sexta-feira, 9 de março de 2007

Salazarismo foi/não foi fascismo: mais do mesmo

No Rabbit´s blog, Luis Pedro insiste que «Salazar não era fascista». Resposta breve aos seus argumentos.
  1. «Salazar combateu os verdadeiros fascistas portugueses (...) encabeçados por Rolão Preto». E lá voltamos a esta fatídica criatura. Combateu é um verbo demasiadamente forte: arrebanhou-os para o regime quando sentiu que poderiam obrigá-lo a partilhar o poder. E quanto a saber se Rolão Preto era fascista, voltamos ao mesmo: foi monárquico integralista antes e depois da «aventura» nacional-sindicalista dos anos 30, durante a qual não deixou de identificar o «Chefe» com o rei. E declarava-se «para além da democracia, do fascismo e do comunismo». No sítio dos integralistas, está ainda uma biografia onde se afirma que «o autoritarismo de Salazar (...) veio a revelar-se bem mais próximo do fascismo»...
  2. «Salazar era um conservador, não um revolucionário». O problema fundamental deste debate é que essa diferença não interessa. Do ponto de vista doutrinal e teórico, é possível distinguir tudo, o integralismo e o nacionalismo, o fascismo e o autoritarismo de direita, o conservadorismo e o catolicismo integrista, etc. Mas a História não é feita com teorias perfeitas. É feita por homens que se inspiram noutros homens com cujas ideias sentem afinidades. O que interessa avaliar é se as instituições e as leis do Estado Novo se integravam, ou não, no modelo de Estados autoritários de direita que existiram na Europa dessa época. E avaliar também se procedia em conformidade na sua política interna e externa. E a resposta é que sim. A lei do trabalho portuguesa foi inspirada na de Mussolini. O retrato que Salazar tinha na mesa de trabalho era o de Mussolini. (Demarcações de Mussolini até Hitler fez, quando os interesses do seu regime não coincidiam com os do vizinho transalpino.) Os republicanos espanhóis eram entregues para fuzilamento na fronteira de Barrancos. (Já agora, Franco também não era fascista? E porquê?)
  3. Na acção concreta, todas estas correntes teóricas apareciam unidas (com uma outra divergência táctica e/ou de liderança) contra o bolchevismo ascendente, num momento de crise económica em que a urbanização e a industrialização se acentuavam de forma irresistível, em que os oficiais que tinham estado na mais mortífera guerra de sempre tinham voltado e se sentiam desaproveitados depois do seu «heroísmo», e quando as hierarquias tradicionais estavam em desagregação.
  4. Na parte final da sua contribuição, Luis Pedro interroga-se «até que ponto é que o Estado Novo contém elementos fascistas?». É uma pergunta mais interessante. Tinha, e muitos. Até «revolucionários». Falava-se em «Revolução Nacional» porque, como dizia Salazar, «enquanto houver um português com fome, a revolução continua»...

6 comentários :

kota disse...

Só um pequeno aparte, a ligação para o desactualizado EUVOTOSIM.ORG, não estará já fora de prazo.
A julgar pelos últimos títulos dos posts, e olhando menos atentamente, dá a ideia que apelam à votação em Salazar.
Será!

cãorafeiro disse...

se a vida eterna existir mesmo, o salazar, lá da sua morada no quinto dos infernos, está a rebolar-se a rir com a incrível estupidez destes argumentos de quem diz que ele não era fascista.

a auto-estima da alma penada do salazar está nos píncaros.

ele está a pensar assim:

»»»consegui o meu principal objectivo, que foi que o povo português tivesse de mim a percepção qda imagem que eu lhes vendi e não daquilo que eu fui!«««

(cão rafeiro com dotes medíunicos)

Anónimo disse...

"O que interessa avaliar é se as instituições e as leis do Estado Novo se integravam, ou não, no modelo de Estados autoritários de direita que existiram na Europa dessa época. E avaliar também se procedia em conformidade na sua política interna e externa. E a resposta é que sim. A lei do trabalho portuguesa foi inspirada na de Mussolini."

Sem ironia, pergunto se considera que o New Deal de FDR foi fascista?

Anónimo disse...

"E avaliar também se procedia em conformidade na sua política interna e externa."

Salazar não se aliou nunca ao eixo. Um dos seus "êxitos" foi manter Portugal fora da guerra. Para um fascista, isso não seria um "êxito", mas uma cobardia: a guerra era um objectivo em si, a confirmação final do heroismo pessoal ou nacional. O militarismo fascista na Itália não é um acidente, o fascismo é militarista.

Ricardo Alves disse...

«Salazar não se aliou nunca ao eixo.»

Porque não tinha necessidade. Era facho mas não era parvo.

Anónimo disse...

O New Deal de Franklin Delano Roosevelt foi um plano magnífico para tirar os EUA da grande miséria em que se encontrava, depois do "crash" da Bolsa em 1929.
Teve a oposição, sim, dos fascistas americanos mas chegou a bom porto e aquele país não mais deixou de prosperar.
Foi esse plano executado pelo partido democrata, depois do grande falhanço da anterior administração republicana.
Isto passou-se em DEMOCRACIA.
Resumindo, nunca o New Deal poderia ser fascista por todos os motivos e mais esse interessante que é o facto de ser combatido pelos próprios fascistas americanos.