sexta-feira, 11 de agosto de 2006

Falácias da Ética Neo-Liberal III - entre a competência e os escrúpulos

Será interessante analisar o exemplo de um gestor de uma empresa, e equacionar a ética das decisões que toma.


À partida, qualquer um de nós imagina que a competência profissional será algo eticamente louvável. Mas nem sempre é assim.

Em muitos casos um gestor competente sê-lo-á por tomar decisões que favorecem a comunidade com um todo: quer por ter ideias acerca de como tornar processos mais eficientes, e implementar essas ideias; quer por procurar activamente quais as necessidades da comunidade; etc...

No entanto, existem muitos casos em que a competência profissional de um gestor está na sua capacidade de tomar decisões eticamente condenáveis. Os casos mais emblemáticos quando se fala neste tema são os esquemas criativos para fugir aos impostos, ou uma frieza de pedra na altura de fazer restruturações delicadas... Mas esta questão coloca-se mesmo a níveis muito mais prosaicos.

A editora Filipim Lda tem os direitos de um romance. A edição de cada livro custa 5 moedas, e o livro é vendido a 6 moedas. Há 750 compradores.
Assim sendo, a empresa tem um lucro de 750 moedas (a amarelo), e presta aos vários leitores um serviço que pode ser estimado em 2250 moedas (a verde), pois muitos leitores estariam dispostos a pagar mais do que 6 moedas pelo livro.



Neste momento, o gestor decide tomar uma decisão: subir o preço do livro para 10 moedas. Perderá imediatamente 250 clientes, mas os lucros duplicarão.
A empresa passa a ter um lucro de 1500 moedas, embora agora apenas preste aos consumidores um serviço que vale 1000 moedas.



Este ponto deve ser observado com atenção: a decisão do gestor que revelará competência profissional é a mesma que prejudicará a comunidade como um todo, e que é, por isso, eticamente condenável.

Ou seja, aqueles que não são capazes de tomar decisões flagrantemente anti-éticas, não podem ser muitíssimo competentes enquanto gestores.

28 comentários :

dorean paxorales disse...

Gostei de o ler nestas quatro postas, sem poder dizer que concordo com tudo. Ate' no estilo e' uma boa resposta aos devaneios de um certo JoaoMiranda (sans façon ni ironie).

Pedro Fontela disse...

A isso chama-se maximizar o lucro e nao tem nada de imoral. Nao existe qualquer obrigaçao de ordem ética que obrigue a vender com apenas uma pequena margem. Aliás o objectivo é precisamente encontrar a relaçao entre numero de clientes e preço que maximiza o rendimento da empresa.

Pode ser impressao minha mas esta-me um pouco a parcer que a lógica da compra e venda passou um bocado ao lado deste post...

João Vasco disse...

«Nao existe qualquer obrigaçao de ordem ética que obrigue a vender com apenas uma pequena margem»

As decisões eticamente correctas não são apenas aquelas que somos «obrigados» a tomar.

Pedro Fontela disse...

"As decisões eticamente correctas não são apenas aquelas que somos «obrigados» a tomar. "

Daí que eu fale em ética e nao em legalidade.

João Vasco disse...

Mas confundes a "obrigação" com a decisão eticamente correcta.

Optar por algo que prejudica a comunidade como um todo é uma opção eticamente condenável. Mesmo que quem a tenha tomado estivesse no seu direito.

Pedro Fontela disse...

Joao,

Discordo. Essa questao da obrigaçao perante a sociedade nao me convence... Se existe uma obrigaçao ética razoavel ela deve ser transformada em lei (tal como o conjunto de obrigaçoes sociais e legais que qualquer empresa tem) mas isso nao se deve traduzir num principio vago de "bem da sociedade" (tal como já venho a dizer há algum tempo isso nao é mais que socialismo dirigista). Isso tal como o poes é negar o direito a dispor do que é nosso, é dizer que a propriedade enquanto parte da nossa esfera de liberdades pessoais nao existe (com ramificaçoes extremamente perigosas).

João Vasco disse...

"Discordo. Essa questao da obrigaçao perante a sociedade nao me convence..."

Mas qual obrigação?
Eu não acho que existe ou deva existir nenhuma obrigação.

"Se existe uma obrigaçao ética razoavel ela deve ser transformada em lei"

Se um amigo teu te pedir ajuda, precisa muito de desabafar uns problemas contigo, e tu não tu não tens paciência para o ouvir, se calhar tomas a escolha eticamente errada.
Mas espero bem que nunca surja uma lei que te obrigue a ouvi-lo.
Que raio de confusão!

"Isso tal como o poes é negar o direito a dispor do que é nosso"

Mas qual negar o direito!!!
Eu acho que tu tens o direito de fazer imensas coisas eticamente erradas. E assim deves ter.
Podes ser um mau amigo, podes recusar-te a ajudar as pessoas na maior parte dos seus problemas, etc...
Isso não deixa de ser eticamente errado, lá porque "estás no teu direito".


«é dizer que a propriedade enquanto parte da nossa esfera de liberdades pessoais nao existe (com ramificaçoes extremamente perigosas).»

É um preconceito afirmares que eu pretendo isso, quando, pelo contrário, repeti que não é assim várias vezes.

Volto a repetir a distinção entre ética e obrigação.

João Vasco disse...

A propriedade é como qualquer liberdade pessoal, e como tal está sujeita às mesmas limitações que as outras.

Existe a liberdade de roubar e de não ser roubado. Como são irreconciliáveis, a nossa sociedade opta por umas e não por outras. Qual o critério? Se a comunidade for racional, opta pelo critério que mais a favorece a comunidade.

Pedro Fontela disse...

Entao o teu comentário anterior poderia ser interpretado como um julgamento moral sem utilidade? Ok.

Uma sociedade justa em principio tentaria limitar o numero de imposiçoes ao individuo ao mesmo tempo que garante estabilidade aos seus membros - nao sei se isso seria o que tu chamarias uma decisao justa.

João Vasco disse...

Pedro Fontela:

Eu nunca falei em utilidade, mas acho que pode haver mais utilidade em julgamentos morais do que tentar fazer deles LEIS.

Para mim é tão ÓBVIO que há imensa coisa moralmente condenável que tu podes fazer que não é, NEM DEVE SER ilegal, que até tive dificuldade em entender a tua confusão.


Posto isto, parece-me claro que a decisão do gestor é eticamente errada.
O gestor competente será aquele que, neste tipo de situações, toma as decisões eticamente erradas.

Pedro Fontela disse...

"Posto isto, parece-me claro que a decisão do gestor é eticamente errada. "

Depende dos principios de justiça que assumes, parece obvio que nao partilhamos a mesma definiçao do conceito.

João Vasco disse...

«Depende dos principios de justiça que assumes, parece obvio que nao partilhamos a mesma definiçao do conceito.»

Mas qual quê!

A ética é um conceito mais vasto que a justiça.

É pouco ético recusares-te a ouvir o tal desabafo do meu exemplo, mas pode ser que não seja injusto.

O John Stuart Mill chegou a fazer umas distinções bem interessantes.

Assim sendo, tu não podes afirmar nada sobre os nossos conceitos de justiça, visto que não conheces os meus. Visto que eu não falei sobre eles, se achava justo ou inusto o gestor competente agir assim.

Mas eticamente errado, não tenho grandes dúvidas.
Quando prejudicamos os outros, sem que o nosso ganho sequer supere o prejuízo causado, parece-me claro que a nossa acção é eticamente errada.
Se discordas, temos uma definição diferente do coneito de ÉTICA.

Pedro Fontela disse...

Estás a falar a sério?

NA questao da disposiçao de bens nao ves subjacente os vários conceitos de justiça?

E obviamente que os teus conceitos podem ser inferidos pelos teus cometários.

João Vasco disse...

«E obviamente que os teus conceitos podem ser inferidos pelos teus cometários. »

Tens inferido muita coisa errada a respeito daquilo que não escrevi.

«NA questao da disposiçao de bens nao ves subjacente os vários conceitos de justiça?»

Eu falei sobre ética. Eu falei numa decisão eticamente errada. Nunca teci qualquer consideração sobre se é injusta, ou se a justiça deve sequer ter algo a ver com ela.

Anónimo disse...

Este exemplo so e possivel em monopolio. A concorrencia obriga todos os produtores de determinado bem a vende-lo ao preco de mercado. Sao muito raros e dificeis de sustentar no tempo os casos em que as empresas tem "poder de mercado", ou seja, em que conseguem vender acima do preco de mercado sem perderem o seu negocio para a concorrencia. Sugiro-lhe que pegue em qualquer manual de introducao a economia e estude um pouco de teoria dos precos.

O seu exemplo pura e simplesmente nao corresponde a realidade.

João Vasco disse...

Ip:

Novamente, o preconceito fez com que não fosse lido aquilo que de facto escrevi:

"A editora Filipim Lda tem os direitos de um romance."

Se entender alguma coisa de economia, sabe que enquanto os direitos forem da editora, ela tem o monopólio desse produto específico.

Anónimo disse...

Nao e verdade. Um romance e um bem relativamente fungivel. As pessoas podem apreciar muito o Autor A ou o livro B, mas se esses livros forem significativamente mais caros que outros comparaveis as pessoas na generalidade mudam. E e pela generalidade das pessoas que os precos sao definidos.

Num mercado livre os monopolios sao situacoes raras e geralmente sustentadas pelo estado, por vezes com razoes validas e outras nem tanto. As farmaceuticas sao um bom exemplo.

João Vasco disse...

IP:

Um romance diferente não é o mesmo produto, mas sim um "produto substituto".

Se leu os manuais que me aconselhou sabe que nesses casos não estamos perante "mercado livre", mas sim perante "concorrência entre monopólios", que são coisas DIFERENTES.


No caso da concorrência entre monopólios, o impacto da existência de produtos substitutos manifesta-se na alteração da forma da curava de procura, que tende a mostrar maior elastecidade.

Assim sendo, todo o raciocínio do artigo é válido. E nenhuma das suas objecções faz sentido.

Anónimo disse...

Concorrencia entre monopolios? Isso nao e uma contradicao nos termos? Os produtos substitutos concorrem entre si, nao sao monopolios. Alias, se quiser levar o seu racciocinio ao extremo, nao ha dois produtos iguais num mercado onde existam marcas. E nao e por isso que deixa de haver concorrencia entre eles. Os mercados de produtos substitutos nao se comportam como nos graficos que apresenta.

Em todo o caso, a questao relevante e a seguinte: o seu exemplo so e valido em situacoes que sao raras num mercado livre - em monopolio. Ainda nao o vi disputar este ponto. E apesar de nao o dizer explicitamente, e ate pelo titulo que lhe deu, o seu texto parece criticar o sistema de mercado livre como um todo, apoiando-se num caso de excepcao. Se nao era essa a sua intencao nao lhe ficaria mal ter indicado isso mesmo, que o exemplo que usa e excepcional.

Outra questao e discutir o caso concreto dos mercados protegidos por direitos de autor. A mim nao me parece que regra geral um livro seja relativamente imune a concorrencia de outros semelhantes como o seu exemplo implica. Mas essa questao interessa-me bem menos que a primeira.

João Vasco disse...

«Concorrencia entre monopolios? Isso nao e uma contradicao nos termos?»

Devia ler os tais manuais básicos de economia cuja leitura me aconselhou.

Em particular sugiro o «Mankiw 2003 Principles of Economics», páginas 377-391


«Em todo o caso, a questao relevante e a seguinte: o seu exemplo so e valido em situacoes que sao raras num mercado livre - em monopolio»

Sim.
Eu falei numa situação concreta.
Alguns dos meus leitores é que atribuíram uma crítica mais abranjente do que essa. Estão sempre e subentender muito mais do que aquilo que escrevo, e a criticar-me por posições que não tomei, ou afirmações que não fiz.

«E apesar de nao o dizer explicitamente, e ate pelo titulo que lhe deu, o seu texto parece criticar o sistema de mercado livre como um todo»

Parece a quem tem o preconceito que qualquer crítica ao capitalismo critica todos os aspectos do mesmo.

O exemplo que uso serve para mostrar que existem situações em que o gestor competente é aquele que toma as decisões eticamente erradas.
Este é um desses casos.

«A mim nao me parece que regra geral um livro seja relativamente imune a concorrencia de outros semelhantes como o seu exemplo implica»

Porventura leu aquilo que eu disse sobre a elastecidade da curva da procura?
O meu exemplo não implica nada disso, desde que a curva da procura reflicta a existência desses produtos.
Sem esses produtos a curva poderia ser outra, menos elástica.


PS- E não é só por influência do estado que os monopólios surgem. Atente no caso em que os custos marginais diminuem ad infinitum (existem) - são chamados "mo´nopólios naturais", ou seja, monopólios que tendem a surgir sem influência do estado - frequente situação em comunidades pequenas.
Nestes casos, pelo contrário, pode ser o estado a impedir a sua formação.

Anónimo disse...

Muito bem. Acho que nao vale a pena continuar a discutir o exemplo do livro, apesar de nao concordar de todo consigo.

Ja percebi entao que o seu texto, apesar do titulo, nao e uma critica ao sistema de mercado livre mas apenas uma ilustracao de um tipo de situacao excepcional - o monopolio - em que o mercado nao e eficiente.

Gostava entao que me explicasse como e que dai conclui que estamos perante uma "falacia da etica neo-liberal". E nao me diga que nao tirou essa conclusao, porque foi esse o titulo que escolheu. Para que isso fosse verdade era necessario que essa etica negasse o que voce esta a dizer, ou seja, das duas uma: ou que negasse a existencia de situacoes em que o egoismo nao serve o bem comum, ou que dissesse que existe uma obrigacao de ser egoista.

Ambas sao claramente falsas. O que a etica liberal diria, tal como eu a compreendo, e que ninguem deve ser obrigado a agir contra a sua vontade, a nao ser quando ponha em causa a liberdade alheia. Isto nao significa que a accao livre nao esteja sujeita a avaliacoes eticas, significa apenas que o servico do bem nao deve constituir uma obrigacao, deve ser de exercicio livre. Mas se isto e verdade em relacao ao bem, tambem o e em relacao a "competencia". Nao existe nenhuma obrigacao de ser "competente", ou egoista. A etica liberal nao e utilitarista - e liberal, ponto.

Agora, o que a ciencia economica nos mostra e que na esmagadora maioria dos casos aquilo que voce chama a accao etica coincide com a accao competente, ou seja, que a accao egoista serve o interesse comum - e a mao invisivel a funcionar. E mais, mostra-nos que nenhum outro sistema o faz melhor do que a liberdade.

E por isso que os liberais tantas vezes se socorrem de argumentos economicos - porque a liberdade serve melhor o interesse comum que outros sistemas. Atente: melhor. Ninguem com dois dedos de testa disse que o mercado e perfeito.

Mas isto nao significa de todo que a etica liberal seja uma etica da competencia ou do egoismo.

João Vasco disse...

«Para que isso fosse verdade era necessario que essa etica negasse o que voce esta a dizer, ou seja, das duas uma: ou que negasse a existencia de situacoes em que o egoismo nao serve o bem comum, ou [...].»

Não precisa de negar a existência de situações em que o egoísmo serve o bem comum: existem muitas.
Apenas precisa de afirmar que nem sempre isso acontece.

É uma questão lógica: para negar um teorema basta apontar um contra-exemplo.


«A etica liberal nao e utilitarista - e liberal, ponto.»

Mas muitos liberais acreditam que ambas acabam por coincidir, i.e.: que a ética liberal é aquela que é mais vantajosa para a comunidade (ou para toda a humanidade).

O meu ponto é precisamente este: são diferentes. Ou seja, nem sempre a ética liberal é aquela que é mais vantajosa.

Uma comunidade racional, adoptará a ética que mais lhe favorece.
Pelo que qualquer divergência entre uma ética e o utilitarismo consiste numa flagrante falácia da primeira.

«Agora, o que a ciencia economica nos mostra e que na esmagadora maioria dos casos aquilo que voce chama a accao etica coincide com a accao competente, ou seja, que a accao egoista serve o interesse comum - e a mao invisivel a funcionar.»

A mão invisível funciona num conjunto restrito e idealizado de casos. Isso é a ciência económica que o ensina.
Esta série de artigos aborda alguns dos casos em que isso não acontece.

«Ninguem com dois dedos de testa disse que o mercado e perfeito.»
Sim, mas quando se fala nas suas imperfeições de repente há quem diga que só o socialismo nos satisfaz, ou outros que nos peçam para lermos manuais de economia, eh!eh! ;)

Anónimo disse...

Ah! Entao voce parte do principio de que a etica liberal tem por teorema que o utilitarismo serve o bem comum, e que demosntrando a existencia de uma excepcao se prova a tal falacia.

Mas a falacia entao esta do seu lado. O problema esta no pressuposto, tal como escrevi acima. A etica liberal nao tem tal teorema. O seu problema e com a etica utlilitarista, nao com a etica liberal.

E que esta diferenca e crucial. E nao diga que os liberais sempre associam as duas. Aquilo que os liberais em geral dizem e que o comportamento real das pessoas em liberdade, que muitas vezes se pauta por criterios egoistas, acaba por servir o bem comum melhor que qualquer sistema nao-liberal. Num mundo sem coercao as pessoas tendem a colaborar. Mas esta e uma apreciacao factual, baseada em estudos economicos. Nao e nem uma profissao de fe, nem um preceito etico utilitarista, e muito menos um teorema.

Resumindo: primeiro, a etica liberal nao inclui nenhum principio utilitarista; segundo, os liberais defendem que uma sociedade baseada na ausencia de coercao serve melhor o bem comum que outros sistemas sociais.

Encontrar falacias na segunda afirmacao implica naturalmente a pergunta: que alternativa?

Gostava de saber a sua resposta.

João Vasco disse...

«segundo, os liberais defendem que uma sociedade baseada na ausencia de coercao serve melhor o bem comum que outros sistemas sociais»

Isso é o mesmo que dizer que o utilitarismo resulta no liberalismo.

É isso que discordo e que os meus artigos vêem mostrar.

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Neste caso em concreto a resposta é simples: a ética liberal não consideraria mal nem bem a atitude do gestor que põe os preços a 8.

A ética utilitarista considera pouco ética essa escolha. Assim sendo, neste caso a ética liberal é insuficiente.

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Alternativas?
Bom, eu acho melhor que exista um SNS (mesmo tão ineficiente quanto o actual) do que que não exista, mas não é esse o ponto dos artigos.

É muito mais simples compreender que a publicidade é, na sua maioria, uma actividade errada do ponto de vista ético, do que encontrar uma solução para esse problema.
Eu acredito que existem, e espero falar sobre isso ao longo dos próximos tempos enquanto co-autor deste blogue, mas muitas vezes as coisas são relativamente complexas e não bastam meia dúzia de palavras para as expôr.

Destruir o preconceito e entender as falácias da ética neo-liberal é o primeiro passo. Encontrar alternativas melhores é o segundo.

Anónimo disse...

Voce esta a atribuir aos liberais coisas que eles nao defendem. A associacao entre utilitarismo e liberalismo e errada.

A etica liberal nao e suficiente para determinar o que o gestor no seu caso deve fazer. Apenas diz que ele nao deve ser obrigado a escolher qualquer das hipoteses. Este principio de liberdade nao governa toda a accao humana, apenas e colocado no topo da hierarquia dos principios. E isto que distingue a etica liberal de outras eticas. O que nao significa que para um liberal nao existam outros valores eticos, como o bem. Mas o bem deve ser praticado livremente.

Mas os liberais defendem a liberdade nao so por consideracoes eticas, mas tambem por argumentos factuais. Estes argumentos, no entanto, nao tem nada a ver com a etica em si, nao sao normativos. O que voce esta a disputar sao estes argumentos factuais, nao a etica liberal.

E mesmo ai esta enganado naquilo que atribui aos liberais. Primeiro, os liberais nao dizem que a accao livre e sempre egoista. Os liberais celebram, por exemplo, um acontecimento como a doacao da fortuna de Warren Buffett a fundacao de Bill Gates precisamente porque demonstra que o homem em liberdade e capaz de praticar o bem sendo altruista. Tambem celebrariam se o seu gestor fosse altruista. Segundo, porque eles nao dizem que a accao egoista serve SEMPRE o bem comum. Dizem apenas que, em liberdade, e quer por accoes egoistas ou altruistas, as pessoas servem o bem comum MELHOR que sob outro sistema. E uma apreciacao relativa, nao absoluta.

E por isso que o seu exemplo nao so nao e novidade para nenhum liberal como nao demonstra nenhuma falacia nem da etica liberal nem dos argumentos factuais que os liberais usam para defender a liberdade. Para isso seria necessario que voce encontrasse outro sistema, nao liberal, que servisse melhor o bem comum.

João Vasco disse...

«Primeiro, os liberais nao dizem que a accao livre e sempre egoista.»

Eu disse que diziam?
Onde leu isso?

João Vasco disse...

«como nao demonstra nenhuma falacia nem da etica liberal»

A falácia que expús neste artigo encontra-se nas próprias palavras do seu último comentário:

«A etica liberal nao e suficiente para determinar o que o gestor no seu caso deve fazer»

«Mas o bem deve ser praticado»

É este o ponto.
Este uma opção que é boa.
Uma ética adequada "recomendará" essa opção. Uma ética que não o faz, será consequentemente falaciosa.

João Vasco disse...

Onde se lê "Este uma opção que é boa." deveria ler-se "Existe uma opção que é boa"