- «Os defensores do sim assumem que aborto não é como o infanticídio, mas é isso que se discute. O resto é secundário e nem sequer é ponto de divergência; eu concordo com quase todos os argumentos propostos pelo sim. Onde o sim falha é em mostrar uma diferença ética clara entre o infanticídio e o aborto. (...) Uma razão porque tenciono votar “não” é que não estou nada satisfeito que matar um feto seja tão diferente de matar um recém-nascido.»
Primeiro: gostaria que algum dos defensores do «não» me assinalasse um sistema jurídico que seja que penalize (ou tenha penalizado) da mesma forma um aborto (e já agora de primeiro trimestre...) e um homicídio. Segundo: espanta-me que um darwinista como o Ludi não compreenda que existem razões evolutivas básicas para que uma criança seja mais valorizada pelos progenitores do que um feto. Concretamente: o «investimento» biológico, energético, até afectivo contido numa criança é muito maior do que aquele que está num feto, particularmente se for indesejado. (Parece-me que não tenho de aludir ao Dawkins de 1976?) Até aqui, o meu argumento apela à intuição. Mas as leis não reflectem apenas as intuições humanas. No caso do aborto, há o problema prático de a sociedade não se poder ocupar do feto e garantir a sua sobrevivência (e este é um facto biológico que não é contornável). Responder a isto com a falsa analogia da «criança perdida na neve» é retirar o problema do quadro em que se coloca realmente.
Conforme já escrevi, há mais consenso nesta questão do que parece à primeira vista. A dificuldade (irresolúvel) está em que nenhum dos lados da discussão pode traçar uma fronteira entre dois regimes de penalização/despenalização sem começar a contradizer-se (a menos, como é evidente, que se defenda que até o uso da pílula do dia seguinte é homicídio...).
8 comentários :
"gostaria que algum dos defensores do «não» me assinalasse um sistema jurídico que seja que penalize (ou tenha penalizado) da mesma forma um aborto (e já agora de primeiro trimestre...) e um homicídio"
Este defensor do "sim" vem assinalar que na Alemanha nazi e na França de Vichy o aborto podia ser punido com a pena de morte, que imagino fosse também a pena para homicídio.
Miguel Madeira,
não sabia disso. Tens alguma referência (linque, etc?) em que possa aprender mais a esse respeito?
Na Alamenha nazi o Dr. Mengel realizava abortos - até com fins científícos. E que eu saiba nunca foi condenado à morte - pelo menos pelos almães.
Quanto a Vichy , sempre vi nesse regime uma espécie de aborto (político).
É capaz de os comentários acima não terem graça nenhuma. O melhor mesmo é não sermos confrontados directamente com essa questão.
Sei que tanto o Hitler como o Estaline passaram a proibir abortos. Li no "Biliões e Biliões" de Carl Sagan.
Também gostava de ter mais informação a esse respeito.
Talvez o caso mais notório ainda seja o de Ceausescu.
É mais recente e de mais fácil documentação.
Não aprecio essa prática (a do aborto) nem penso que a sua legalizaçãoo seja um mal menor, mas existe.
O actual regime comunista chinês obriga as tibetanas a fazer abortos, ao que julgo, ao segundo filho.
Como é evidente, não penso que os pró-sim concordem minimamente com aquela prática.
«não penso que os pró-sim concordem minimamente com aquela prática»
Pois não...
Os pró-sins (pelo menos aqueles de que sempre ouvi falar)assumem-se sempre como pró-escolha. logo nunca poderiam com uma prática como essa.
falta o concordar, claro
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