quinta-feira, 5 de março de 2015

O Carácter de Pedro Passos Coelho - II

Há cerca de um mês, quando escrevi um texto sobre o carácter de Pedro Passos Coelho, ninguém sabia do recente escândalo a propósito das dívidas à segurança social. Face a essa situação, muitos mais têm posto em causa o seu carácter e integridade.

Apesar de me parecer que a gravidade de muito do que já se sabia sobre as escolhas e acções de Pedro Passos Coelho é muito superior ao que foi revelado neste episódio, não me parece uma má opção revisitar o assunto, até porque poderei aproveitar para fazer dois acrescentos.



1) No texto anterior mencionei o escândalo da Tecnoforma. Aquilo que não mencionei foi um facto que passou despercebido durante esse escândalo: a ausência da declaração de rendimentos após o fim do segundo mandato de Pedro Passos Coelho, iniciado em 1995 e que terminou a 23 de Outubro de 1999.
É verdade que Pedro Passos alega ter entregue a declaração, a qual aparentemente teria desaparecido misteriosamente. No entanto, por ter tomado contacto com o Tribunal Constitucional há vários anos atrás a propósito da consulta dessas declarações, fiquei a saber duas coisas:

  • Vários responsáveis políticos "esqueciam-se" de entregar as suas declarações, visto que a mesma lei que previa a obrigatoriedade da sua entrega não previa qualquer pena caso ela não ocorresse. 
  • As declarações estão sujeitas a um apertado crivo de segurança. Qualquer um que as consulte tem de apresentar o BI e uma série de outras informações, e naturalmente o acto de devolução fica registado. 

Perante esta situação, as alegações de Pedro Passos Coelho, que tem revelado tantas dificuldades de memória, parecem-me valer muito pouco. Tendo em conta que a verificação do suposto desaparecimento aconteceu já em Setembro, não creio que tenham sido feitas as diligências adequadas caso se suspeitasse de dolo no desaparecimento desta declaração. Pelo contrário, é a meu ver muito provável que o assunto tenha saído do radar porque a dita declaração nunca foi entregue.



2) Vale a pena rever a entrevista de Fernando Moreira de Sá à Visão. Fala da forma como a manipulação de blogues, fóruns de discussão de notícias, e espaços televisivos abertos ao público teve um papel fundamental para a fazer "chegar Passos Coelho aonde chegou", quer dentro do PSD (face a Rangel, Manuela Ferreira Leite, etc), quer no país.
Só lendo a entrevista se compreende como estas campanhas foram tão bem sucedidas por serem mais "sujas" que as dos seus adversários políticos. Aconselho sem reservas.

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