Neste blogue citei um artigo que explicava porque é que não.
Assumindo agora que existe um sistema de ensino público robusto, complementado por algumas escolas privadas cujo programa curricular é escrutinado (pelas razões expostas nos textos anteriores), interessa lançar outras questões.
A escola deve limitar-se a instruir, deixando outros aspectos da educação para os progenitores?
Alguns dos que o defendem temem que o estado use o sistema de ensino como uma ferramenta de propaganda. A ideia está longe de ser disparatada. A promoção de ideais nacionalistas, de regimes ditatoriais, de valores anacrónicos, tudo isso aconteceu em diferentes escolas pelo mundo fora. Se o estado tem legitimidade para veicular valores, o que nos garante que são os valores certos e não a propaganda conveniente?
O problema desta argumentação está apenas na ausência de alternativas. Se todos os aspectos educativos à excepção da instrução estão nas mãos dos progenitores, o que nos garante que ao educando não está a ser vedado nenhum aspecto educativo fundamental? Há certos sistemas de valores que mesmo que não adopte é importante que tome contacto. Acrescente-se que este contacto não favorece apenas o indivíduo como também a comunidade em que o mesmo está inserido. Isto é ainda mais importante numa democracia, em que os educandos acabam por se tornar eleitores, cujas decisões, mais ou menos responsáveis, afectam toda a comunidade.
E é desta mesma democracia que nos temos de valer para evitar que a educação escolar se torne uma ferramenta de propaganda política. É preciso alguma vigilância para garantir que o sistema educativo da comunidade não se limita à instrução, mas não chega à endoutrinação. Ninguém disse que a democracia era fácil.
6 comentários :
Parece-me perigoso o conceito de que os pais não são os responsáveis máximos pela educação dos seus filhos... Como o autor refere, a tentação de fazer da escola um veículo de propaganda e doutrinação é muito grande. Aliás, há manuais de História do ensino básico com uma clara agenda política...
Por outro lado, a escola deve ser um local de pluralidade e estímulo dos seus estudantes. Com a pluralidade só temos a ganhar!
Efectivamente, a democracia não é nada fácil.
Os pais devem ser responsáveis pela educação dos filhos. Não é só da escola a responsabilidade de acompanhar a educação dos alunos.
Mas parece-me pernicioso que os pais sejam os responsáveis máximos pela isenção do ensino dos seus filhos. A Educação pública deve sobretudo ser isenta. Sem isenção só pode haver uma pluralidade podre. Mas isto toca sobretudo aos métodos e aos conteúdos.
De qualquer forma, sem o apoio da família, o ensino de um aluno só tem a perder. A educação que não somente a formação de uma pessoa depende muito do contexto familiar. E daí surgem consequências para a saúde da democracia.
Não é demais repetir... A democracia não é mesmo nada fácil.
O problema é que a educação nunca será isenta. Os programas e métodos usados serão sempre fruto de uma ideologia, de uma corrente de pensamento...
Por outro lado, uma educação promovida pelo Estado que vai contra a vontade da família parece-me altamente prejudicial e conflituosa: até que ponto terá o Estado direito de interferir assim no plano educativo das famílias?
Obviamente que está fora de causa as situações extremas apresentadas (analfabetismo para ir trabalhar, etc), mas será sempre difícil estabelecer o limite...
jdc:
Imaginemos um caso em que uma família é racista. Creio que deve existir a garantia de que qualquer criança contacta com um sistema de valores no qual a cor da pele é irrelevante. Não só porque isso beneficia a comunidade, mas mesmo porque a criança tem esse direito.
Claro que o estado tanto pode usar o sistema educativo para isso como para o oposto (e já o fez!), mas creio que esse risco não deve fazer com que a sociedade desista e que o sistema escolar público se limite à instrução: deve apenas fazer com que seja mais vigilante.
Sim, claramente que é importante que a sociedade chame para si a responsabilidade de incutir valores básicos nos seus cidadãos através do ensino. Como disse, os casos extremos, como os que refere, são claramente situações em que o Estado pode e deve intervir.
Mas quem decide quais são esses valores básicos? Qual o "intervalo" (perdoem-me a expressão matemática) de valores que a escola deve incutir nos alunos?
Pois, essas duas perguntas já não são tão fáceis de responder.
Aquilo que defendo é que não é porque não têm uma resposta fácil que a escola se deve demitir do seu papel que deve ir além da instrução.
A partir deste ponto de partida, há todo um mundo de discussão em aberto.
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