segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

Futebol: e o consumidor não se queixa?

O que me espanta, sempre que há suspeitas de corrupção entre os dirigentes dos clubes de futebol, é o silêncio dos associados e adeptos dos respectivos clubes. Não é que não critiquem o clube do vizinho: fazem-no sonoramente, num jogo de soma nula que neutraliza qualquer crítica (o adepto do Benfica que critica o FC Porto é faccioso; o adepto do FC Porto que critica o Benfica idem; o adepto do Sporting etc...). O que me espanta é que não critiquem o próprio clube.
Existem militantes do PSD que criticam a Direcção do partido; o mesmo se passa no CDS, e passou-se no PS quando não estava no poder. O que jamais se vê é um adepto do FC Porto a criticar o seu clube, ou um adepto do Benfica a descompôr a direcção do seu clube. (A menos, é claro, que percam jogos...) Jamais se viu um adepto do FCP ou do SLB a criticar o respectivo clube por causa da corrupção dos seus dirigentes, ou a manifestar vergonha pública por contribuir para os esquemas de lavagem de dinheiro, lenocínio e corrupção de árbitros que animam a economia futebolística.
O que é considerado saudável e necessário noutras áreas de actividade (o espírito crítico e a imparcialidade), é proscrito no mundo da bola. Muitos adeptos orgulham-se de jamais terem visto um penalty bem marcado contra a sua equipa, ou uma falta grave cometida por um dos jogadores da equipa que apoiam. Este estado de espírito é normalmente justificado com a enigmática frase «tem que haver uma área da vida em que sejamos irracionais» (ou qualquer uma variação desta frase). E no entanto é falso. Não é necessário que exista uma área da vida em que se faça do fanatismo uma virtude, ou do tribalismo um motivo de orgulho. Os resultados de se pensar o contrário estão à vista.

2 comentários :

Anónimo disse...

"Jamais se viu um adepto do FCP ou do SLB a criticar o respectivo clube por causa da corrupção dos seus dirigentes"

Fizeste bem em deixar o Sporting de fora dessa frase. Se pesquisares em fóruns, blogs e se fores às assembleias verás adeptos "a manifestar vergonha pública por [dirigentes] contribuir[em] para os esquemas" principalmente de corrupção. Ainda assim, são muito poucos.

Quanto aos FCP e ao SLB não conheço muito, mas do que conheço parece que tens razão.

Convém no entanto distinguires dois tipos de corrupção: o que é benéfico para o clube de futebol em questão (ainda que possa ter consequencias negativas a longo prazo como perda de confiança das pessoas nos dirigentes desportivos em geral) e o que causa danos ao clube em questão, ou seja, o dirigente aproveitar-se do clube. No caso do SCP estamos no segundo tipo de corrupção, daí os sócios e adeptos serem mais activos. No caso do FCP estamos claramente no primeiro tipo de corrupção. Os sócios neste caso escudam-se que ainda não foi provado nada em tribunal logo tem que se usar a presunção de inocência. O SLB está mas ou menos no meio com corrupção dos dois tipos.

João Moutinho disse...

O povo gosta de Pão e Circo.
Felizemente que já não há fome, quanto ao Circo, é a vergonha que se sabe.
Gente que ganha de forma quase miserável a idolatrar dirigentes que fogem aos impostos mas vencém títulos.