sexta-feira, 27 de junho de 2008

Criminosos?

  • «A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, supervisor bolsista, acaba de entregar no Ministério Público uma queixa-crime contra o Banco Comercial Português (BCP). Em causa estão ainda os ex-gestores do BCP, liderados por Jorge Jardim Gonçalves, acusados de entre 2000 e 2002 terem actuado, através de veículos off-shores, com a finalidade de manipular o mercado, lesando os investidores, nomeadamente, os pequenos accionistas.» (Público)

Revista de blogues (27/6/2008)

  1. «Não é difícil enumerar, a título exemplificativo, alguns elementos básicos de um programa europeísta de esquerda para a UE: - incluir nos objectivos do BCE o crescimento económico (tal como acontece no caso do Banco Federal Americano) e o pleno-emprego, corrigindo assim a obsessão exclusiva com a estabilidade de preços; - promover a criação de instrumentos de política orçamental à escala europeia com fins de estabilização conjuntural (para além de um combate efectivo às assimetrias regionais); - eliminar a concorrência fiscal através de um esforço de harmonização da fiscalidade sobre as empresas e sobre os ganhos de capital, impedindo que a livre circulação de capitais na UE continue a corroer a base fiscal dos países e da União; - adoptar uma taxa Tobin Europeia para amenizar os movimentos de capitais especulativos. Vital Moreira não precisa de gastar tempo a explicar que estas medidas são inviáveis no quadro actual da UE. Não temos dito outra coisa. Mas a sua inviabilidade não é técnica ou teórica. Ela deriva de um arranjo institucional que deixa poucas alternativas, mesmo que houvesse para tal maiorias claras entre os cidadãos europeus. É assim mesmo, o neoliberalismo está mesmo no sangue daquilo que é a UE nos dias de hoje.» («E ainda: que tipo de europeísta é Vital Moreira?», no Ladrões de Bicicletas).

  2. «A promiscuidade que se vive entre o Estado (neste caso representado pela sua entidade local-a autarquia) e a Igreja, permite a remodelação de sítios que não são públicos (do pressuposto de estarem sobre a responsabilidade estatal). Confundir freguesia com paróquia transpõe-nos para uma época ida onde os espaços administrativos eram delimitados pelas congregações religiosas. Qual a urgência de beneficiação de tal sítio? Será a sua importância histórica? O seu papel de apoio social? Porque a Igreja (no seu todo), com todo o seu esplendor monetário não remexeu nos seus fundos para suportar as obras de remodelação desta pequena paróquia? Não houve alternativa ao investimento público num sítio religiosamente privado?» («Investir no necessário», no Remisso).

Mugabe Love Sócrates

  • «O vice-ministro da Informação do Zimbabwe, Bright Matonga, agradeceu hoje ao governo português ter embaraçado o Reino Unido ao receber o Presidente Robert Mugabe em Lisboa, durante a recente Cimeira UE/África. Em entrevista exclusiva à Rádio Renascença, Bright Matonga disse que o seu país não tem actualmente nenhum problema com Portugal. “Nós estamos muito orgulhosos pelo embaraço que o governo português causou ao governo britânico… E estou surpreendido pelo facto de os jornalistas portugueses não estarem no Zimbabwe. Eles são bem-vindos!”, disse o vice-ministro aos microfones da RR.» (Público)
É quase sinistro ver o governo que se prepara para roubar as eleições no Zimbabué (Tsvangirai, que parecia poder ganhar a segunda volta, está refugiado na embaixada holandesa) a elogiar o governo português. O Zimbabué poderia ter ficado mais próximo de ser uma democracia. Afinal, poderá descambar na repressão, e o governo português terá desempenhado uma parte neste drama: a de ama-seca do ditador Mugabe.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Violência policial

O caso da repressão desproporcionada da manifestação anarquista de 25 de Abril de 2007 ainda dá que falar:
  • «Um agente do Corpo de Intervenção da PSP poderá ser suspenso por ordem da IGAI, por supostamente ter usado violência excessiva contra manifestantes, no dia 25 de Abril do ano passado. O Ministério Público ilibou-o do mesmo caso. (...) A IGAI considera que o agente agiu com excesso de força e "culpa grave", e propõe a suspensão, mas o Ministério Público (MP) entende que a intervenção policial foi a "estritamente adequada" e mandou arquivar a queixa, segundo documentos a que o JN teve acesso.» (Jornal de Notícias, via O Nadir dos Tempos)
Alguma coisa é melhor do que nada. O essencial é que a polícia aprenda que não está acima das leis. Não se sabe se o caso ficará por aqui.

«Estudo obrigatório das religiões»?!

A propósito disto, ler isto.

Os 100 anos de Allende

Uma exposição no Chile comemora os 100 anos do nascimento de Salvador Allende. Desde 1971 cerca de uma centena de artistas ofereceu obras de arte para um 'Museo de la Solidaridad' que se pretendia que "fosse um espaço de arte e cultura onde se celebrasse a solidariede entre os homens e os povos".

Está explicado o golpe de estado de Pinochet/Universidade de Chicago. :o) Imaginem o que uma ideia destas poderia fazer ao complexo industrial militar do 'mundo livre'.

George Carlin

Os comediantes são quase sempre as melhores válvulas de escape quando as pessoas se sentem infelizes. Nos EUA, desde os anos sessenta, comediantes corajosos como Lenny Bruce conquistaram um espaço onde se pode dizer quase tudo.

Como em Portugal e no resto do mundo, nos EUA há sempre milhões que se ofendem quando se goza com deuses, generais, milionários, políticos e futebolistas. Mas aqui é dificílimo calar os comediantes.

E George Carlin foi uma voz sensata e divertidíssima durante os últimos 50 anos. Morreu no domingo. Vale a pena vê-lo no programa insuportavelmente medíocre do medíocre Dennis Miller em Junho de 2001.

Virar à direita

Obama já começou a tentar sossegar a extrema direita americana. a realidade é esta: dois terços dos americanos são pessoas simples, que vivem no campo e, como diz o Ricardo, acreditam em anjos e nos televangelistas. Não é justo nem democrático que o presidente desta gente toda seja de esquerda.

Obama começou a virar à direita no dia em que Hillary desistiu. A primeira coisa que fez foi nomear um homenzinho um bocado oleoso, chamado Jason Furman, que acha que os pobres não precisam de comer, para chefe dos seus conselheiros económicos.

Nós (eu, pelo menos) passamos a vida a chamar nomes horríveis ao Salazar e ao Franco e ao Mussolini, mas os facistas eram uns meninos de coro ao pé destes neo-cons.

Agora aceitou um compromisso que protege as companhias de comunicações que fizerem escutas ilegais para o estado.

A esquerda desatou aos berros. Mas eu não acho moral que em democracia a esquerda queira impor os seus pontos de vista à maioria. Talvez devesse gastar esta energia a pensar numa maneira de explicar aos campónios que a maioria dos milionários não paga impostos porque comprou os políticos que lhes escrevem as leis, e não porque Deus os abençoou. Por exemplo. Ou a explicar-lhes o que é que o governo faz aos soldados depois deles se tornarem inúteis por perderem pernas e braços, ou desenvolverem síndromas psicológicos que os tornam inúteis para a guerra. Ou a contar-lhes o que se passa, de facto, no Médio Oriente, onde os europeus têm uma colónia onde praticam o apartheid e matam quem se queixa das injustiças.

Obama não é de direita (Clinton era e a mulher dele também). Mas se vier a ser presidente, Obama não pode desatar a resolver os problemas todos do ponto de vista dele: paz, prosperidade, justiça social, educação, liberdade, protecção dos direitos dos cidadãos. Tem de ouvir as pessoas. E as pessoas querem tortura e execuções, igrejas e rezas nas escolas, pornografia depois do jantar, às escondidas, querem ser soldados e matar muçulmanos, criminalizar a homossexualidade e reprimir a sexualidade das mulheres.

Eu demorei imenso tempo a perceber que, por exemplo, aqui no Texas a segurança social é uma coisa que mancha a honra de quem precisa dela. As pessoas preferem não ter dentes do que passar pela vergonha de ter de recorrer à segurança social.

E este é um problema sério: como é que se ajuda a viver melhor uma população que não quer ser ajudada?

quarta-feira, 25 de junho de 2008

A união europeia dos ricos

No El Pais de ontem vinha uma entrevista com Václav Klaus sobre as aldrabices e as máquinas de fumo dos neo-cons em Bruxelas.

Em três ou quatro linhas: "El tratado amplía el déficit democrático de la UE; crea un marco legal aún más complejo y confuso; transfiere más poderes de los Estados miembros a la Unión; elimina el voto unánime en algunas áreas, e incluye cláusulas que pueden cambiar -y por tanto ampliar- las competencias de la UE sin necesidad de la aprobación de los Estados miembros."

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Salazar era fascista

Uma entrevista importante de Manuel Loff sobre o branqueamento do regime salazarista.
  • «É claro que houve fascismo em Portugal. O salazarismo foi a adequação que as direitas portuguesas fizeram de um modelo fascista à conjuntura portuguesa. Neste livro sustento que o salazarismo é claramente o fascismo. (...) José Hermano Saraiva, em determinado momento, chegou a dizer que Salazar teria sido um antifascista, porque teria mandado prender fascistas. O Hitler mandou matar nazis, não é nazi, está visto; Estaline mandou matar 700 mil comunistas, entre 36 e 38, então não é comunista. Isto é absurdo, é óbvio que a pluralidade interna do regime incluía sectores, sobretudo da área intelectual e sectores de uma pequena burguesia mais moderna que do ponto de vista cultural imitava directamente o caso italiano ou caso alemão. (...) Salazar falou da revolução a vida toda! O 28 de Maio não era outra coisa senão uma revolução nacional: o ditador recordou nos anos 30 e anos 60, durante a Guerra Colonial, que era necessário restaurar o espírito do 28 de Maio. (...) Salazar não gosta de utilizar o termo fascista, porque sabe que está a usar um termo criado por estrangeiros, e um ultranacionalista não gosta de dizer que o seu regime é uma imitação. Portanto, fala de um nova ordem, como falavam também Hitler, na Alemanha, Mussolini, em Itália, e Franco, em Espanha. A transformação que a Alemanha estava a produzir na Europa, entendia Salazar, iria consagrar o triunfo dessa via.» (Diário de Notícias)

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Chávez contra a xenofobia europeia

  • «O Presidente venezuelano, Hugo Chavez, ameaçou deixar de fornecer petróleo aos países europeus que apliquem a directiva da União Europeia sobre o regresso dos ilegais, votada quarta-feira pelo Parlamento Europeu. (...) Entre as principais disposições da directiva, conta-se o estabelecimento de um prazo máximo durante o qual os imigrantes ilegais podem ficar detidos, que será de seis meses, ampliáveis a 18 em casos excepcionais. (...) Da mesma forma que os países europeus vão decidir repatriar os imigrantes indocumentados para os seus países de origem, os países da América Latina poderão por seu lado decidir "o regresso dos investimentos europeus", declarou Chavez.» (Público)
A directiva em causa é vergonhosa e, infelizmente, típica da paranóia anti-imigrantes que está a tomar conta da União Europeia. Mas as declarações de Hugo Chávez são pura demagogia vociferante e nada ajudam ao diálogo entre a Europa e a América Latina. É pena.

Delírio

Uma sondagem publicada hoje mostra que 17% dos americanos acham que a América "está no bom caminho!"

:o)

(e vivem todos aqui no Texas...)

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Medo

One Nation Under Fear: Scaredy Cats and Fear-Mongers in the Home of the Brave (And What You Can Do About It)

Um livro de Bob Cesca, de certeza excelente, sobre a estratégia principal da direita: aterrorizar as pessoas. A América rural - mais de metade do país - não mudou muito desde o tempo em que se queimavam bruxas.

Há aliás alguma literatura séria sobre os paralelos óbvios entre as execuções e os autos de fé e outras formas de sacrifícios humanos.

Mas a verdade é que esta estratégia funciona e as pessoas amedrontadas não pensam: são muito mais felizes em magotes, reunidas à volta deste ou daquele cacique.

Como em tantas outras coisas, a FOX, com os "FOX Alerts' diários, é o exemplo mais completo, ignóbil e repugnante de uma máquina de propaganda ao serviço de interesses políticos inconfessáveis.

Apatia

Uma das características mais sinistras deste novo mundo, em que a direita controla os meios de comunicação social mais importantes, é a ausência de consequências para os crimes mais hediondos. Como há liberdade de imprensa, quem sabe onde encontrar a informação nem precisa de procurar muito. Mas o muro de silêncio dos 'corporate media' é um método de censura efectivo.

Abu Graib e Guantanamo, por exemplo. Hoje li esta frase do general Antonio Tabuga no Huffington Post: "After years of disclosures by government investigations, media accounts and reports from human rights organizations, there is no longer any doubt as to whether the current administration has committed war crimes."

Como a imprensa e a televisão só falam da morte súbita de Tim Russert (um jornalista multimilionário, de direita, que comia demais e rebentou) e de uma declaração de Michelle Obama sobre os EUA (que não traduziu o espírito patrioteiro e infantil a que os evangélicos estão habituados por parte dos políticos), não houve reacções.

Como diz um dos patrões da FOX: "Se nós não reportámos, terá mesmo acontecido?"

quarta-feira, 18 de junho de 2008

«Meme ateísta»

O Luís Rodrigues desafiou-me a espalhar o «meme ateísta» (resposta a 10 perguntas e chutar a bola). Seguem-se as respostas e os passes em curva.
  1. Como definirias “ateísmo”? R: A resposta mais correcta será que ateísmo é confiar estritamente na ciência para compreender o mundo. A mais óbvia é a outra, a de não acreditar em deuses, fadas, astrologia, sobrenatural e, sobretudo, na vida para além da morte.
  2. Tiveste uma educação religiosa? Se sim, de que tipo? R: Tive uma educação ateísta.
  3. Usando apenas uma palavra, como descreverias o “design inteligente”? R: Golpe-de-rins.
  4. Que campo científico mais te interessa? R: Neste momento, e no que ao ateísmo diz respeito, tudo o que ajude a compreender como aquilo a que chamamos pomposamente «ética», «valores morais» e quejandos não é apenas uma codificação cultural de predisposições biológicas (e, particularmente, cerebrais).
  5. Se pudesses mudar algo na “comunidade ateísta”, o que seria? R: Qual comunidade? Raio de pergunta.
  6. Se um filho teu te dissesse que tinha optado pela vida clerical, qual seria a tua primeira resposta? R: Que há maneiras mais honestas e mais úteis de ganhar a vida.
  7. Qual o teu argumento teísta favorito e como é que o refutas? R: Gosto muito daquele do «confiar na ciência para compreender o universo é superficial». Respondo que as ideias dos pastores do Médio Oriente há dois mil anos atrás seriam, vá lá, um bocadinho mais superficiais do que as nossas.
  8. Qual o teu ponto de vista mais controverso (na perspectiva dos outros ateus)? R: Seria melhor perguntar aos outros ateus.
  9. Dos “quatro cavaleiros do ateísmo” (Dawkins, Dennett, Hitchens e Harris) qual é o teu preferido e porquê? R: O Dawkins é o mais completo, mas creio que daqui a 50 anos o Dennett é quem será recordado como aquele que fez o debate avançar realmente, ao (tentar) fazer passar o activismo ateísta da refutação científica dos mitos para a explicação científica da existência da religião. O Sam Harris diz-me pouco. O Hitchens é o melhor escritor desses quatro. Mas o ateu que eu mais admiro enquanto tal continua a ser o Tomás da Fonseca.
  10. Se pudesses convencer apenas um teísta a abandonar as suas crenças, quem seria? R: Tendo em conta que a Lúcia Santos já morreu, o melhor que consigo imaginar para a humanidade seria o Bin Laden perder a fé.
Replico o meme para o Ricardo S Carvalho, Boss e Ricardo Pinho.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Eleições nos EUA - ponto da situação

Existe um total de 538 delegados afectos aos diferentes estados. Na esmagadora maioria destes vigora um sistema "winner takes all" (só no Maine e no Nebraska, ambos estados pequenos, é que isto não acontece.

Assim sendo, é possível dividir os estados em três categorias: aqueles em que a vitória de Obama é quase certa; aqueles em que a vitória de McCain é quase certa; e aqueles em que está tudo em aberto.

Na primeira categoria estão a California; Oregon; Washington; Minnesota; Illinois; New York; Maine; Hawaii; Vermont; Massachusetts; Rhode Island; Maryland; Washington D.C.; New Jersey; Connecticut e Delaware. Um total de 200 delegados.

Na segunda categoria estão o Idaho; Arizona; Utah; Montana; Wyoming; Colorado; Texas; Oklahoma; Kansas; Nebraska; South Dakota; North Dakota; Arkansas; Louisiana; Mississippi; West Virginia; Kentucky; Georgia; Alabama; Indiana; Alaska; New Hampshire; Tennessee; South Carolina e North Carolina. Um total de 202 delegados.

Na terceira categoria está a Florida (com 27 delegados); Pennsylvania (21); Ohio (20); Michigan (17); Virginia (13); Missouri (11); Wisconsin (10); Iowa (7); New Mexico (5) e Nevada (5). São 136 delegados em jogo. Para vencer a corrida Obama necessita de conquistar 70 destes delegados, enquanto que McCain apenas precisa de conquistar 68. Isto se nenhuma surpresa ocorrer nos estados da primeira e segunda categorias.

No que respeita a esta terceira categoria, nas Margens de Erro vi os seguintes resultados:



Se estes resultados ocorressem nas eleições, Obama perderia por uma unha negra.
Assim sendo, posso apenas concluir que a vitória de Obama está longe de estar garantida. Mas é possível.

Esperemos que venha a acontecer.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Obama

Vi, finalmente, o filme de Denzel Washington "The Great Debaters" e fiquei a pensar num poema de Langston Hughes que ele começa a recitar na sala de aula, supostamente em 1935:

I, too, sing America.

I am the darker brother.
They send me to eat in the kitchen
When company comes,
But I laugh,
And eat well,
And grow strong.

Tomorrow,
I'll be at the table
When company comes.
Nobody'll dare
Say to me,
"Eat in the kitchen,"
Then.

Besides,
They'll see how beautiful I am
And be ashamed--

I, too, am America.

Se Obama conseguir resistir à máquina de ataque republicana, às mentiras e às fabricações dos media, poderá dizer: "They'll see how beautiful I am, and be ashamed-- I, too, am America."

Era fantástico.

Para a História...

Parece que George W disse na semana passada ao Times Online que tem pena que as pessoas achem que ele era um homem que gostava de guerras...

Bob Cesca desenterrou esta entrevista do candidato George W, em 1999: "One of the keys to being seen as a great leader is to be seen as a commander-in-chief... My father had all this political capital built up when he drove the Iraqis out of Kuwait and he wasted it...If I have a chance to invade...if I had that much capital, I'm not going to waste it. I'm going to get everything passed that I want to get passed and I'm going to have a successful presidency."

Vale a pena ler o texto de Cesca no Huffington Post, sobre a história desta presidência, destes oito anos negros (que ainda não acabaram). O grupo de neo-cons que declarou em 2000: "Nós fazemos a realidade" não se apercebeu que há outra realidade fora das limusinas blindadas, das salas acolchoadas, dos átrios dos hotéis de 5 estrelas e dos media que repetem os comunicados de imprensa das empresas e da Casa Branca sem pensar.

E nessa outra realidade, a dos 99% que não têm razões para comemorar a subida imparável das ações da indústria militar e das empresas subempreiteiras das invasões, o legado desta administração é uma sucessão interminável de crimes, injustiças e mentiras como não houve outra desde 1783.

Dados sobre pobreza

domingo, 15 de junho de 2008

'Democracia' e construção europeia

Os argumentos da direita são um bocado repetitivos e já foram respondidod aqui, julgo eu, umas trinta ou quarenta vezes. Cada vez que se tenta discutir o liberalismo económico e os efeitos tremendos que ele está a ter na vida das pessoas, os comentadores da direita perguntam logo se eu li bem o Tucidites e se percebi todas as implicações das entrelinhas dos textos do Hayek, ou se li bem todo o tratado da UE e se percebi bem cada uma das emendas das não-sei-quantas páginas do tratado de Lisboa.

A verdade é que para não querermos participar na construção desta europa não é preciso ler o tratado, nem o Milton Friedman, nem o Hayek, nem o Tucídites. Basta olhar à nossa volta e ver a erosão do poder de compra e dos direitos das pessoas: escutas, dumping social, desemprego, desinvestimento no ensino público e na saúde pública, negociatas obscuras com as empresas e as mafias económicas, participação activa na invasão de um país soberano para lhe roubar os recursos contra a vontade popular eloquentemente expressa em TODAS as sondagens de opinião relativas à invasão do Iraque.

Não é preciso ler o tratado para saber que a Europa está nas mãos de um gang de cleptocratas perigosíssimo, que tem planos para nos espiar e controlar quem não concorda que se transforme a Europa numa Indonésia enorme.

A directiva Bolkestein, expressa nos termos em que foi primeiro proposta em 2000, é um documento repugnante cujo único intuito era baixar os salários da classe média. Os termos em que foi aprovada em 2006 (mantendo o ‘princípio do país de origem’) já demonstraram ser escandalosamete injustos na Suécia, em 2005, quando uma companhia dum dos países do Báltico (não me lembro qual) apareceu a pagar salários de fome aos seus operários e a competir desonestamente com as empresas Suecas.

A extrema direita apressou-se a apresentar o caso como um problema de liberdade de circulação das pessoas. Mas isto é um problema muito mais simples: é um problema de liberdade das empresas. E eu acho que as empresas já têm liberdade demais: bases de dados de consumidores, acesso directo aos políticos e legisladores e, aqui nos EUA, autorização para efectuar escutas, para policiar, para torturar e para espiar.

Não é preciso ser o Einstein para ver o caminho que a Europa tomou: em onze palavras, a ‘Estratégia de Lisboa’ é ‘tornar a UE a economia mais dinâmica do mundo em 2010’, ou seja, transformar a UE na China, com nuvens de poluição que não deixam ver o sol 365 dias por ano e os trabalhadores vigiados por câmeras e microfones em todo o lado. Isto não é ficção científica: está a acontecer e estes novos conglomerados, onde vivem e trabalham os funcionários das mega empresas chinesas, estão a ser cuidadosamente estudados no chamado ‘mundo livre’.

Na verdade, este princípio das plantações ou das fábricas do século XIX é bom demais para não ser considerado pelos empresários. De facto é melhor que a escravatura, porque as empresas são donas dos trabalhadores mas não têm a responsabilidade de os alimentar.

A única coisa que os empresários precisam para implementar este admirávelmundo novo é de mais liberdade ou, como eles dizem, desregulamentação e flexibilidade.

Democracia e 'construção europeia'

Tem sido grotesco ler nos jornais acerca dos golpes de rins dos políticos que continuam a promover o que eles chamam o 'fortalecimento' da Europa contra a vontade popular. Brown continua a resistir à pressão para promover um referendo, Sarkozy e Barroso falaram imediatamente em continuar com o processo (a vontade popular não conta).

O maior problema do neo-liberalismo económico é que tem de ser imposto à maioria que, como é normal e lógico, prefere regimes mais justos e com uma distribuição da riqueza mais equitativa.

Os políticos que sonham com uma Europa desregulamentada sabem isto muito bem e têm feito os possíveis para evitar o envolvimento dos cidadãos.

A Europa não se discute e os tratados - o de Lisboa incluído - são-nos vendidos com generalidades e promessas de "maior democracia", "maior participação dos cidadãos", uma "participação mais intensa dos parlamentos nacionais", nada de concreto.

E depois vamos lendo sobre a directiva Bolkestein, sobre a inclusão da "religião" como um dos pilares culturais da europa (numa altura em que ninguém vai à missa, não há padres nem freiras, os seminários estão vazios e a maioria das pessoas de bem não quer embarcar nas cruzadas dos evangélicos e do vaticano), ou sobre a semana das 65 horas.

Mas o mais chocante é que os políticos se referem à Europa deles, a das desigualdades e das injustiças, como "a Europa".

Como se uma Europa neo-liberal fosse a única Europa possível. A outra, a Europa democrática e social do pós-guerra, a que nós todos queremos, não está sequer na mesa das negociações.

Quem não é neo-con é nacionalista e é contra "a Europa".

Espero que Brian Cowen tenha a decência e a coragem necessárias para se defender dos ataques brutais e viciosos que a linha dura (Brown, Sarkozy, Merkel, Barroso) lhe está a preparar.

E espero que os cidadãos se comecem a apercer do que se está a passar, há 20 anos: uma concentração da riqueza à qual nenhuma forma de democracia pode sobreviver e uma passagem dos centros de decisão dos parlamentos e governos eleitos para os administradores das empresas e os clãs de multimilionários cleptocratas.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Lisboa morreu, viva a Irlanda

A derrota do «Tratado de Lisboa» no único Estado em que se realizou um referendo é uma vitória para a democracia e um fracasso para o método em vigor na «construção europeia», que se baseia nos acordos de bastidores entre os quatro ou cinco líderes dos Estados do Directório. A principal lição a retirar é que a União Europeia não pode continuar a ser feita à porta fechada e de costas para os cidadãos.

É o momento de repensar a União Europeia a partir das fundações que podem ser comuns na Europa actual: a democracia, a laicidade e a defesa do modelo social europeu. O «Tratado de Lisboa» não o fazia, ao manter um Parlamento Europeu que não pode iniciar legislação, ao implementar o «diálogo» institucional obrigatório com as confissões religiosas, e ao nivelar por baixo as garantias laborais.

Como diz o Ricardo Carvalho, pode ser o momento para convocar uma Assembleia Constituinte Europeia. Ou isso, ou aceitar que a UE pare mais uma década.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

A esquerda dividida

No Canhoto, lê-se um texto muito relevante de Paulo Pedroso.
Primeiro, uma análise correcta da mecânica partidária pós-PREC, que excluiu totalmente a colaboração do PS com a sua esquerda (tirando as eleições presidenciais e alguns episódios na CML).
  • «Portugal tem óbvia governabilidade quando pretende virar à direita, menosprezar as políticas sociais e adoptar medidas económicas liberais e políticas conservadoras: entrega o governo ao PSD sozinho ou em coligação com o CDS.
    O problema está quando os eleitores rumam à esquerda e o PS não tem maioria absoluta. O PS, ou está condenado a governos isolados no espectro parlamentar, como aconteceu a António Guterres e antes ao primeiro governo de Mário Soares, ou a alianças com forças conservadoras que se revelaram sempre contranatura, como no PS-CDS e no Bloco Central.»
Depois, a constatação do «impasse» que esta situação gerou:
  • «Estou convencido que o PS é um partido tímido perante o conservadorismo, reverente perante a Igreja Católica em matérias morais e complexado em relação a sindicatos e movimentos sociais, mesmo que tenha maioria absoluta, porque a sua elite dirigente interiorizou que só nas instituições mais conservadoras pode, quando no governo, desfrutar dos apoios, ao menos tácitos, bem como só com elas pode negociar soluções que permitam ao partido governar o país. Ou seja, a vulnerabilidade do PS ao conservadorismo não é ideológica nem estratégica, é uma adaptação táctica que se eterniza porque se eterniza o impasse.»
Finalmente, a solução de Paulo Pedroso:
  • «Quem quiser levar o centro mais para a esquerda e governar o país tem que exigir ao Bloco que se liberte das heranças da UDP e do PSR e corajosamente pense se pode e quer ser e em que condições a mão esquerda de um Governo de progresso. Há princípios básicos que teria que aceitar - as consequências da participação portuguesa no Euro, na União Europeia e na NATO, por exemplo. Teria que fazer agora o debate que fizeram os Verdes alemães há uma década.»
Se concordo com Paulo Pedroso que o BE, para ser governo, deveria deixar de parecer uma federação de tendências, as questões concretas que refere parecem-me exigir mais uma rendição do que um amadurecimento. Existem sectores da esquerda democrática europeia (embora minoritários) que se opõem a esta União Europeia (Chevènement, por exemplo). Outros (ou os mesmos), desconfiam da NATO. Portanto, nada existe aí de inultrapassável.

Pelo contrário, o partido que se deveria definir é claramente o PS. Concretamente, sobre se a defesa dos serviços públicos e dos direitos laborais, ou a laicidade, são objectivos programáticos para meter na gaveta cada vez que passa pelo governo. É que a «adaptação táctica», após três décadas, já parece ideológica...

«Laicidade» e «laicismo»: como se houvesse diferença

Escrito por Anselmo Borges, o clericalismo espertalhaço do costume:
  • «A laicidade não deve confundir-se com laicismo. Este não se contenta com um Estado neutro do ponto de vista confessional e garantindo a liberdade religiosa de todos. Vai mais longe, exigindo um programa positivo, de tal modo que o Estado reivindica para si uma vocação de transmissão de uma mundividência total do mundo, da vida e da própria morte.»
Em primeiro lugar, se o laicismo exigisse a transmissão pelo Estado de uma «mundividência» (incluindo as questões «totais» da vida e da morte), então não seria laicismo, seria uma forma de religião. Se um Estado transmite uma «mundividência» ou uma crença sobre a vida ou a morte, então já saiu do domínio da laicidade/laicismo para entrar no terreno da confessionalidade de Estado.

Em segundo lugar, o argumento de Anselmo Borges piora quando desce ao concreto. Cita Johannes Rau para dizer isto:
  • «As relações Igreja-Estado são reguladas de modo muito diverso na Europa, indo das Igrejas de Estado na Escandinávia ao laicismo francês. (...) Se o Estado e as Igrejas estão claramente separados na Alemanha, trabalham, no entanto, em conjunto em muitos domínios e no interesse de toda a sociedade. Feitas bem as contas, considero esta a via justa e não vejo qualquer razão para nos associarmos ao laicismo dos nossos vizinhos e amigos franceses».
Se o «laicismo» de que Borges falava mais acima é o que existe na França, gostaria que então me explicassem onde e como é que o Estado francês transmite uma «mundividência» sobre as «questões totais» da vida e da morte. Estarão a falar do monumento ao Soldado Desconhecido?

O Reino Unido volta aos seus velhos hábitos

O Reino Unido, apesar do que dizem alguns anglófilos fanáticos, não é propriamente um exemplo a seguir em matéria de liberdades civis. Regressando à tradição de «leis de excepção» que duram décadas, o governo de Gordon Brown decidiu agora legislar a detenção de «suspeitos», sem culpa formada, durante 42 dias. Seis semanas: é este o tempo que qualquer desgraçado pode passar numa prisão britânica por ter feito... nada.

Como afirma Timothy Garton Ash, na Europa (e nos EUA) existem actualmente duas ameaças às liberdades: a externa (controlada) e a interna (que está a tomar o freio nos dentes). A actual chantagem, feita por aqueles que dizem que a nossa segurança só pode ser garantida sacrificando a nossa liberdade, poderá destruir a nossa civilização. Se não os pararmos.

O dia da raça

Os cavalos lusitanos são mansinhos e generosos e, cruzados com cavalos ingleses até saltam alguma coisa. Não dá para competições internacionais, mas cá para casa são óptimos.

Os cavalos de Alter, coitados, como a família real que os criou, só servem para comer. Não saltam, não correm, não aprendem nada a não ser com muito trabalho e começando cedo demais, e por isso fazem lesões com facilidade. E nem sequer são muito bonitos. São uns coiros que não servem para nada, a não ser para a velha anedota do equitador que chegou a uma taberna em 1908, pediu dois copos de vinho enquanto desapertava o colarinho e exclamava: "Que dia!" O taberneiro disse-lhe: "O senhor parece exausto! tem uma profissão difícil?"

"Nem queira saber!" disse o pobre equitador, "Sou equitador dos cavalos de Alter, sabe?"

"Claro!" Disse o taberneiro, "Os cavalos da família real! Como é que eles são?"

"Umas bestas! Uns animais horríveis, produto de muitas gerações de consanguinidades doentias. Estúpidos, coiros, preguiçosos, os animais mais vis da Criação!" O pobre equitador bebeu um dos copos de vinho de um trago e o taberneiro exclamou: "E pela sua cara, se calhar os cavalos não são muito melhores!"

Dia da Raça (atrasado)

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Mesmo com atraso, não se pode deixar de mostrar a raça que Cavaco verdadeiramente quis homenagear: o genuíno Puro Sangue Lusitano.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Os anos 30 outra vez

O partido republicano inviabilizou hoje um imposto sobre os lucros astronómicos das petrolíferas. De facto, estas companhias têm apresentado lucros de muitos biliões de dólares e continuam a receber subsídios do governo.

Tal como a participação da Espanha e da Inglaterra na invasão do Iraque se fizeram contra a vontade popular, ou a directiva Bolkestein, ou as reduções dos impostos aos ricos, os fretes aos multimilionários que pagam aos políticos e lhes empregam as famílias são, cada vez mais, descaradamente públicos.

Já faltou mais para o clero e a nobreza começarem a mandar a polícia a casa de quem se queixa.

Bola

Peço desculpa por estar aqui a comentar bagatelas sem importânia, relativas ao horário de trabalho dos europeus, quando o país está suspenso à espera que os futebolistas nacionais metam muitos 'tentos' com o 'esférico' no camaroeiro dos inimigos.

Os três estados

Os 27 países da UE acham que o pessoal tem andado a abusar desde o fim do século XIX e resolveram aprovar a extensão da semana de 48 horas.

Eu acho bem. Os pobres não se queixam e os ricos andam muito precisados. Afinal de contas os pobres têm imensa sorte porque qualquer bocadinho de pão os faz felizes e os ricos estão tramados porque um bilhete de avião em primeira classe custa uma fortuna.

Por outro lado toda a gente sabe que as semanas têm 168 horas e que as 65 horas agora propostas em certos casos deixam imenso tempo livre aos cidadãos europeus. Mais de 100 horas por semana!!

Há 91 anos que os comunistas, inimigos da economia, da moral e dos costumes, tinham estabelecido esta realidade onde os preguiçosos e os sindicalistas ditavam as regras e as pessoas tinham férias pagas e segurança social, tudo à custa dos empregadores. Agora acabou-se a pouca vergonha.

Estou aler um livro de George Seldes em que ele conta os argumentos da ICAR contra a proibição do trabalho infantil nos anos 30.

Julgo que mais ano menos ano os nossos representantes em Estrasburgo vão corrigir mais esta situação anómala, em que o estado rouba as crianças à família e ao mundo do trabalho e as obriga a estudar quando elas podiam contribuir para o rendimento da família a partir dos seis anos de idade!

Tenhamos fé! Com os Barrosos, os Butigliones e os Bolkesteins todos da UE podemos estar seguros de que o amor cristão prevalecerá sobre a ideologia materialista que fez da segunda metade do século XX uma idade negra da nobreza e do clero, e deu tanto poder à ralé mal cheirosa e incapaz de respeitar as instituições medievais.

Curiosidade

Não tenho tempo nem paciência para visitar os blogues da direita, mas às vezes fico curioso por saber o que é que os doutores arrojas do país têm a dizer em defesa dos anos Bush. Depois de passarem 7 anos a gozarem conosco, olímpicos, a citarem Tucídites e os utilitaristas ingleses, a reduzirem os nossos comentários, baseados no senso comum mais básico, ao ridículo e à ignorância, adorava saber o que é que eles têm a dizer destes últimos 8 anos de estupidez, corrupção e violência gratuita, agora que já nem o Partido Republicano tem coragem de vir a público defender o indefensável e os neo-cons andam escondidos nos esgotos neo-nazis de onde sairam há quase oito anos.

Kristol, Lieberman e Bauer são os últimos fanáticos em pé. Não pedem desculpa pelo racismo anti-árabe que os inspira, e declararam que vão ao encontro anual dos tarados perigosos CUFI, rezar por um fim do mundo nuclear tão próximo quanto possível.

Lembram-me um certo alemãozinho de bigodes, que se foi enterrando até a única maneira de sair do bunker ser com os pés para a frente...

Dia da raça?!

Ohohoh! Então os fascistas tinham razão e há uma "raça portuguesa"? Isto é absolutamente delicioso! Não se ouvia esta expressão há muitos anos. Como é que se há-de classificar uma expressão destas: "raça portuguesa"? Isto é um sonho! Uma calinada destas nem o taliban Homem das Neves! Ohohoh!

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Revista de imprensa

O artigo sobre o comício Alegre-BE provocou alguma polémica. Como não me apetece entrar nas acusações de «traição», «desonestidade» e insultos correlacionados, nem discutir o currículo político de Alegre, deixo uma pequena resenha das notícias de hoje. «Comida para pensar», como se diz em anglo-saxão.
  1. «Portugal vai empobrecer ainda mais, prevê a OCDE. Já este ano, em resultado da crise, as poupanças das famílias baixam, pelo quarto ano consecutivo, enquanto a escalada da inflação para 3% "come" grande parte dos rendimentos. O desemprego afectará quase 8% dos portugueses» («Portugal está a viver acima das suas possibilidades», no Diário de Notícias).
  2. «A crise que desabou sobre o mundo em meados de 2007, vinda dos EUA, está para ficar e com "uma aterragem muito violenta e prolongada", com "consequências muito negativas para Portugal".» («Daniel Bessa alerta que "situação é mais difícil do que nunca"», no Diário de Notícias).
  3. «Governo, patrões e sindicatos realizaram ontem a última reunião da primeira ronda de negociações sobre a proposta de revisão do Código do Trabalho (CT). Ao fim de um mês de discussões, é quase certo que a UGT dará o aval à proposta do Governo. (...) são parcos os domínios em que a central sindical não esteja em sintonia com a proposta do Governo.» («Código com acordo à vista entre Governo e UGT», no Diário de Notícias).

JCN é um clássico

É com entusiasmo, fervor, e um indisfarçável gozo que a blogo-esfera ateísta e livre-pensadora comenta os artigos de João César das Neves, esse nosso farol (de luz negra). A última peça gerou, pelo menos, estas reacções:
  1. «Momento zen de segunda» (Carlos Esperança)
  2. «As dificuldades de César» (Ricardo Alves)
  3. «O meu ateísmo» (Ludwig Krippahl)
  4. «A Tristeza de uma Crença» (Luis Rodrigues)
  5. «Monday, Monday» (Alexandre Andrade)
Não há dúvidas: que seria de nós sem João César das Neves?

Praxe é crime

  • «As universidades e politécnicos que dêem cobertura a praxes violentas podem mesmo ser condenadas em tribunal. O DN contactou uma fonte judicial que assegurou que, à luz do novo código penal, aquelas instituições de ensino podem ser punidas por crime de omissão. Questionado sobre as consequências práticas da ameaça feita pelo ministro do Ensino Superior na terça-feira, no Parlamento, de denunciar as universidades que permitam praxes agressivas, o juiz adiantou que a partir de agora os tribunais vão poder intervir. "Não o podiam fazer em relação às praxes praticadas até este ano, mas com o novo código passou a estar prevista a responsabilidade penal da pessoa colectiva".» (Diário de Notícias)
Ora muito bem!

quarta-feira, 4 de junho de 2008

A esquerda em movimento

Depois de ter defendido a «renacionalização» de sectores estratégicos da economia, e de ontem ter brilhado num comício (lotado) com o BE e desalinhados de esquerda, Manuel Alegre posiciona-se cada vez mais como o líder da oposição socialista ao PS. Continua a não ser claro, talvez nem para o próprio, se a partir daqui vai derrubar Sócrates por dentro do PS, fundar um novo partido ou ser apenas re-candidato na eleição presidencial de 2011. Em qualquer dos casos, é muito positivo que um sector cada vez mais importante da social-democracia se posicione criticamente face ao neoliberalismo, na defesa dos serviços públicos e dos valores republicanos.

Ministro contra as praxes

É de notar a frontalidade de Mariano Gago ao pronunciar-se contra as praxes nas universidades e politécnicos.
  • «O ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior prometeu ontem denunciar ao Ministério Público "todos os casos" de praxes envolvendo humilhações ou situações de violência que cheguem ao seu conhecimento, quer as denúncias tenham partido "das vítimas, das instituições ou dos órgãos de comunicação social". Mariano Gago avisou ainda que, entre os factos que serão encaminhados para a Justiça, incluem-se "os crimes de omissão" cometidos pelas universidades e politécnicos que não actuem quando tiverem conhecimento dos casos.» (Diário de Notícias)
Espera-se agora que as universidades e politécnicos se comecem a demarcar das praxes, quer deixando de convidar os membros de «conselhos de praxe» para discursatas (onde ajudam ao «folclore»), quer impondo regulamentarmente que não pode haver praxes nos campus universitários.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Manifesto ateísta (AAP)

Na sequência da legalização da Associação Ateísta Portuguesa (AAP), os outorgantes da respectiva escritura saúdam todos os livres-pensadores: ateus, agnósticos e cépticos, que dispensam qualquer deus para viverem e promoverem os valores da liberdade, do humanismo, da tolerância, da solidariedade e da paz.

Os ateus e ateias que integram a AAP, ou a vierem a integrar, aceitam os princípios enunciados pela Declaração Universal dos Direitos do Homem e respeitam a Constituição da República Portuguesa.

O objectivo da AAP é mostrar o mérito do ateísmo enquanto premissa de uma filosofia ética e enquanto mundividência válida. Porque o ser humano é capaz de uma existência ética plena sem especular acerca do sobrenatural, e porque todas as evidências indicam que nenhum deus é real.

A AAP defende também os interesses comuns a todos os que escolhem viver sem religião, defendendo o direito a essa escolha e a laicidade do Estado, e combatendo a discriminação e os preconceitos pessoais e sociais que possam desencorajar quem quiser libertar-se da religião que a sua tradição lhe impôs.

A criação da AAP coincide com uma generalizada ofensiva clerical a que Portugal não ficou imune. Apesar de o ateísmo não se definir pela mera oposição à religião e ao dogmatismo, em nome da liberdade, da igualdade e da defesa dos direitos individuais a AAP denuncia o proselitismo agressivo e a chantagem clerical sobre as sociedades democráticas. O direito de não ter religião, ou de ser contra, é igual ao direito inalienável de crer, deixar de crer ou mudar de crença, sem medos, perseguições ou constrangimentos.

O ateísmo é uma opção filosófica de quem se assume responsável pelos seus actos e pela sua forma de viver, de quem dá valor à sua vida e à dos outros, de quem cultiva a razão e confia no método científico para construir modelos da realidade, e de quem não remete as questões do bem e do mal para seres hipotéticos nem para a esperança de uma existência após a morte. A AAP representa todos os que optem por esta forma de viver e defende a sua liberdade de o fazer.

Na fundação da Associação Ateísta Portuguesa


(Foi sexta-feira.)

domingo, 1 de junho de 2008

«Canalha», «barbas» e «laia»

  • «"Vou mostrar logo à noite [quando forem conhecidos os resultados] como sou diferente dessa canalha que me fez a vida negra, que não tem carácter", disse, adiantando que o grupo a que se referia inclui “pessoas como aquele senhor de barbas que participa na Quadratura do Círculo” (...) lembrou os “tristes, infelizes e barbaramente obcecados” que quando foi ele eleito para a presidência do partido não tiveram a mesma atitude. “Não pertenço a essa laia”, afirmou.» (Público)
«Canalha» com «barbas», e o Menezes não pertence a essa «laia». Será algum talibã?