Henrique Pousão, "Casa rústica em Campanhã", MNSR
O texto seria a
propósito deste outro, no Jugular, e da leviandade com que nele se sugeria que
uma povoação de 15 000 pessoas "não deveria existir": deveria estar
integrada numa grande cidade como Coimbra. A fazer lembrar os realojamentos em
massa promovidos na Roménia de Ceausescu.
Na altura
desloquei-me ao Museu Soares dos Reis, no Porto, e fotografei a pintura de
Henrique Pousão na figura, testemunho das origens do João, autor do texto do
Jugular em questão e de muitos outros. A minha ideia seria ilustrar que tal
proposta não vinha da cabeça de um lisboeta. (Pela blogosfera choveram
respostas ao texto do João com a acusação fácil de que o autor era "de
Lisboa". Nada mais injusto para o João, natural de Campanhã e adepto do FC
Porto. E já agora nada mais injusto para os lisboetas.)
Na altura não
tive tempo de escrever a resposta ao João, e como acontece tantas vezes na
blogosfera, o assunto saiu da ordem do dia. Mas desde então o João passou a
ser, para mim, carinhosamente (acreditem: carinhosamente), o "Ceausescu de
Campanhã".
Não sei se o João acharia grande piada à alcunha. Escrevi no mesmo
blogue que ele (o "Cinco Dias", na altura uma deliciosa manta de
retalhos) durante quase um ano. O João saiu na altura da cisão que deu origem
ao Jugular, e pouco depois saí eu. Tenho o prazer de conhecer e ser amigo de uma
grande parte dos autores do Jugular, e sempre achei que chegaria o dia em que
conheceria o João. Em que lhe diria que para mim, desde aquele texto sobre os
"fanáticos da ruralidade", ele era o "Ceausescu de
Campanha". Tinha a esperança de que talvez ele achasse graça. De que talvez até ficássemos amigos. Mas não pude fazer nada disto, e infelizmente não poderei mais fazê-lo, uma vez
que o João faleceu hoje. Tenho pena de não o ter feito, mas tenho ainda mais
pena de não poder continuar a lê-lo.
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