«Por estes dias, foi enviada à ministra da Educação deste Governo de maioria absoluta PS uma carta, com a chancela da Associação Cívica REPÚBLICA e LAICIDADE. O documento, oportuníssimo, insurge-se contra a permanência de certos símbolos católicos nas Escolas e noutros espaços públicos, bem como contra a realização de missas e outros actos de culto em espaços escolares, tudo coisas manifestamente incompatíveis com a letra e o espírito da Constituição da República Portuguesa.
A primeira entidade a exigir que esses símbolos fossem retirados das escolas deveria ser a própria Igreja católica, a qual também deveria inibir-se de alguma vez cair na tentação de converter a escola pública do Estado em capela ou igreja, onde têm lugar certas liturgias quaresmais e não só, que só aos católicos dizem respeito e, mesmo a estes, nunca no espaço da escola que eles frequentam em pé de igualdade com outros não católicos. Infelizmente, não é por essas águas límpidas que navega a Igreja católica que está em Portugal. Prefere as águas sujas do compadrio, da promiscuidade, da “mancebia” com o Estado. O Estado, por sua vez, embora seja lesto em aprovar leis e decretos-lei saudavelmente “laicos”, mostra-se depois quase infantil na sua aplicação, sobretudo, quando essa aplicação envolve situações de facto que beneficiam a Igreja católica. E prefere deixar correr.
Deste modo, mais de trinta anos depois de Abril, custa ver os maiores representantes do Estado, ateus ou agnósticos que sejam, a assumir posturas oficiais de sacristães do clero, não vão suas reverências zangar-se e passar a pronunciar maldições contra o Estado e contra eles próprios.
A primeira entidade a exigir que esses símbolos fossem retirados das escolas deveria ser a própria Igreja católica, a qual também deveria inibir-se de alguma vez cair na tentação de converter a escola pública do Estado em capela ou igreja, onde têm lugar certas liturgias quaresmais e não só, que só aos católicos dizem respeito e, mesmo a estes, nunca no espaço da escola que eles frequentam em pé de igualdade com outros não católicos. Infelizmente, não é por essas águas límpidas que navega a Igreja católica que está em Portugal. Prefere as águas sujas do compadrio, da promiscuidade, da “mancebia” com o Estado. O Estado, por sua vez, embora seja lesto em aprovar leis e decretos-lei saudavelmente “laicos”, mostra-se depois quase infantil na sua aplicação, sobretudo, quando essa aplicação envolve situações de facto que beneficiam a Igreja católica. E prefere deixar correr.
Deste modo, mais de trinta anos depois de Abril, custa ver os maiores representantes do Estado, ateus ou agnósticos que sejam, a assumir posturas oficiais de sacristães do clero, não vão suas reverências zangar-se e passar a pronunciar maldições contra o Estado e contra eles próprios.
(...)
Nunca concordei com a conversão das salas de aula das Escolas públicas em capelas ou templos paroquiais. Nem que lá se exibam os símbolos que são exibidos nos templos. Tão pouco que lá se dê catequese, disfarçada de ensino religioso. A laicidade é um valor que brota do Evangelho. À luz da prática de Jesus, até a Igreja que se reivindica do seu nome, deve fazer seu este valor. Na medida em que a Igreja viver a laicidade, nessa medida é sacramento de Jesus que não foi sacerdote nem nunca criou um corpo de sacerdotes. Que a laicidade é um dos elementos constitutivos da Igreja, provavelmente, nem a Associação Cívica REPÚBLICA e LAICIDADE tem disso consciência. Mas é assim que são as coisas. Não sei também quando é que as Igrejas cristãs chegarão a ver as coisas assim, mas quanto mais rapidamente isso acontecer melhor. Para que também a Política, não a Religião, se torne a principal actividade da Igreja. Evidentemente, a Política como cuidado da terra e do universo, a começar pelo cuidado dos seres humanos mais fragilizados e mais sofredores.»
(Mário de Oliveira; ler na íntegra acolá.)
Sem comentários :
Enviar um comentário