Acho razoável que seja limitada a publicade nas escolas e infantários - principalmente no que respeita a comida pouco saudável - e não me indigna que só a partir das 22h possam ser publicitadas bebidas alcoolicas. Também me parece razoável que exista um limite para o número de intervalos televisivos, e para a duração dos mesmos.
Nenhuma destas limitações pretende, nem pode, resolver o problema do consumismo. O problema do consumismo é mais profundo e está relacionado com a manipulação. É impossível proibir a manipulação em geral, sem destruir completamente o direito à liberdade de expressão. E isto é verdade para a manipulação em geral, e também verdade para a publicidade em particular.
Para a manipulação temos de desenvolver outro tipo de respostas, ao nível social, ao nível psicológico, ao nível comportamental. E a primeira defesa contra a manipulação é a indentificação do manipulador. Se entendermos que um determinado agente tem interesse em manipular a nossa percepção e comportamento, não necessariamente no nosso melhor interesse, é mais provável que abordemos a sua mensagem com espírito crítico. É menos provável que sejamos enrolados.
Então a primeira das armas que temos contra a publicidade é a conscencialização dos seus propósitos, dos seus instrumentos e tácticas. Quando os anúncios são descronstruídos, as tentativas de manipulação tornam-se transparentes, e a sua eficácia reduz-se significativamente.
É preciso ter em conta que quando a publicidade se torna menos eficaz num indivíduo, ela torna-se menos eficaz em toda a sua rede social. Assim, a conscencialização de uma rede social pode tornar-se progressivamente mais fácil.
E se a eficácia da manipulação na publicidade diminui, ela pode deixar de ser do interesse dos vendedores. Conforme expliquei num texto anterior, a manipulação tende a destruír valor, pelo que à medida que os indivíduos se forem tornando menos susceptíveis a esta manipulação, toda a sociedade sai beneficiada.
2 comentários :
uma hipóese interessante poderia ser legislar no sentido de regular a publicidade do tipo "está provado que" ou "estudos mostram que" ou "a maioria das pessoas prefere" etc. se esse tipo de afirmações só pudessem ser feitas quando o "mostrado" se refere a um estudo científico publicado em jornal com peer review, ou a "maioria" se refere a estudo estatístico em moldes equivalentes, ou com os dados completos do estudo validados por um orgão regulador, tipo INE ou semelhante, então este género de publicidade poderia eventualmente ter alguma utilidade para ajudar nas escolhas com que somos bombardeados. não é toda a gente que passa dias no google antes de ir às compras ;-)
não quer dizer que a tentativa de manipulação desapareça, mas se a mentira for posta de parte, pelo menos o julgamento que fazemos do que nos é impingido pode ser mais real.
e ainda no que diz respeito à manipulação, e se me é premitido fazer auto-publicidade no meu próprio blog :-) recordo um post antigo:
http://esquerda-republicana.blogspot.com/2006/08/representastica-do-capital.html
As leis que temos em relação à publicidade enganosa são razoáveis, mas concordo contigo que poderiam ser um pouco mais exigentes. Mas obviamente isto só se aplica a matéria de facto: se dizem que um estudo comprovou X, convém que seja um estudo sério. Isto é defensável à luz da economia clássica, mas não toca no cerne do problema. (Se bem que fosse devastador para o tele-shop, eh!eh!)
Porque uma coisa é mentir utilizando factos falsos, mas grande parte da manipulação que nós vemos na publicidade não passa por aí. Não há factos falsos porque quase não há factos. Há imagens, sensações. "Just Do it", "Porque eu o mereço" e tudo o mais. Mesmo afirmações disparatadas ("não há nada mais importante que o meu cabelo") são suficientemente subjectivas para que não possamos falar em factos falsos.
Acho que a solução para este problema não está nas leis, está nas mentalidades. Temos de identificar e rejeitar nas nossas escolhas enquanto consumidores esta forma de manipulação. Falar sobre este assunto é um bom começo.
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