terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Porta aberta ao criacionismo

No recente livro «Criacionismo e Sociedade no Século XX», aprendem-se factos preocupantes sobre o sistema de ensino português.
  • «O programa oficial português de Biologia e Geologia ensina a evolução como uma teoria científica válida – mas o Programa de Biologia e Geologia (11.º e 12.º anos), homologado em 2003, debruça-se sobre a questão da evolução com algumas expressões pouco felizes. No capítulo 2, na parte sobre os Mecanismos de evolução, o programa refere: «Não há consenso sobre as causas da diversidade dos seres vivos. As teorias evolutivas explicam essa diversidade pela selecção dos organismos mais adaptados, razão pela qual as populações se vão modificando.» A expressão “não há consenso” refere-se a mecanismos evolutivos mas pode transmitir a ideia, sobretudo nas mãos de professores menos bem preparados, de que a falta de consenso se aplica à evolução propriamente dita. O programa recomenda a «construção de opiniões fundamentadas sobre diferentes perspectivas científicas e sociais (filosóficas, religiosas...) relativas à evolução dos seres vivos». O que quererá dizer isto? Que o professor deverá ensinar a perspectiva da religião ou da filosofia sobre a evolução numa aula de ciência? Uma leitura menos atenta poderá interpretar que a recomendação é de ensinar a perspectiva científica da evolução como uma hipótese entre muitas (filosóficas, religiosas, etc). O programa sugere que se deverá «Evitar: o estudo pormenorizado das teorias evolucionistas» e evitar «A abordagem exaustiva dos argumentos que fundamentam a teoria evolucionista»(!!!), o que nos parece uma opção inquietante que pode comprometer a solidez dos alicerces do conhecimento das ciências naturais.» («Evolução e Criacionismo: Uma Relação Impossível», Octávio Mateus, 2007)

Pessoalmente, desconhecia que este género de relativismo epistemológico era praticado nas escolas portuguesas, justificando a igualdade de tratamento entre Biologia e teologia, e abrindo a porta ao criacionismo. Fico preocupado.

7 comentários :

Anónimo disse...

Paradigma é a palavra chave.

Na Ciência, existem vários tipos de paragigmas, e nem todos usam o método cientifico na sua comprovação.

A realidade é que o Paradigma que apoia a Teoria evolutiva, tem diversas interpretações, entre as quais, umas baseadas em filosofia e outras na teologia.

A utilização do método Cientifico para provar uma teoria, é em muitos casos limitativa devido à impossibilidade de poder experimentar a teoria.

Se o objectivo dos professores, de uma cadeira de Ciências, é dispertar na mente dos jovens o interesse através não de respostas mas de perguntas, pode e deve ser um insentivo para que esses jovens procurem saber mais sobre o assunto.

Lembrem-se, este assunto não é estanque, continua a ser investigado através de diferentes vertentes. Seria muito mau um professor ou o Estado através do Ministério da Educação, condicionar esta informação.

O que queremos para os jovens?
que pensem ou em dar-lhes as respostas que mais nos agradam?

Anónimo disse...

Já agora...ainda não li o livro, mas esta guerra entre o Criacionismo e a Evolução, não tem lógica.

Nenhuma Teoria Evolucionista consegue substituir totalmente a intervenção de um Criador.

Filipe Castro disse...

Ohohoh! "Nenhuma teoria científica consegue substituir totalmente a intervenção de um Criador", com maiúscula. :o)

Isto parece uma daquelas coisas que eu oiço aqui: "Não há qualquer evidência científica para a Teoria da evolução" (Ann Coulter).

Concordo que se deva explicar aos alunos a diversidade das cosmogonias todas, nas aulas de antropologia: os Raelians acreditam que a Terra é uma Criação de engenheiros extraterrestres, por exemplo, alguns evangelicos acreditam que os dinosaurios eram todos herbivoros, e assim.

Filipe Castro disse...

Mas ciência é outra coisa. :o)

Sr. Pedrogh: não se pode misturar as equações de Maxwell com aromaterapia, o Pai Natal, unicórnios, deuses, e outras coisas da infância da mente.

Como escreveu Nietszche: "uma visita a um qualquer asilo de malucos demonstra bem que a fé sozinha, por muito forte que seja, não faz prova de coisa nenhuma."

Anónimo disse...

Filipe,
O que me parece é que, felizmente, muitos dos pais dos nossos alunos não sabem que o evolucionismo é ensinado nas escolas. Porque se soubessem, creio que o nosso país está tenrinho para acolher o criacionismo (mais pelo lado do ID). É que com tanta pobreza de espírito e de finanças o que o povo quer é "magia" e, se esta for injectada sob a forma de religião, acho que teremos um sério problema. Há que estar atentos!

samuel disse...

O problema é que uma grande parte dos criacionistas, realmente não evoluiu practicamente nada!

Filipe Castro disse...

Foi o que eu disse aqui a um: "Meu, tu não evoluiste dos macacos." Ele ficou todo contente, e eu acabei a minha frase "Só perdeste o pelo."