Uma das críticas mais recorrentes a estes textos que tenho escrito sobre liberdades positivas e negativas é que «
não se pode falar em liberdade negativa de furtar, visto que essa violaria a liberdade negativa da propriedade».
Vamos esclarecer: se furtar fosse uma liberdade negativa que devesse ser garantida, isso significaria que deveria ser impedido qualquer acto que limitasse esta minha liberdade - ninguém me poderia impedir de furtar.
Mas o próprio furto envolve a violação de uma liberdade negativa: a da propriedade. Assim sendo - dizem-me - nem sequer faz sentido em falar em «
liberdade negativa de furto» pois esta antes de mais violaria a liberdade negativa da propriedade. Na boa tradição do «
a minha liberdade acaba onde começa a do outro», não faz sentido assegurar uma liberdade negativa cuja existência implique a limitação de outra liberdade negativa.
No entanto, podemos ver as coisas ao contrário...
Podemos considerar que «se a propriedade fosse uma liberdade negativa que devesse ser garantida, isso significaria que deveria ser impedido qualquer acto que limitasse esta liberdade - ninguém poderia furtar.
Mas isto envolve a violação da liberdade negativa de furto. Na boa tradição do "
a minha liberdade acaba onde começa a do outro" não faz sentido assegurar uma liberdade negativa cuja existência implique a limitação de outra liberdade negativa.»
Sejamos claros: eu não defendo esta última posição.
Apenas mostro que aquilo que certos liberais defendem não decorre da defesa d
as liberdades negativas, mas sim de
umas liberdades negativas, e que não existe nenhum critério objectivo que presida a essa escolha.
As liberdades negativas/positivas que se escolhem como prioritárias têm consequências diferentes, mas não existe nenhuma escolha que possa ser considerada
a priori melhor que as outras.
É necessário discutir o impacto que elas têm na vida das pessoas, as consequência positivas ou negativas que delas advêm.
Quando uso os cenários imaginados mostro que os axiomas defendidos não garantem situações aceitáveis ou defensáveis
a priori, pelo que estes valores acabam em última análise por ser defendidos numa base utilitarista de "
na prática funcionam". Claro que esta alegação é muito discutível, e não parece ter a mesma força. Por essa razão, os liberais de direita escamoteiam esta realidade, e tentam atribuir aos seus valores uma neutralidade que é injustificada. Ao contrário do que os liberais de direita apregoam, não existem boas razões para aceitar que o seu liberalismo é o
verdadeiro liberalismo.