quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

Ainda a IVG: investimento, fronteiras, etc.

O Ludwig Krippahl escreveu:
  • «Os defensores do sim assumem que aborto não é como o infanticídio, mas é isso que se discute. O resto é secundário e nem sequer é ponto de divergência; eu concordo com quase todos os argumentos propostos pelo sim. Onde o sim falha é em mostrar uma diferença ética clara entre o infanticídio e o aborto. (...) Uma razão porque tenciono votar “não” é que não estou nada satisfeito que matar um feto seja tão diferente de matar um recém-nascido.»

Primeiro: gostaria que algum dos defensores do «não» me assinalasse um sistema jurídico que seja que penalize (ou tenha penalizado) da mesma forma um aborto (e já agora de primeiro trimestre...) e um homicídio. Segundo: espanta-me que um darwinista como o Ludi não compreenda que existem razões evolutivas básicas para que uma criança seja mais valorizada pelos progenitores do que um feto. Concretamente: o «investimento» biológico, energético, até afectivo contido numa criança é muito maior do que aquele que está num feto, particularmente se for indesejado. (Parece-me que não tenho de aludir ao Dawkins de 1976?) Até aqui, o meu argumento apela à intuição. Mas as leis não reflectem apenas as intuições humanas. No caso do aborto, há o problema prático de a sociedade não se poder ocupar do feto e garantir a sua sobrevivência (e este é um facto biológico que não é contornável). Responder a isto com a falsa analogia da «criança perdida na neve» é retirar o problema do quadro em que se coloca realmente.

Conforme já escrevi, há mais consenso nesta questão do que parece à primeira vista. A dificuldade (irresolúvel) está em que nenhum dos lados da discussão pode traçar uma fronteira entre dois regimes de penalização/despenalização sem começar a contradizer-se (a menos, como é evidente, que se defenda que até o uso da pílula do dia seguinte é homicídio...).

8 comentários :

Miguel Madeira disse...

"gostaria que algum dos defensores do «não» me assinalasse um sistema jurídico que seja que penalize (ou tenha penalizado) da mesma forma um aborto (e já agora de primeiro trimestre...) e um homicídio"

Este defensor do "sim" vem assinalar que na Alemanha nazi e na França de Vichy o aborto podia ser punido com a pena de morte, que imagino fosse também a pena para homicídio.

Ricardo Alves disse...

Miguel Madeira,
não sabia disso. Tens alguma referência (linque, etc?) em que possa aprender mais a esse respeito?

João Moutinho disse...

Na Alamenha nazi o Dr. Mengel realizava abortos - até com fins científícos. E que eu saiba nunca foi condenado à morte - pelo menos pelos almães.
Quanto a Vichy , sempre vi nesse regime uma espécie de aborto (político).
É capaz de os comentários acima não terem graça nenhuma. O melhor mesmo é não sermos confrontados directamente com essa questão.

João Vasco disse...

Sei que tanto o Hitler como o Estaline passaram a proibir abortos. Li no "Biliões e Biliões" de Carl Sagan.

Também gostava de ter mais informação a esse respeito.

João Moutinho disse...

Talvez o caso mais notório ainda seja o de Ceausescu.
É mais recente e de mais fácil documentação.
Não aprecio essa prática (a do aborto) nem penso que a sua legalizaçãoo seja um mal menor, mas existe.
O actual regime comunista chinês obriga as tibetanas a fazer abortos, ao que julgo, ao segundo filho.
Como é evidente, não penso que os pró-sim concordem minimamente com aquela prática.

Ricardo Alves disse...

«não penso que os pró-sim concordem minimamente com aquela prática»

Pois não...

Shyznogud disse...

Os pró-sins (pelo menos aqueles de que sempre ouvi falar)assumem-se sempre como pró-escolha. logo nunca poderiam com uma prática como essa.

Shyznogud disse...

falta o concordar, claro