sábado, 30 de dezembro de 2006
sexta-feira, 29 de dezembro de 2006
Fenando Savater: «Pues sí, laicismo»
Para empezar, dos falsedades: primera, la que opone la laicidad ( hoy ya aceptable a regañadientes por los clérigos menos integristas de cualquier credo) y el laicismo (agresivo, intransigente y enemigo de toda trascendencia espiritual). Sencillamente, es un espantajo. En realidad, las iglesias llaman “laicismo” a cualquier aspecto de la laicidad que no les conviene o que la hace un poco más institucionalmente efectiva. Según esta grotesca nomenclatura, el “laicismo” es la laicidad en marcha y la “laicidad”, el laicismo claudicante o en retroceso. Segunda falsedad, insistir en que constitucionalmente España es un país “aconfesional” y no “laico”, como si lo uno significara que el Estado debe fomentar todas las religiones y lo otro que piensa hostilizarlas a todas. Sandez sobre sandez. El laicismo no persigue a los creyentes (esas persecuciones siempre se hacen por motivos religiosos, incluido un ateísmo elevado a dogma inquisitorial) sino que da campo abierto a todas las creencias por igual, pero en la conciencia de cada cual. Naturalmente no reprime que esa conciencia se manifieste de modo público, pero exige que sea a título privado y no con respaldo gubernamental. Y entre las creencias que ampara esa libertad religiosa está la de quienes opinan críticamente sobre los dogmas religiosos y sus imposiciones morales o pseudocientíficas. Los que hablan de religión para decir “no” son tan respetables a todos los efectos religiosos como quienes dicen “sí”. Voltaire, Freud o Nietzsche son pensadores religiosos, tal como Santo Tomás o Pascal.
Sam Harris: «God’s Enemies Are More Honest Than His Friends»
terça-feira, 26 de dezembro de 2006
Leituras recomendadas (26/12/2006)
- «Por todo o país e em todo o mundo ocidental, não deve haver questão mais premente do que a dos cristãos perseguidos por comemorarem o Natal. (...) Pode ser que a leitora, perdida entre as iluminações natalícias, o trânsito e os horários alargados dos centros comerciais, não se tenha dado conta de que o Natal está para acabar, não sabemos se por decreto. Talvez ao lisboeta lhe tenha escapado isso enquanto fazia o trajecto da “maior árvore de Natal da Europa” (oferta de um banco), atravessando uma Rua Augusta coberta de anjinhos, até um Rossio patrocinado por outro banco (...) Qual é, então, a grande preocupação? É o cristianismo já não ser permitido, já não ser dominante ou já não ser obrigatório? É que a primeira hipótese, apesar de tanto esforço, é muito simplesmente absurda.» («Feliz Natal, ó excelências!», no Cinco Dias.)
- «O púlpito do mais reluzente neo-conismo luso é o jornal Público, que por estes dias continua a promover e difundir uma alegre mistura de factos descontextualizados, opiniões, invenções e paranóias que visam provar essa gigantesca conspiração internacional anti-Natal (...) Na verdade as "proibições" que se lêem no Público são na sua maioria não-celebrações, ou seja, não sujeição a este clima de obrigatoriedade de festejar o nascimento do crucificado oriental. É precisamente para isso que serve a laicidade, para libertar as pessoas de imposições religiosas, para tornar o estado neutro, e cada um, livremente, decidir por si se quer acreditar ou não em estórias da carochinha, e qual a que mais lhe agrada. O que o Público não questiona, e talvez fosse oportuno questionar, são os gastos das autarquias portuguesas com a histeria natalícia. Autarquias que muitas vezes não conseguem servir todos os seus cidadãos de água ou saneamento, mas que estão sempre prontas a largar largos milhares de euros em presépios gigantes de peluche imprudentemente largados em rotundas ou beiras de estrada.» («O Público continua a errar», no Renas e Veados.)
segunda-feira, 25 de dezembro de 2006
Johann Hari: «Why I love the commercialisation of Christmas»
(...)
The slow, steady commercialisation of Christmas over the past two centuries has been an unequivocally positive stride of progress. Far better to worship Mammon – and our friends, and family – than to waste our time worshipping a supernatural being for whom there is absolutely no evidence and a Holy Book littered with repellent ideas. At the end of 2006, a year in which the atheist fight-back against resurgent religion finally began, we should celebrate a nakedly materialist Christmas with glee, not guilt.
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The word ‘materialism’ has been hijacked by the religious as a stick to beat atheists with. While we are staring at the stars, they claim, you are obsessed with the squalid status symbols of life on earth. But if you return to the original understanding of materialism – articulated by the Roman philosopher Lucretius, who lived just before Christ – it is an essential moment in the development of reason. It is simply the claim that all that exists is physical matter. Everything, including your thoughts, is the result of this physical matter combining, separating or rearranging in various ways. These movements have nothing to do with spirits, ghosts or Gods, Lucretius said. They are governed by physical laws. You, me, this newspaper, everything you will ever see – it is all just matter.
(...)
Why should we allow the adherents of this book – even those who choose to ignore its many monstrously immoral passages – to seize our greatest annual festival, one that far predates the birth of Christ? There were winter festivals with trees and gifts on these islands long before a non-virgin gave birth in a Bethlehem stable, and there will be one long after the Judaeo-Christian God has joined Zeus, Baal and Odin in the cemetery for forgotten deities.
This year there has been an attempt by the right-wing press to import into Britain the hilarious Fox News hysteria that claims "the left is waging war on Christmas", as if we were wannabe Grinches tearing down tinsel. That’s not true – but we should be trying to de-Christianize the festival, turning it into a celebration of our existing friends and relatives, rather than a fiction. There’s no need to change the name to ‘Winterval’ – just encourage people to carry on as they are, shunning the churches and turning Brent Cross, the Arndale Centre and (most importantly) the arms of their loved ones into their substitutes.
Of course the Archbishops will resist this, but they speak for a tiny, irrelevant fringe - just 7 percent of Brits regularly attend religious services. This group has become increasingly hysterical this year, claiming that they are being persecuted. The Catholic commentator Cristina Odone, for example, has claimed secularists are "the new fascists" and "the new thought police." But in reality, the religious are given extraordinary and undemocratic privileges. Their representatives are given seats in the House of Lords. Their ideas are protected from insult by law and ring-fenced from ridicule in the media. They are given a vast network of state-funded centres to indoctrinate children, even though more than 70 percent of us oppose these schools. They are allowed to commit repulsive acts of animal cruelty in the creation of halal and kosher meat. They are legally allowed to discriminate against gay men and lesbians. And so on, and on.
(...)
The attempt to restore religion to the heart of a fun pagan festival is another attempt by this tiny religious fringe to battle against their slow eclipse across Western Europe. The commercialisation and secularisation of Christmas is a sign that are failing and flailing.
(...)
Embrace your littleness, embrace the people you love – and have a very merry, very materialist Christmas.»
(Johann Hari.)
domingo, 24 de dezembro de 2006
O “milagre” chileno
A maioria das pessoas esquece-se que os economistas neo-liberais acreditam na doutrina económica neo-liberal com a mesma fé com que os astrólogos acreditam na astrologia, e os homeopatas na homeopatia. Isto não são coisas para serem levadas muito a sério.
E a história do “milagre” chileno (e agora também do “milagre” irlandês) devia ser melhor explicada: se o Bill Gates entrasse no 44, entre o Rossio e o aeroporto, o rendimento médio dos utentes da Carris aumentava muitas vezes.
Mas acho importante clarificar que defender Pinochet é defender o assassinato de políticos democraticamente eleitos e de dirigentes sindicais, o fuzilamento arbitrário de milhares de cidadãos em estádios de futebol, a prisão, tortura e execução de seres humanos por delito de opinião, as valas comuns, os milhares de cidadãos desaparecidos e a injustiça social mais flagrante.
Talvez se os fans de Pinochet vissem "Missing", o excelente filme de Kosta Gavras? Penso que não. Como se diz no Magreb: "A minha opinião está formada; não me venham agora baralhar com factos!"
sexta-feira, 22 de dezembro de 2006
Leituras recomendadas (22/12/2006)
- «Pode ser-se crente e laico, como eu o sou, ou ser ateu e inimigo do laicismo. (...) Não cabe ao Estado dizer o que é ou não religião, se umas são melhores ou piores do que as outras nem fazer qualquer discriminação dos seus cidadãos por motivos religiosos. Se ser a favor da laicidade significa que: Um Estado não deve ordenar os membros do clero, como acontece na China; (...) As organizações religiosas não devem ter benefícios (fiscais e outros) que são negados a outras pessoas colectivas que se dedicam a actividades similares, como se verifica nos Estados Unidos; O Estado, ao legislar, não deve ter subjacentes princípios religiosos, como acontece em tantos países do mundo; A abertura de locais de culto, desde que a expensas dos crentes e em locais adequados à sua edificação, deve ser permitida; A esfera privada, de que faz parte a liberdade espiritual, não deve ser confundida com o individual, já que aquela inclui a dimensão colectiva das associações religiosas ou filosóficas formadas por pessoas que escolhem a mesma opção espiritual;» («Laicidade e liberdade espiritual», no thesoundofsilence.)
- «Lendo alguns blogues, descobri que o blogue O Insurgente anda com tendências fascistas. Desde posts com links para a Opus Dei, a vários posts (...) em que se idolatra Pinochet, a coisa anda mesmo negra por aqueles lados, graças aos posts de André Azevedo Alves e Claudio Tellez. A quem me leia... Liberais dignos deste nome não andam envolvidos com a Opus Dei e muito menos têm saudades de ditadores responsáveis por milhares de torturas e assassínios. É que, explicando o abc a quem se diz liberal, para um liberal a economia de mercado é um mero instrumento para se chegar ao objectivo último de garantir a liberdade máxima a cada ser humano, não constituindo por isso um fim para o qual se justificam todos os meios. Uma ditadura económicamente de direita, não é melhor que uma ditadura económicamente de esquerda.» («Com "liberais" assim...», no Blogue Liberal Social.)
quinta-feira, 21 de dezembro de 2006
Público de hoje e Hayek
- «[Hayek] sempre insistiu nas críticas à democracia ilimitada. Uma das poucas vezes em que, por insistência do entrevistador, se pronunciou – ainda que indirectamente – sobre a ditadura de Pinochet, foi numa entrevista em Madrid (em 1986). A pergunta era sobre o facto de muitas ditaduras serem frequentemente apoiadas por aqueles que se declaram a favor da economia de mercado. Hayek respondeu:
“Sim, é verdade. Às vezes as pessoas perdem a paciência e as esperanças, porque têm uma capacidade bastante escassa, e se alguém insiste em levar as suas ideias à prática, é provável que caia na tentação de autorizar algum génio… Mas é um erro, creio que devemos resignar-nos diante do facto de que há metas que não podem ser alcançadas através do controlo deliberado dos seres humanos.”»
- «Como compreenderá, é possível a um ditador governar de uma forma liberal. E é também possível a uma democracia governar com uma total falta de liberalismo. Pessoalmente prefiro um ditador liberal a um governo democrático a que falte liberalismo. A minha impressão pessoal - e isto é válido para a América do Sul - é que no Chile, por exemplo, assistiremos a uma transição de um governo ditatorial para um governo liberal. E durante esta transição pode ser necessário manter certos poderes ditatoriais, não como algo permanente, mas como um arranjo temporário.»
Revista de blogues (21/12/2006)
- «De facto, a maioria das IVGs faz-se até às 6 semanas (...) com cerca de 56% das intervenções realizada com recurso a fármacos, nomeadamente mifepristone ou a pílula RU-486, o que, segundo Elizabeth Aubény, implica serem os custos da IVG para o Estado Francês bem menores do que os custos do tratamento das complicações derivadas do aborto clandestino. E claro, são eliminadas as consequências do aborto clandestino (infecções generalizadas, infertilidade e morte) (...) há um número elevado de portuguesas que realizam em França o que é criminalizado em Portugal, embora o número tenha diminuido desde que é possível realizá-lo em Espanha.» («O aborto em França e as práticas actuais», no Diário Ateísta.)
- «O campo do "não" agora usa o argumento "às dez semanas já há um coração que bate". Mas, vamos lá ver: o argumento "pró-vida" tradicional era que "a vida começa na concepção" (tanto os óvulos como os espermatozóides são células vivas, mas pronto...). Se a ideia continua a ser essa, o coração já bater ou não às 10 semanas é irrelevante. Assim, ao usarem esse slogan, estão implicitamente (mesmo que involuntariamente) a levarem a discussão para o ponto "que grau de desenvolvimento orgânico o embrião tem de ter para ser considerado pessoa?". Ora, a partir do momento em que o debate vai para esse ponto, porque é que a fronteira há de ser "o coração que bate" e não "o cérebro que funciona"?» («"Um coração que bate"», no Vento Sueste.)
- «(...) há aqui uma confusão tremenda: entre conceitos puros, como liberdade, e conceitos instrumentais, como democracia, totalitarismo e ditadura. Depois (...) a aplicação que aqui se faz à liberdade como restrita à esfera individual não faz qualquer sentido: quanto maiores as liberdades civis, maiores as liberdades individuais, pelo menos se se quiser pensar estes conceitos como relativos à totalidade dos seres humanos- será de modo diferente, sem dúvida, numa sociedade de tipo aristocrático, mas isso, presumo eu, não é opção que se deva sequer colocar.» («Ethos "liberal"», no 2+2=5.)
quarta-feira, 20 de dezembro de 2006
Democracia e «liberais»
O pseudo-«milagre» chileno
segunda-feira, 18 de dezembro de 2006
Futebol: e o consumidor não se queixa?
sábado, 16 de dezembro de 2006
Aborto na Nova Guiné
Aquele povo vive com uma tecnologia da idade da pedra. Mas sabem recolher substâncias na floresta para fazer abortos.
quinta-feira, 14 de dezembro de 2006
Revista de blogues (14/12/2006)
- «Augusto Pinochet lá faleceu (...) Calculo que a esta hora já tenham surgido alguns obituários menos sombrios, sempre salientando as maravilhas do dito "milagre económico chileno", que terá ocorrido sob a batuta dos Chicago Boys de Friedman. Uma nova versão dos comboios a horas dos fascistas (...) em 1973, quando Pinochet tomou o poder, a taxa de desemprego no Chile era de 4.3%. Em 1983, depois de 10 anos de liberalização selvagem, já atingia os 22%. Os salários reais baixaram 40% sob o governo militar. Em 1970, 20% da população do Chile vivia na pobreza. Em 1990, quando o ogre saiu do poder, este número duplicara (...) entre 1972 e 1987, o PNB per capita caiu 6,4%.» («Pinochet e o milagre com pés de barro», no Aspirina B.) Ver também, no Spectrum, uma curiosa homenagem a Pinochet.
- «Uma mulher que nunca, mas nunca teve uma relação sexual não protegida (...) Essa mulher terá tido, suponhamos, a menarca aos 15 anos e a menopausa aos 50. Façamo-la ter 2 filhos e iniciar a sua actividade sexual aos 17 anos, tendo 1 relação sexual por semana como média. (...) Dos 17 aos 50 anos são 33 anos. Retiremos uns 3 anos por ter tido 2 gravidezes, dá 30 anos de fertilidade, ou seja, 1560 semanas. (...) Consideremos uma taxa de eficácia dos métodos contraceptivos que usa de 99,5%. Se fizerem as contas chegarão à conclusão que há probabilidade que 1,5 relações resultem numa gravidez... que esta inconsciente (...) possa escolher não querer assumir este azar é algo que muita gente anda a defender.» («Um exercício fútil e idiota mas às vezes dá vontade de o ser...», no Womenage A Trois.)
- «Nuno Rogeiro aceitou participar na palhaçada iraniana sobre o Holocausto. (...) Escreveu mesmo um texto para a nobre ocasião. Não sendo negacionista, Rogeiro deu a sua caução a este acto de provocação. (...) A participação de Rogeiro neste zoológico – no mesmo momento em que a oposição iraniana se manifesta corajosamente contra Ahmadinejhad – é uma vergonha. Fosse alguém do quadrante político oposto a fazê-lo e, dissesse o que dissesse no encontro, estaria neste momento a ser feito em picadinho. E com toda a razão.» («Caução», no Arrastão.)
quarta-feira, 13 de dezembro de 2006
Frase do dia
- «Se afastas toda e qualquer oposição, matas os indesejáveis, privatizas tudo, incluindo o sistema de pensões, e impedes a manifestação sindical, é mais fácil que a economia cresça» (Diário de Notícias).
terça-feira, 12 de dezembro de 2006
Pró-Criminalização do Aborto
Li mais uma vez as opiniões todas deles e não encontrei nada de novo. Excepto aquele sentimento familiar a quem vive aqui com os idiotas dos evangélicos do sul profundo dos EUA, sempre prontos para mandar vir fogo e enxofre, sempre contentes quando se trata de punir, especialmente se as vítimas são fracas ou indefesas.
Quando lhes cheira a sangue perdem a cabeça. Regalam-se com as desgraças alheias na televisão, vão dançar para a porta das prisões em dias de execuções, pedem a pena de morte para todos e por tudo e por nada, e sabe-se que se pudessem não perdiam uma execuçãozinha pública todas as semanas, levavam os filhos, etc.
E eu, que como todas as pessoas normais sou pró-vida, isto é, adorava viver num mundo em que não fosse necessário recorrer à IVG, não me revejo em nenhum dos comentários daquele blog medonho (já não me lembro do nome e são todos iguais).
Todos os pró-criminalização escrevem como se a criminalização do aborto resolvesse alguma coisa: acabasse com os abortos, por exemplo.
Não li nem uma palavra contra a miséria, o machismo, a ignorância, a falta de educação sexual nas escolas, o direito dos jovens a uma vida sexual saudável e sem culpas medievais e supersticiosas, o uso do preservativos e contraceptivos, a destruição da vida familiar pelos horários de trabalho brutais e os tempos de transportes públicos que o capitalismo selvagem impõe, a violência e a sexualidade distorcida e gratuita que nos é impingida pela comunicação social (para vender anúncios), o negócio repugnante dos jogos de computador, a estupidez da guerra demográfica que a direita apregoa (com argumentos do género: se não nos reproduzirmos, as nossas filhas vão ter de casar com magrebinos), etc.
Começo a achar que os pró-criminalização daí são como os de cá: não querem resolver o problema, querem é punir as desgraçadas que não têm dinheiro para ir a Espanha fazer um aborto legal.
Revista de blogues (12/12/2006)
- «Perdida a honra e a guerra é preciso salvar o maior número de soldados do atoleiro. Dá-se o dito por não dito para fugir o mais depressa possível. E ainda há quem tente justificar os falcões que, sob a égide de Bush, fomentaram a mais desastrada guerra, que fragilizou os países democráticos e civilizados.» («A tragédia iraquiana», no Ponte Europa.)
- «Em 81, era eu uma jovem divorciada com duas filhas, uma vizinha quarentona perguntou-me se conhecia algum médico que fizesse abortos, porque, vá-se lá saber porquê, descuidadamente tinha engravidado dentro do seu matrimónio abençoado pela Igreja Católica (...) em Agosto de 83 fiquei grávida do meu terceiro e último filho (...) casualmente encontrei a já referida senhora que estava chocadíssima e queria à fina força que eu também estivesse, atendendo ao tamanho da minha barriga, com os senhores deputados {um deles era o Guterres} que iam aprovar o “infanticídio” (...) É esta gente que em Fev. vai votar Não, em consciência, com pena dos pobres embriões. Das outras, é claro.» («O Glória Fácil feito pelas suas leitoras», no Glória Fácil.)
- «A liberdade exige sempre a remoção dos obstáculos que impedem o indivíduo de atingir os seus objectivos de vida; ora em múltiplas circunstâncias da vida social, a não-interferência dos poderes públicos na esfera individual é insuficiente para a garantir. (...) A crítica das Luzes (...) tem fios condutores, o primeiro dos quais será a afirmação da desigualdade essencial (e não meramente social) do género humano – chamemos-lhe o diferencialismo; na sua versão aggiornata e pós-moderna (...) comporta a fetichização das marcas distintivas do tribalismo social, véu islâmico incluído.» («O véu e a esquerda», no Cinco Dias.)
- «E pronto: nove euros e cinquenta e 157 páginas depois, lá acabei de ler, confesso humildemente, o livro de Carolina Salgado (...) como novidade, fiquei a saber que Pinto da Costa gosta de brincar ao lobo mau e ao capuchinho vermelho e que tem grandes problemas de flatulência que Carolina Salgado, decerto com imenso prejuízo para a sua própria saúde, se via obrigada a disfarçar acendendo sucessivos cigarros. O resto, do pouco mais do que o livro conta, já afinal toda a gente sabia: que Pinto da Costa influencia a arbitragem dos jogos de futebol (...) que mandou sovar um antigo vereador da Câmara de Gondomar (...)». («O Lobo Mau», no Random Precision.)
Pontas soltas: uma pergunta por responder e uma falsa analogia
- Reconhece que na «evolução houve uma enorme pressão selectiva favorecendo fortes instintos de protecção do recém nascido», mas que «a gestação esteve fora do alcance das nossas decisões voluntárias, pelo que não surgiu na nossa linhagem um instinto de protecção» da vida intra-uterina. Seguidamente, argumenta que por valorizarmos mais, instintivamente, a vida humana pós-nascimento, não devemos necessariamente legislar no sentido de desproteger totalmente a vida intra-uterina. Pois. O problema é que depois entra em contradição quando começa a discutir uma «ética normativa» que aplica ao aborto e ao infanticídio, e da qual parece deduzir que o infanticídio deve ser mais grave do que o aborto, e menos grave do que o homicídio. Chega a afirmar, respondendo a uma questão minha, que «deve ser muito mau» um sistema jurídico que penalize da mesma forma o aborto e o homicídio. Essa parte do texto é um bocado sumária, e eu fico sem perceber: deve ser muito mau porquê? Qual é o critério que leva o Ludwig a aceitar que o homicídio e o aborto tenham consequências penais tão distintas?
- Noutro aspecto, temos a falsa analogia que o Ludwig Krippahl insiste em fazer entre o aborto e o pai que abandona a criança na neve. Por favor. Um pai que abandona uma criança na neve, para além de criminoso é estúpido: poderia facilmente entregá-la para adopção sem cometer qualquer crime. É muito diferente obrigar uma mulher a levar uma gravidez até ao fim só porque achamos que o embrião tem direitos sobre a própria mulher. E insisto: é um facto biológico que o embrião está na dependência da mulher. O Ludwig diz que esta «é uma mera limitação técnica circunstancial». Seja. Mas as leis são feitas para as circunstâncias técnicas actuais, não para as hipóteses da ficção científica. E portanto, enquanto não existirem úteros artificiais, faremos uma lei que dê à mulher a possibilidade de escolher no primeiro trimestre. Por isso, votarei «sim» no dia 11 de Fevereiro.
Um mistério
Para mim o mistério é que os republicanos decentes e razoáveis tenham levado seis anos a perceber que os neo-cons eram um grupo de sociopatas sem eira nem beira (há muito que os democratas não percebem nada de nada e vivem deitados no chão, pensa-se que para facilitar a vida à direita evangélica que tanto prazer tem demonstrado em lhes dar pontapés na cabeça).
Ontem estava a ver (sem som) a cara de William Kristol a contorcer-se na FOX, certamente a tentar explicar os seis anos ruinosos que o planeta sofreu desde que ele e os idotas como ele tomaram a Casa Branca de assalto (com a ajuda de James Baker, é bom não esquecer). Tarde demais: apesar da propaganda 73% dos americanos acham hoje que a invasão do Iraque foi asneira.
Old boys network
Pode ser que um dia esta lei ainda sirva a Blair, quando se fizerem as contas às vítimas da invasão do Iraque.
segunda-feira, 11 de dezembro de 2006
Daniel Dennett: «Thank Goodness!»
Morreu um grande (neo)liberal
quinta-feira, 7 de dezembro de 2006
Ainda a IVG: investimento, fronteiras, etc.
- «Os defensores do sim assumem que aborto não é como o infanticídio, mas é isso que se discute. O resto é secundário e nem sequer é ponto de divergência; eu concordo com quase todos os argumentos propostos pelo sim. Onde o sim falha é em mostrar uma diferença ética clara entre o infanticídio e o aborto. (...) Uma razão porque tenciono votar “não” é que não estou nada satisfeito que matar um feto seja tão diferente de matar um recém-nascido.»
Primeiro: gostaria que algum dos defensores do «não» me assinalasse um sistema jurídico que seja que penalize (ou tenha penalizado) da mesma forma um aborto (e já agora de primeiro trimestre...) e um homicídio. Segundo: espanta-me que um darwinista como o Ludi não compreenda que existem razões evolutivas básicas para que uma criança seja mais valorizada pelos progenitores do que um feto. Concretamente: o «investimento» biológico, energético, até afectivo contido numa criança é muito maior do que aquele que está num feto, particularmente se for indesejado. (Parece-me que não tenho de aludir ao Dawkins de 1976?) Até aqui, o meu argumento apela à intuição. Mas as leis não reflectem apenas as intuições humanas. No caso do aborto, há o problema prático de a sociedade não se poder ocupar do feto e garantir a sua sobrevivência (e este é um facto biológico que não é contornável). Responder a isto com a falsa analogia da «criança perdida na neve» é retirar o problema do quadro em que se coloca realmente.
Conforme já escrevi, há mais consenso nesta questão do que parece à primeira vista. A dificuldade (irresolúvel) está em que nenhum dos lados da discussão pode traçar uma fronteira entre dois regimes de penalização/despenalização sem começar a contradizer-se (a menos, como é evidente, que se defenda que até o uso da pílula do dia seguinte é homicídio...).
Revista de blogues (7/12/2006)
- «Há algumas coisas que se vão sabendo sobre a questão dos voos da CIA, na sequência dos trabalhos da Comissão do Parlamento Europeu: Por toda a Europa houve governos que, no mínimo, fecharam os olhos a actividades ilegais da CIA (...) Portugal é um dos países que apoiaram a invasão do Iraque e em que se fechou os olhos a que pudessem ser cometidas violações dos direitos humanos em território português. Se o foram ou não, de facto, é provável que tenha dependido mais da necessidade dos americanos de o fazerem do que de outra coisa qualquer. Mas, de facto, parece que não se passou em Portugal nada de muito diferente do que se passou por toda a Europa.» («Às voltas com os voos da CIA», no Canhoto.)
- «A democracia portuguesa já não seria uma fraude se o cargo de Chefe de Estado fosse de nomeação vitalícia, mesmo que o ilustre herdeiro designado se viesse a revelar um reaccionário imbecil, retrógrado e enfeudado a uma religião, ou fosse, enfim, uma besta qualquer que o povo tivesse de aturar (como tantas vezes já sucedeu) para o resto da sua vida.» («El-Rei Dom Chouriço», no Random Precision.)
- «Parece-me que existe uma analogia óbvia entre o que o Estado deve fazer no domínio económico para assegurar as condições da autonomia pessoal e a intervenção que também deve ter, noutros domínios da esfera social, para assegurar os mesmos fins. O ethos do liberalismo confunde-se com a salvaguarda da autonomia individual necessária para a prossecução dos projectos de vida de cada um, independentemente do seu estatuto social de origem; se para alcançar esse fim, o Estado se deve abster de intervir, pois que se abstenha; se deve em vez disso intervir, para libertar o indivíduo do abraço da comunidade em que nasceu, pois que intervenha também - porque o respeito pela diferença de cada comunidade cultural é condicional à sua própria aceitação da diferença no seu interior, e a proeminência ôntica dos indivíduos sobre os grupos deve conduzir o Estado a tolerar a sua existência apenas e se essas comunidades tolerarem que os membros que lhes pertencem, maxime por nascimento, possam a qualquer momento pensar diferentemente e decidir abandoná-las.» («Uma resposta», no Cinco Dias.)
quarta-feira, 6 de dezembro de 2006
Os «liberais» que são contra a liberalização
- «a grande batalha dos defensores do "Não" (...) é esclarecer a opinião pública sobre o que está realmente em causa: a liberalização total e subsidiação do aborto até às 10 semanas».
Há defensores do «não» que são ainda mais explícitos na equivalência entre «liberalização» e «apoio do Estado»; é o caso de Jorge Ferreira. O curioso é que as mesmas pessoas são capazes de usar a palavra «liberalização», noutros contextos, com o sentido oposto de retirar o apoio do Estado.
Quanto ao que realmente importa: como já escrevi, o referendo não instituirá uma obrigação do Estado de subsidiar interrupções voluntárias de gravidez. Essa questão é de prática governamental e não de legislação. Mas desconfio que terei que repetir isto cinquenta vezes até dia 11 de Fevereiro...
Dois factores que podem fazer a diferença
- O PSD, que em 1998 tinha apenas três deputados pelo «sim», hoje tem pelo menos dezassete. Se esta alteração for indicativa de uma evolução favorável à despenalização no eleitorado da direita moderada, pode significar um acrescento significativo aos votos pela liberdade de escolha. (Pelo contrário, as «infiltradas» democratas-cristãs e anti-escolha da bancada do PS são no mesmo número de 1998.)
- Os jovens estão mais virados para o «sim». Segundo uma sondagem que dá 61% ao «sim», 74% dos jovens (18-34 anos) votarão pela escolha da mulher. Boa parte deste eleitorado não tinha direito de voto há oito anos atrás...
terça-feira, 5 de dezembro de 2006
Camarate é uma questão de fé
Crime público
Parece uma anedota de mau gosto, mas infelizmente é mesmo verdade: o templo do prazer onde se comiam peixinhos da horta, favas com entrecosto e pataniscas, tudo regado com bom tinto, foi comprado pela seita dos seguidores de Josemaría Escrivá, os alienados que odeiam o prazer, cultuam a dor, se flagelam, se privam de tudo o que é bom e tentam proibir os outros de se divertirem.
Desta vez ganharam. Alguém que os espetasse numa cruz...