E eu lembrei-me da história – tão comum! – do general Sarrail no Médio Oriente.
Odiado pela direita e pelo clero, a história oficial do general Sarrail (1856-1929) abertamente anti-clerical na Europa pos-Pio IX, é a de um fracassado e um genocida, tendo-lhe sido inclusivamente imputada a morte de 25 mil civis no bombardeamento de Damasco, em 1925. George Seldes, que estava lá e o conheceu, conta uma versão diferente: 308 cadáveres e talvez 700 desaparecidos, enterrados nos escombros.
Mas a parte mais interessante do capítulo de Seldes sobre Sarrail [Witness to a Century, p. 235] é a seguinte: quando chegou à Síria, Sarrail encontrou uma classe de emirs, sheiks e pashas que vivia à grande, às costas de uma população miserável, selvagem e fanática, dividida em 29 religiões organizadas. Uma das coisas que chocou o general foi a existência de escravatura. Mas o pior, segundo ele, foi o sistema de servidão medieval, em que as pessoas eram compradas e vendidas com a terra. Sarrail começou a aplicar a lei sistemáticamente e a tentar abolir na prática um sistema de servidão que já não existia na lei. Resultado? Os servos revoltaram-se contra ele:
“I determined first of all to free the serfs. I did not need new laws to do so. The laws were there. I merely ordered the enforcement of the laws already on the books. The law said that anyone who broke the law, sheik or peasent, would be tried snd, if found guilty, would be sentenced to work out his duty to the state by breaking stones and building roads, usually near their own town or village. Of course in this matter all the lawbreakers without exception were the rich landowners, the Arab sheiks, emirs and pashas. […] The serfs, the masses of common people I hoped to free, revolted in favor of their old masters.”
Os melhores aliados dos sistemas injustos – monraquias, oligarquias e outros tipos de cleptocracias - nunca são a classe alta nem a classe média: são os pobres.
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