terça-feira, 30 de maio de 2006

Os que vieram cá para dentro para lutar pela vida


«Lisboetas» é um filme de Sérgio Tréfaut que vale a pena ver. Estão lá os lisboetas que não vieram nem da Beira, nem do Ribatejo, nem do Alentejo, nem do Algarve, nem de Trás-os-Montes, mas sim da Ucrânia, do Brasil, da China, do Paquistão, do Senegal ou da Nigéria.

No filme, as nossas insuficiências de país de acolhimento (burocracia, ausência de protecção laboral, clandestinidade prolongada...) ficam à vista. Apesar delas, os novos lisboetas vão ficando porque o pouco que ganham é mais do que nos seus países de origem, e também, aparentemente, por causa da praia da Caparica...

12 comentários :

Geosapiens disse...

...é um óptimo filme...muito equilibrado...aconcelho vivamente...
...caro venho aqui algumas vezes...as tuas revistas dos Blogues dão-me uma prespectiva bem geral...por isso sempre que posso dou cá um saltinho...
...não tenho tido é tempo de pôr comentários...
...um abraço...

João Moutinho disse...

Não vi o filme.
Mas o facto de virem emigrantes para Portugal deve-se ao facto de apresentarmos um melhor nível de vida.
A isso devemos o facto de sermos um país de economia capitalista, fazendo parte do Espaço Económico Europeu e estando protegidos pela NATO - durante mais de meio século.
Isto não invalida que os maus tratos e discrimanção a que os emigrantes estão sujeitos devam ser camuflados. antes pelo contrário.

Ricardo Alves disse...

«Mas o facto de virem emigrantes para Portugal deve-se ao facto de apresentarmos um melhor nível de vida.»

De acordo. Isso e termos maior paz cívica do que qualquer dos países de origem mencionados.

«A isso devemos o facto de sermos um país de economia capitalista, fazendo parte do Espaço Económico Europeu e estando protegidos pela NATO - durante mais de meio século.»

A diferença de desenvolvimento económico entre Portugal e os países de origem destas pessoas (com excepções como a Roménia ou a Ucrânia) deveria ser sensivelmente a mesma no início do século 20.
Quanto à NATO, não provoca nem a chuva nem o bom tempo em Portugal. Mas provocou divisões graves na oposição ao Estado Novo aquando da entrada da ditadura portuguesa nessa organização. E complicou a vida aos que queriam implantar uma democracia por cá.

«Isto não invalida que os maus tratos e discrimanção a que os emigrantes estão sujeitos devam ser camuflados. antes pelo contrário.»

Querias dizer «não valida», certo? Porque a dupla negativa que escreveste...

João Moutinho disse...

Ricardo Alves,
Vamos pelo fim.
Dei um pontapé no português, vá lá que és bem intencionado. É que quando se quer "tramar" alguém vai-se por um seu deslize.

A questão da NATO foi um desabafo porque o espaço ideológico em que esta blog está inserido tem alguns ataques de antiamericanismo quase cego - fazendo deles um bode expiatório para o que está mal e não lhes reconhecendo o que fazem de bem.

Em todo o caso refiro que dados estatísticos da década de 50 indicavam que a Polónia (e outros paíse de Leste) estava melhor colocada que Portugal no domíno da saúde. Esta situação foi-se invertendo progressivamente.

Não me parece que a causa da ditadura se ter mantido se deva à NATO. Aliás, o Salazar não gostava muito dos americanos (ao contrário dos ingleses) e vice-versa.

Mas quem libertou a Europa Ocidental do nazismo e conteve a ameaça soviética?

Voltando à emigração, seria bom que não esquecessemos que o Brasil durante muito tempo "matou" a fome a muitos portugueses. Estes emigrantes saíam da sua pátria sem quase nada - nem literacia, apenas com a roupa vestida.

Ricardo Alves disse...

João Moutinho,
uma série de questões que já têm pouco que ver com o tema original do poste.

«A questão da NATO foi um desabafo porque o espaço ideológico em que esta blog está inserido tem alguns ataques de antiamericanismo quase cego»

Eu tento, sobretudo, não me deixar cegar. Nem pelo anti-americanismo, nem pela americonofilia. Consigo reconhecer o que os EUA têm de bom (alguma laicidade a nível federal, a responsabilidade individual), como sou capaz de reconhecer o que têm de mau (a política externa musculada, o sistema de saúde não universal, as dificuldades financeiras no acesso ao ensino superior...).
Mas és injusto para com a esquerda portuguesa. Se incluírmos o PS na esquerda, está longe de ser maioritariamente anti-americana...

«Em todo o caso refiro que dados estatísticos da década de 50 indicavam que a Polónia (e outros paíse de Leste) estava melhor colocada que Portugal no domíno da saúde. Esta situação foi-se invertendo progressivamente.»

Ou então os dados dos anos 50 estavam aldrabados. Honestamente, não sei.

Ricardo Alves disse...

Não tenho dúvidas de que o sistema educativo dos países de leste era (e nalguns casos ainda é) melhor do que o de Portugal.
Aliás, um dos momentos mais cómicos do filme é quando uma russa (ou ucraniana?) diz que cá em PT é tudo melhor (os salários, o clima...) mas que a educação é pior (os programas são menos exigentes, entre outras coisas...).

Ricardo Alves disse...

«Não me parece que a causa da ditadura se ter mantido se deva à NATO.»

Nem eu afirmei tal coisa. Limitei-me a dizer que criou dificuldades à oposição (porque a dividiu).
O Salazar limitou-se a posicionar-se junto da potência dominante no Atlântico norte.

«Mas quem libertou a Europa Ocidental do nazismo e conteve a ameaça soviética?»

A Alemanha nazi foi derrotada pela URSS, não pelos EUA. Quer gostemos quer não, foi assim.
E não dei conta de que os países ibéricos fossem libertados do fascismo pelos EUA. Parece-me que o fizeram por conta própria.

João Moutinho disse...

Ricardo,
Gostei da tua resposta e como em vez de confrontares reagiste de forma poderada...acho que levei uma "ensaboadela".
Quanto á derrota da Alemanha Nazi, foi em grande parte pela URSS, mas eu falei da libertação da Europa Ocidental.
Afinal concordamos na maioria das coisas.
Pensei que este blog representasse qualquer coisa de jacobino...
Quanto ao sistema educativo, essa diferença é gritante.
Não quero fazer humor negro mas se tivéssemos cá os "terroristas chechenos" eles tinha de desistir do teatro...

Ricardo Alves disse...

«Pensei que este blog representasse qualquer coisa de jacobino...»

Este blogue é tremendamente JACOBINO!!! ;)

João Moutinho disse...

Mas se esta blog é jacobino porque reagiste dessa forma?
Estava a ver se arranjava "molho" e deste-me chá, assim não vale!
Jacobino vem de jacob, mas qual Jacob? Aquele que há conta de um prato de lentilhas ganhou o direito á primogenitura?

A propósito, lembrei-me do festival de Cannes. A Coppola (filha do famoso Coppola), cineatsa talentosa, apresentou um filme sobre a Maria Antonieta. Parece que os franceses não acharam muita graça...

Ricardo Alves disse...

João Moutinho,
ser jacobino não implica ser anticapitalista ou anti-americano.
Quanto à filha do Coppola, não a acho grande espingarda como cineasta.

Milo Manara disse...

A minha expectativa em relação ao filme era grande mas fiquei algo desiludido com a forma. Esperava um documentário mas vi uma colagem avulsa de imagens, sem grande fio condutor. Ainda assim, interessante.