Numa entrevista ao Diário de Notícias, Ruben de Carvalho faz uma análise politicamente correcta do BE como fenómeno eleitoral:
«Associo o êxito do BE a dois fenómenos. Em primeiro lugar, o BE agrega um conjunto de activistas e eleitorado que vem da extrema esquerda, um eleitorado que antes do aparecimento do BE engrossou a abstenção. E, em segundo, o BE teve uma grande capacidade de atracção sobre o eleitorado de esquerda do PS. O que coincide com o crescimento do BE é a viragem à direita da política do PS.»
Tudo isto é essencialmente verdade, mas eu acrescentaria que o crescimento do BE não se deve apenas às dificuldades do PS em assumir posições consequentes em matérias de «costumes» (IVG, homossexuais, etc.) mas também da incapacidade do PCP em integrar essas reivindicações. O resultado é que o BE, embora se apresente a eleições com um programa cautelosamente social-democrata, tem um eleitorado muito mais «à direita» do que os seus militantes. As consequências a prazo são difíceis de prever, mas, enquanto não houver uma clarificação à esquerda, vitórias como a de 20 de Fevereiro arriscam-se a aparecer, no futuro, como meramente conjunturais. As dificuldades em constituir uma plataforma para a CML que inclua pelo menos dois partidos são um mau sintoma, e a ausência de um candidato presidencial ganhador é uma nuvem (pesada) no horizonte...
1 comentário :
«...a incapacidade do PCP em integrar essas reivindicações.»
Os homossexuais, sim; agora, a IVG, não!! É uma causa histórica do PCP.
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