sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Informação e contra-informação

De substancial, a «cacha» de hoje do Diário de Notícias só noticia que as «fontes» de Belém jorram nos cafés da Avenida de Roma, e confirma que a «fonte anónima» que denunciou as alegadas escutas do SIS aos assessores de Belém se chama Fernando Lima. Não se refuta que tenha havido escutas, pedidas ou não por diligentes braços direitos de Sócrates, tipo Silva Pereira.

Cavaco Silva fica chamuscado, porque dificilmente se acredita que o «eterno» Fernando Lima, que o acompanha há um bom par de décadas, andasse a passar dossiês aos jornalistas do Público sem autorização superior. Há métodos e práticas que não ficam bem a um Presidente da República.

José Manuel Fernandes fica ardido, porque se prova que avançou com uma estória sem grandes bases, e que o correspondente do Público na Madeira não confirmava. Fica exposta a intencionalidade política de um dos mediocratas do regime, e não será um acaso que se fale hoje na sua saída do jornal diário ex-referência.

José Sócrates não escapa às chamas, porque foi durante a legislatura que agora termina que se concentraram os «serviços de informações e segurança» sob a tutela directa do Primeiro Ministro, se defendeu a «liberalização» das escutas telefónicas e se tentou habituar a opinião pública à ideia de que é «inevitável» a existência de serviços do Estado que trabalhem à margem da lei, cometendo, na prática e na letra da lei, crimes de invasão de privacidade (e outros).

Razão tem Jerónimo de Sousa, quando refere que os «serviços secretos e de informações» já pouco se distinguem dos assessores e adjuntos desta ou daquela facção política no poder. Ou se controla este género de serviços e se os impede de praticar escutas e outras ilegalidades, ou a própria república estará desvirtuada.

11 comentários :

Anónimo disse...

Monarquia, "não Sr."; nomeadamente a Monarquia Constitucional, "nem pensar". "A república é que resolve os problemas do país, de preferência num regime semi-presidencialista, com uma constituição programática com articulado democraticamente republicano, laico e socialista", que ninguém acaba por respeitar. Depois admiram-se destes "jogos de poder", convencidos que só há democracia se presidente e governo forem de "cores" diferentes. Afinal quem estamos a servir ? O país ou a manutenção deste partido no governo e a garantia de reeleição futura do actual PR ? Permitam-me responder, estamos a servir a classe política a que todos pertencem ! Viva o rei !

Ricardo Alves disse...

Caro anónimo,
se tivéssemos uma monarquia (uma má ideia...), existiria este mesmo problema. Com a diferença de que não teríamos eleições em que remover o chefe de Estado, hipótese que teremos no início de 2011 e que parece cada vez mais risonha. Mais, o putativo monarca apareceria rodeado de uma aura de «intangibilidade» que tornaria difícil responsabilizá-lo por dislates destes. Tudo somado, viva a República!

rui disse...

Eu acho incrível que se produzam afirmações deste tipo: "não ficou provado que não houve escutas". Pois não, nem ficou provado que o Sócrates não seja o "candidato da Manchúria" e muitas outras coisas.

O que é certo é que as acusações concretas que foram feitas, não tinham, aparentemente, fundamento ( a não ser que o Tolentino e o Joaquim Vieira também estejam a soldo do "SIS").
Diz o Zé Manel que havia um caso concreto, que eram "sensações" de escutas. Então mas não se tinha já percebido que o mesmo sujeito "sensível" tinha lançado uma suspeita sem fundamento há um ano atrás? Então e quando se disse que as suspeitas tiveram origem há um ano e tal, o Público não poderia ter dito que elas não tinham fundamento?
E depois disto o SIS, a soldo do Governo é que "manipulou"? Bom, então só se pode concluir que se manipulou foi através do Público, usando o Público como marionete com um qualquer objectivo inconfessável.
Perante isto, o Jerónimo de Sousa dizer que isto é governamentalização dos serviços de segurança, é apenas vergonhoso.
(nota: isto não significa que não haja promiscuidade entre partidos e serviços de informação, não me venham é com essa história digna do Portugal Profundo a propósito deste caso.

Anónimo disse...

Mas então se pensarmos nos disparates e nos erros políticos e nos chamuscanços do drº Cavaco silva nestes últimos 3 anos parece-me que é difícil encontrar um PR tão mal preparado e com tanta falta de jeito (não é só a comer bolo rei). Nem o Eanes.
Bom, saí mais uma vez chamuscado porque o parlamento não o pode destituir, senão já tinha ido á vida.

Filipe Moura disse...

Ricardo, o Público já abriu um inquérito interno. Eles bem podem falar em escutas e SIS, mas parece-me bem mais provável que alguém lá dentro se tenha chibado... Para já nada diz que houve escutas (seja ao PR ou ao Público). Enquanto tal se mantiver, julgo que o Sócrates sai ilibado.

no name disse...

ricardo, achar que houve escutas é ridículo: o suposto caso tem mais de um ano e surge porque um assessor do cavaco não gostou que um assessor do sócrates se sentasse à sua mesa de almoço, numa visita à madeira quando faziam todos parte da mesma comitiva?? mas estamos a gozar com quem? isto é para além do ridículo.

procura mas é na constituição o artigo referente ao impeachment porque acho que está na altura ;-)

ps - e recuperar emails apagados é coisa rotineira para qualquer responsável do serviço informático...

Ricardo Alves disse...

1) Só por ingenuidade se pode imaginar que, existindo serviços de informações que realizam escutas ilegais (veio nos jornais...), que são encorajados a fazê-lo pelo poder político (veio nos jornais...), cujos membros, em muitos casos, foram nomeados por critérios políticos, cuja cultura é de «troca de favores», só por ingenuidade se pode imaginar que essa gente não é capaz de escutar os telefonemas de tudo e todos, do marido da amante ao PR.

2) Há uma pergunta sem resposta: quem passou o email para fora do Público? Pode perfeitamente ter sido alguém de dentro do jornal, mas também pode ter sido alguém dos serviços de informações do Governo. Estamos em guerra, caso não tenham notado.

3) O PR só pode ser destituído depois de condenado pelo Supremo Tribunal de Justiça, num processo iniciado por voto de dois terços dos deputados (artigo 130º). Dois terços. E não me consta que haja crime neste assunto: pôr a circular informação errada ou, no máximo, difamatória, talvez não seja crime. E, se alguma vez chegássemos a esse ponto, Fernando Lima seria sacrificado e apareceria em público a dizer que tinha actuado por conta própria.

no name disse...

1) ricardo, acho que exageras. julgando toda a informação nos jornais, a "escuta" resume-se a uma mesa de almoço demasiado diversificada. podem até haver escutas ilegais e tudo o mais noutros casos. mas, aqui, ficamo-nos pelo almoço, parece-me.

2) o próprio jmf já admitiu que foi interno. ao que parece, devem mesmo ter *jornalistas* no público ;-)

3) bom, ficamo-nos pelo impeachment eleitoral então... temos é que esperar ainda demasiados meses! :-(

Anónimo disse...

Ao Ruizinho de Sexta-feira, Setembro 18, 2009 9:31:00 PM
O tio Jerónimo não disse que a governamentalização dos serviços «de segurança» é «isto». O que ele disse é que «os serviços secretos e de informação estão governamentalizados».Ponto.
O que é vergonhoso é não saber uma coisa que até os putos de dez anos sabem: que as notícias não acabam nos títulos.

Frederico Anjos

Ricardo Alves disse...

Mais esta acha para a fogueira:

«Os documentos ontem publicados já os tinha o Expresso, como bem sabem os envolvidos com quem contactámos. (...)»

http://aeiou.expresso.pt/o-expresso-e-a-guerra-entre-belem-e-sao-bento=f536707

rui disse...

Foi, Anjinho?
Se é assim porque seria que o portentoso Jero (à esquerda, so to speak...) se referiria ao assunto logo nesta altura? Por acaso? Apenas para nos brindar com essa brilhante generalidade? Porque não aproveitou ele para falar do tempo, e de tantas outras micro-pequenas-e-médias tolices e banalidades lamurientas que enxameiam o seu discurso(zinho)?