terça-feira, 6 de março de 2007

Liberdade para os que querem destruí-la

Existe liberdade para se ser fascista. Liberdade de expressão para gritar «viva Salazar». Liberdade de reunião para fazer saudações nazis em grupo, no Rossio ou em Santa Comba Dão. Existe liberdade, em resumo, para quem quer destruir a liberdade.
Evidentemente, qualquer cretino pode fazer um museu sobre Salazar. Até pode ser um museu privado. Já me parece inaceitável que a câmara municipal de Santa Comba Dão queira usar fundos públicos para um museu desse tipo, quando este não tem quaisquer garantias de defender os valores do Estado democrático. E parece-me ainda mais afrontoso quando penso que há poucos meses a ex-sede da PIDE foi transformada em condomínio de luxo.
Existe uma solução para o problema criado: a intervenção do Estado. O governo poderia encarregar-se de fazer um museu em Santa Comba Dão sobre o regime político do «filho da terra». Se fosse pedagógico e não fosse entregue a um Jaime Nogueira Pinto qualquer, poderia ser útil para a terra e para o regime democrático...

15 comentários :

CN disse...

Com menos brilhantismo, é certo, mas escrevi quase o mesmo.

dorean paxorales disse...

E que tal aplicar os mesmos critérios ao República e Resistência? ;)

Ricardo Alves disse...

Dorean,
o República e Resistência é essencialmente uma biblioteca. Não é uma casa de homenagem a uma personagem anti-democrática...

Anónimo disse...

Existe sempre a tendencia de chutar para o estado a ideia de fazer o dito museo. Porquê?? Para que seja uma copia autorizada de estoria??

É esta a liberdade que se dá depois de trinta anos de democraçia? Nem uma camara municipal pode fazer uma museo sem que o estado (o vosso santissimo estado) meta o nariz??

Quando aprendem que existe a liberdade de pensar de modo diferente do vosso??

Ou será que só existe essa mesma liberdade se eles pensarem como voçês querem que se pense??

dorean paxorales disse...

Discordo. Ser biblioteca é uma questão de forma, não de conteúdo. Por isso mesmo a dita biblioteca se chama "Museu República e Resistência".

Depois, tens razão não faz homenagem a *uma* personagem anti-democrática... No entender de outros, que estão no seu direito, faz homenagem a várias. Fazendo-o, transmite da primeira república a versão histórica que melhor se adapta à ideologia dos seus patrocinadores iniciais.

Que essa versão coincida com a tua não aumenta a legitimidade do apoio municipal lisboeta nem te deveria impedir de reclamar "intervenção estatal".

Quero, contudo, ressalvar, que nada disto me causa impressão e olho com curiosidade intelectual a existência de ambos os museus (que considero até serem complementares - pena é que não possam coexistir na mesma cidade).

dorean paxorales disse...

Ah, e em Monforte a praça central (bonita, por sinal) leva ainda o nome de um famoso ideólogo do integralismo lusitano e "filho da terra": António Sardinha.
Como pode o estado deixar tal afronta passar em branco até hoje, e isto em pleno Alentejo, é um mistério de Brown...

Ricardo Alves disse...

Senhor Tiago,
parece-me que tem de ler outra vez o primeiro parágrafo do meu texto. Parece-me que não o compreendeu. E os outros parágrafos, já agora, também não.

Uma câmara municipal, Senhor Tiago, faz parte do Estado. E sim, tem o direito de fazer os museus que entender. Mas usar o dinheiro público da democracia para homenagear Salazar, tenha lá paciência, mas não. Se querem fazer um museu sobre a ditadura com o dinheiro do Estado democrático, que seja para promover os valores democráticos. Fazer o contrário será estupidez, laxismo ou auto-agressão.

Ricardo Alves disse...

Dorean,
agora fiquei confuso. Conheço a Biblioteca-Museu República e Resistência, no bairro do Rego. Não conheço a outra dependência, no bairro Grandela (em Benfica).

A parte que conheço tem uma sala de exposições temporárias, um auditório, um bar e acesso internete, e uma biblioteca que tem essencialmente livros de política, do tempo da 1ª República e da Resistência ao Estado Novo (recomendo, muitos daqueles livros não se encontram facilmente...). Não me parece que homenageie seja quem for. A menos que aches que ler Cunhal ou Salazar é homenageá-los (eu acho que não e já li ambos).

Quanto à questão de fundo, o Estado democrático tem os seus valores. Fazer um museu a Salazar e deixar cair a casa do Aristides Sousa Mendes não honra esses valores.

David Cameira disse...

" Fazer um museu a Salazar e deixar cair a casa do Aristides Sousa Mendes não honra esses valores. "

TAL SO DEMONSTRA Q QUEM " TRAMOU 2 O NOSSO CONSUL CONTINUA NO PODER, AO MENOS ATRAVÉS DAS SUAS PÉRFIDAS INFLUENCIAS !

Anónimo disse...

Então e os ditos democratas podem estoirar c/ o dinheiro do velho???

Democratas da treta...

Anónimo disse...

O dinheiro... como tu bem dizes é do estado e o estado somos todos nós!! Republicanos, Monarquicos, Salazaristas, Comunistas, Democratas, Liberais etc, etc...

O teu problema é que o tal museo pode ser feito sem a aprovação de sua excelência, Ricardo Alves. Mas isso é o que difere A DEMOCRACIA de outros regimes!!

Se em Santa Comba a camara quer gastar dinheiro com o museu... por mim tudo bem... não vivo lá e e não vai custar a sair do bolso. Já se for o estado central a coisa pia mais fino...

Ricardo Alves disse...

«o estado somos todos nós!! Republicanos, Monarquicos, Salazaristas, Comunistas, Democratas, Liberais etc, etc...»

Certo. Mas o Estado é democrático e não fascista, republicano e não monárquico, etc.

«O teu problema é que o tal museo pode ser feito sem a aprovação de sua excelência, Ricardo Alves.»

Sim. Eu cá quero ter direito de veto em tudo o que se faz neste país... LOL



«Se em Santa Comba a camara quer gastar dinheiro com o museu... por mim tudo bem... (...) Já se for o estado central a coisa pia mais fino...»

Porquê?

Anónimo disse...

Gosto dessa tua maneira de pensar... Isso quer dizer que eu tendo simpatias pelo regime monárquico não sou ou não faço parte do estado?!! Simplesmente porque vivemos numa república?? Sem dúbida o pensamente democratico do dia...

Quanto ao dinheiro... Não sendo um dos terriveis bilionarios envangélicos ( e mesmo que fosse acho eu) não gosto de desperdiçar dinheiro. Na minha terra gosto de escurtinar os investimentos e apontar os desperdicios.

Sendo que não vivemos num regime municipalista no qual os municipios recolhem boa parte dos seus proprios impostos, somos obrigados a estar dependentes das boas (e más) praticas do estado central (na distribuição de recursos).

Dai que diga que se o estado central não colocar o nosso dinheiro na construção de tal museo não me interessa. È uma questão local.

Ricardo Alves disse...

«Isso quer dizer que eu tendo simpatias pelo regime monárquico não sou ou não faço parte do estado?!!»

Senhor Tiago,
leia outra vez o que eu escrevi. Uma pista: no contexto em que foi escrito, «certo» é sinónimo de «sim».

«Na minha terra gosto de escurtinar os investimentos e apontar os desperdicios.»

Tem graça, eu também gosto de escrutinar.

«Dai que diga que se o estado central não colocar o nosso dinheiro na construção de tal museo não me interessa. È uma questão local.»

Olhe que não. A memória de Salazar não é uma questão local. É até mais do que nacional: é uma questão de regime.

Anónimo disse...

O teu "certo" quer dizer exactamente aquilo que pensei...

E é uma questão local, somente uma questão local... bem perto de mim em Leiria quiseram gastar 15 milhões de contos num estádio de futebol... Quiseram e fizeram... Achei errado, mas eles os que lá vivem consideraram um bom investimento!

Quanto á memória de Salazar, cada um vive essa memória como a quer e como a deseja. Ninguém tem o dever de impor regimes e memórias oficiais.

Acho curioso que andes sempre a pregar que as pessoas se devem libertar da religião... para depois (sem nenhum espanto meu) se entregarem á memória e registo oficial do regime! Registo claro que tem de ter a tua aprovação...