sexta-feira, 11 de agosto de 2006

Falácias da Ética Neo-Liberal I - a questão

A palavra «liberal» é uma palavra confusa.

Dependendo dos contextos, pode designar qualquer posição tendencialmente libertária, pode designar qualquer posição favorável a uma menor intervenção do estado na economia, pode designar ambas estas posições, e ainda pode designar qualquer posição de esquerda (nos EUA, por exemplo).

Quando falo em «ética neo-liberal» uso esta última palavra para evitar estas confusões. Refiro-me à posição segundo a qual a coerção e a violência são condenáveis, a menos que sejam usadas para evitar coerção e violência; que o direito à propriedade é tendencialmente inviolável; e de que as relações ou contratos livres entre as pessoas apenas a estas dizem respeito e não devem poder ser limitados por nenhuma entidade exterior.
Como consequência prática destes princípios, o estado deve ser muito pouco interventivo em todos os domínios da vida económica e social, devendo tendencialmente limitar-se a pouco mais que a administração da justiça.


Existem fundamentalmente dois tipos de neo-liberais.

O primeiro é aboslutamente minoritário, mesmo entre os neo-liberais: é um genuíno amante da Liberdade. Acredita que uma sociedade contruída desta forma será uma sociedade onde as pessoas vivem melhor, que é uma sociedade mais justa, pois qualquer outro tipo de sociedade contém restrições à Liberdade que sempre considerará indesejáveis. Manifesta as suas posições tanto no plano económico como no plano social com igual convicção.

O segundo tipo está associado a algumas pessoas que tendem a confundir a posição eticamente correcta com a posição «tacticamente» correcta: o tipo de pessoas que numa espécie de cinismo adopta a «moral dos vencedores», que é uma posição pseudo-amoral segundo a qual merece admiração quem «triunfa», pouco importa como.
Para estas pessoas, que constituem a grande maioria da «opinião neo-liberal» publicada e ouvida, pouco importa que se demonstre como as suas opiniões conduziriam a um mundo pior. A partir do momento que estejam convencidas que os seus interesses pessoais fossem benefeciados com uma medida em concreto, tenderão sempre a defendê-la sem qualquer reserva.
E poucos lhes importará qualquer tipo de argumento em nome do «bem comum», pois, revendo-se nos outros, duvidam que quem quer que seja esteja genuinamente preocupado com o bem comum, tão bizarro lhes parecerá qualquer pensamento altruista.


Mas com os primeiros, o debate é possível.
É portanto para eles que dirijo os textos que se seguem, os quais procuram desmontar as falácias da ética que adoptaram.

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