quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

Público de hoje e Hayek

No Público de hoje, para além de uma carta de leitor de um tal Ricardo Alves, Secretário da Associação República e Laicidade, vem uma carta de José Manuel Moreira, que fora antecipada ontemO Insurgente, e que critica um artigo de São José Almeida. Nessa, pode ler-se:
  • «[Hayek] sempre insistiu nas críticas à democracia ilimitada. Uma das poucas vezes em que, por insistência do entrevistador, se pronunciou – ainda que indirectamente – sobre a ditadura de Pinochet, foi numa entrevista em Madrid (em 1986). A pergunta era sobre o facto de muitas ditaduras serem frequentemente apoiadas por aqueles que se declaram a favor da economia de mercado. Hayek respondeu:
    “Sim, é verdade. Às vezes as pessoas perdem a paciência e as esperanças, porque têm uma capacidade bastante escassa, e se alguém insiste em levar as suas ideias à prática, é provável que caia na tentação de autorizar algum génio… Mas é um erro, creio que devemos resignar-nos diante do facto de que há metas que não podem ser alcançadas através do controlo deliberado dos seres humanos.”
    »
Acontece que esta entrevista não foi a única em que o guru Hayek se pronunciou sobre Pinochet. Pronunciou-se pelo menos mais uma vez (e de uma forma muito menos indirecta), numa entrevista em Santiago do Chile (em 1981), que já foi citada neste blogue:
  • «Como compreenderá, é possível a um ditador governar de uma forma liberal. E é também possível a uma democracia governar com uma total falta de liberalismo. Pessoalmente prefiro um ditador liberal a um governo democrático a que falte liberalismo. A minha impressão pessoal - e isto é válido para a América do Sul - é que no Chile, por exemplo, assistiremos a uma transição de um governo ditatorial para um governo liberal. E durante esta transição pode ser necessário manter certos poderes ditatoriais, não como algo permanente, mas como um arranjo temporário.»
Deve acrescentar-se que, na mesma entrevista, Hayek refere-se espontaneamente a Salazar com alguma simpatia (o que aliás não deve incomodar, antes pelo contrário, alguns dos seguidores de Hayek n´O Insurgente).
A concluir: é elucidativo que tanto Hayek como Moreira sejam explícitos nas suas críticas à «democracia ilimitada», e também no seu apoio a «regimes autoritários e liberais» (na fórmula de Moreira) ou a «ditaduras liberais» (Hayek)...

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