No início da presente situação política, escrevi aqui que «a Constituição não fica anulada com uma simples maioria conjuntural». Efectivamente, tendo um Presidente que nunca prometeu sê-lo «de todos os portugueses», uma maioria (mesmo bipartidária), as principais câmaras municipais (à excepção de Lisboa) e um governo «desculpado» pela tróica, Passos Coelho e os seus capangas tinham todas as condições para fazer uma mini-revolução. Todas, menos uma: a Constituição continuava, e continua, em vigor. E Portugal não é a Venezuela, onde se fazem plebiscitos à Constituição com base em maiorias referendárias conjunturais a mando do poder eleito do momento.
Passaram-se quase dois anos e a Constituição mostrou-se a mais eficaz força de defesa da democracia liberal portuguesa e do Estado social. Ambos os orçamentos propostos até agora foram considerados inconstitucionais. Se o Presidente não fosse tão sectário (é isso que esconde a máscara de silêncio), um teria bastado para demitir o governo. O «regular funcionamento das instituições» está em causa, como dizia Alegre há dias.
E, para lá da Constituição, acontecimentos como a demissão de Relvas (aparentemente despoletada por um relatório da Inspecção Geral da Educação e Ciência), a absolvição de Myriam Zaluar num caso de tentativa de limitação à liberdade de manifestação, ou ainda o bloqueio legal (por associações cívicas) dos «dinossauros» autárquicos, mostram como os poderes ficalizadores (a «justiça») limitam o poder dos políticos.
A própria limitação da «resistência constitucional» é que ao TC não compete demitir o governo. E este Presidente dificilmente o fará.
1 comentário :
Bem a propósito do título do teu texto, este título satírico da imprensa falsa:
«Gaspar proíbe despesas nos ministérios e deu ordem aos assessores para irem roubar cobre»
http://imprensafalsa.com/627925.html
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