónimo disse...

"Porque razão o anti-semitismo poderá ser crime e o anti-cristianismo não?"

pq o cristianismo tem 1 histórico tão santo quanto o do nazismo.

Anónimo disse...

e o vaticano deveria ser processado por tentar de todas formas apagar da história seus crimes na Croácia Ustasha! O site do Vaticano não tem coragem de mencionar o regime de Ante Pavelic.
O vaticano tenta negar seu papel terrível no massacre de Ruanda... merecia processo também.
merecia processos por outro crimes também.

Zeca Portuga disse...

Stefano:
Tu já imaginaste se alguém resolve obrigar-te a apresentar provas das palermices que dizes.
No brasil não sei, mas em Portugal, as tuas afirmações são criminosas.

Eu sei qeu te deixas levar pela conversa de alguns mafiosos.
Se quiseres passa no meu blog e verás um exemplo (eu não estou interessado na tua leitura, perceba-se!)

Viste, certamente as fotos do aniversário do portal ateista. São um bom exemplo (confirma no http://anti-ateismo.blogspot.com)

Anónimo disse...

Xingue-me do que você é...
Acuse-me do que você faz...

Anónimo disse...

Mas Jesus não era semita?

João Moutinho

Filipe Castro disse...

Não. Jesus, como toda a gente sabe, era inglês.

Como se diz aqui no Texas: "If English was good enough for Jesus, it ought to be good enough for these damn' mexicans!"

Acho que o anti-semitismo da ICAR nunca foi segredo. Fazia parte dos dizeres da missa, todos os domingos, ate ao C. Vaticano 2.

Ricardo Alves disse...

João Moutinho,

do ponto de vista destes integristas católicos, o que conta não é JC ser judeu; é os judeus serem culpados de «deicídio». Há textos recentes onde eles ainda desenvolvem esse conceito.