As experiências de Milgram foram
experiências polémicas em que os sujeitos infligiam choques elétricos (falsos,
mas eles desconheciam-no) a mando do experimentador, a um “sujeito cobaia”, que
fingia sofrer em resposta. Estas experiências são conhecidas por terem
demonstrado o que os psicólogos sociais designam por situacionismo, a ideia de
que o comportamento dos indivíduos é determinado em grande parte pelo que se
passa à sua volta.
Emmy Noether |
Em Portugal a situação das mulheres na
sociedade e, em especial, a participação das mulheres na “Coisa Pública” mudou bastante
desde há 133 anos.
Aquando da implantação da República as mulheres
orgulharam-se também de … terem costurado e bordado a bandeira! E houve uma
mulher que conseguiu votar – uma vez - porque era
chefe de família. Depois, deixou de ser assim e só lentamente, após mais de 60
anos, em 1974, o direito de voto se tornou universal e pleno em Portugal.
A
participação política das mulheres é hoje aberta a todas que quiserem participar,
mas … só no voto! Apesar de a partir de 2006, a lei conhecida como “Lei da
Paridade”, vincular a representação de no mínimo 33% de candidatos de ambos os
sexos nas listas eleitorais para a Assembleia da República, para o Parlamento
Europeu e para as autarquias locais, as mulheres continuam sub-representadas
nos cargos políticos de liderança. Com níveis de participação feminina nos
cargos ministeriais atingindo os 20% apenas em 2009, sem uma única Presidente
da República em Portugal e com uma única primeira-ministra, Maria de Lourdes
Pintassilgo, nomeada presidencialmente em Agosto de 1979 e que governou durante
apenas 6 meses. No atual governo, a aparente evolução nos números dos
ministérios, com 4 ministras (27%) num total de 15 ministros e ministras, é
contrariada pelo número de secretárias de estado: três (8%) num total de 38 secretarias!
Em 2013, dos 308 Presidentes de Câmara Municipal eleitos, apenas 23,
correspondendo a 7.5%, eram mulheres!
Se a
população portuguesa fosse constituída por 20 a 30% de mulheres talvez estes
números fizessem algum sentido! Mas de facto, não existindo atualmente qualquer
diferença significativa entre a percentagem de homens e de mulheres que exercem
o seu direito de voto e que pagam impostos (!), só podemos concluir, que as
mulheres não estão devidamente representadas nos lugares de decisão. E que,
apesar de estarmos ”habituados à situação”, essa fraca representatividade não é
democrática!
Em suma, a
“Lei da Paridade” de 2006, muito embora tenha elevado o número de deputadas até
valores mínimos aceitáveis no parlamento, não é suficiente para ultrapassar a
fasquia que antecede os cargos de liderança politica. É necessária uma nova
atitude da parte dos partidos políticos e é necessária uma nova atitude da
parte da sociedade!
Cabendo ao
estado refletir a matriz da sociedade, mas também, e sobretudo, impulsioná-la no
sentido do progresso, os números relativos às mulheres em cargos políticos de
liderança são afinal um reflexo daquilo que não está a ser feito. Algumas das
causas apontadas para o persistente afastamento das mulheres de cargos
políticos prendem-se com o funcionamento dos partidos: o domínio dos aparelhos partidários
por elites masculinas, os modelos de decisão política centralizados nessas
elites e a ausência de uma pressão social suficientemente forte para tornar o
tema apetecível como trunfo na competição eleitoral.
Para alguns
destes problemas temos soluções na Candidatura Cidadã LIVRE/Tempo de Avançar,
pois queremos melhorar as regras do jogo político em Portugal, através da
promoção de um processo democrático inclusivo, descentralizado e deliberativo,
em que cada cidadão e cidadã possa participar, apresentando propostas e
discutindo ideias, em condições de igualdade. Teremos listas de candidatos à
Assembleia da República eleitos em eleições primárias abertas a todos,
respeitando a paridade de género no sentido estrito. E no sentido de dar
visibilidade à questão da sub-representação das mulheres e de outros sectores
da população no processo de decisão político, organizaremos e promoveremos
debates e eventos locais. Para as questões que ainda não identificámos e para
aquelas que andamos a debater em busca de soluções, contamos convosco, cidadãos
e cidadãs, para decidir em conjunto o nosso futuro comum!
Publicado em 26 de Março de 2015 no Distrito Online
1 comentário :
Teremos listas de candidatos à Assembleia da República eleitos em eleições primárias abertas a todos, respeitando a paridade de género no sentido estrito.
Como é possível eleger livremente uma lista mantendo a paridade de género respeitada? Não entendo. É que, se toda a gente votar para que estejam homens na lista, então a lista não respeitará a paridade de género.
Se se quiser impôr a paridade de género na lista, então ela não poderá ser livremente escolhida.
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