A greve deve ser um último recurso, e não é assim que tem sido usada. É um meio de luta que tem muitos defeitos, nomeadamente não ser na prática acessível aos trabalhadores precários e desprotegidos, uma realidade que, infelizmente, nos dias de hoje, é a de grande parte. São estes, creio, os dois principais problemas da Fernanda com a greve, e concordo com eles em grande parte. Concordo que por vezes se convocam greves sem se proporem grandes alternativas. Concordo que os sindicatos se cristalizam sobre os trabalhadores sindicalizados – afinal, são deles que eles vivem: são eles que lhes pagam as quotas. E acrescento a sensação mais frustrante de fazer greve, que só quem faz greve e sente o dia de salário a menos (é isso fazer greve: não receber salário por um dia) pode sentir: perguntar para que serve a greve? Que resultados concretos podem daí sair? Se a greve não for bem justificada, se todos os trabalhadores não forem bem mobilizados, a greve não serve para nada. Creio que terá sido o caso da greve da semana passada.
Dito isto, não consigo subscrever o texto da Fernanda nesta altura. Quanto à oportunidade da greve: têm sido feitas muitas, e com poucos resultados, pelo que esta não é nada oportuna. Mas seguiu-se a um acordo de concertação social que constitui o maior ataque aos trabalhadores de que há memória nas últimas décadas, acordo esse que foi pusilanimemente assinado por uma das centrais sindicais. Seria sempre, por isso, uma greve parcial. Mas que poderia a CGTP fazer para protestar contra este acordo?
Quanto à (suposta) inadequação da greve ao mundo laboral atual, pergunto uma vez mais: e alternativas? Como podem os trabalhadores protestar contra decisões que lhes dizem respeito? Com manifestações? Isso leva-os a algum lado?
Parece-me que, para os trabalhadores, a greve continua a ser o pior dos protestos com exceção de todos os outros. Deve ser usada com parcimónia, mas não lhe encontro substituto. E gostava de encontrar. Penso, mas não consigo. Se a Fernanda – que agora até já cita Lenine! – encontrar um, que avise a malta.
2 comentários :
Há algumas coisas que eu quero dizer sobre a greve geral e ainda não tive disponibilidade para escrever. Preocupa-me uma questão que afloras no teu texto: o défice de representação de uma parte da força laboral. Os precários, por exemplo (e vê-se como a CGTP os trata). Ou os do privado (pois, são menos sindicalizados; mas houve tempo em que a greve não era só para funcionários públicos e aparentados, como acontece hoje). Há muita gente que para fazer greve perderia mais do que um dia de salário. Perderia três ou quatro. E isso nem entra no debate público.
Todas estas questões são importantes, e concordo com quase tudo o que está escrito no texto (naquilo em que se concorda e discorda da Fernanda Câncio), e ainda com as notas do Ricardo.
Mas creio que é importante alguma perspectiva histórica. As greves actualmente parecem muitas, mas em parte essa percepção deve-se a uma mudança de mentalidades (e a questão de existirem cada vez menos pessoas sindicalizadas está relacionada), e podem ser muitas comparadas com a história muito recente (5-6 anos?). Mas é preciso ver que em Portugal e na Europa fazem-se cerca de metade das greves que se faziam há 20 anos atrás.
O que aliás torna as perguntas finais do texto ainda mais pertinentes.
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