quinta-feira, 9 de abril de 2015

O populismo: um novo campo político?


Nos cenários, contas e previsões para as próximas legislativas, e particularmente para a eleição presidencial, há um factor que falta em muitas análises: o voto populista.

Na eleição presidencial de 2011, 580 mil cidadãos votaram em Fernando Nobre e 190 mil em José Manuel Coelho, cerca de 18,6% dos votos. À época, muitos não entenderam a novidade do facto, mas houvera quase tantos votantes no segundo candidato mais votado quanto em dois candidatos que escapavam à lógica esquerda/direita e que correspondiam a um sentimento populista, anti-partidos ou até anti-sistema. Nas europeias de Maio passado, a candidatura de Marinho e Pinto teve 7% (230 mil votos), corporizando um fenómeno semelhante. É portanto natural que nas legislativas, e principalmente na eleição presidencial, o habitual jogo de cálculos esquerda/direita e centro/extremos seja perturbado por este novo campo político.

Em comum, os candidatos populistas têm a priorização do «combate à corrupção», indesligável do apelo ao «cidadão comum» (inevitavelmente «honesto» e «decente») contra a «classe política», a «dinastia», os «corruptos» ou a «casta» (uma massa indistinta culpada de todos os males, incluindo a crise financeira internacional) e uma desideologização aparente que os leva até a rejeitar (mais ou menos explicitamente conforme os casos) a distinção esquerda/direita. Em comum, também, necessitam de uma liderança carismática e sonora (de preferência vinda «de fora» da política). O mais grave é não terem qualquer solução a apresentar para os problemas que apontam (e até os poderem agravar, como o mostra o desprezo com que Marinho e Pinto trata o seu mandato no Parlamento Europeu).

Os partidos já existentes pouco podem fazer: este protesto é contra todos eles (tenham estado no poder ou não), contra a ideologia, contra a corrupção enquanto «percepção difusa» e não enquanto crime concreto, e o eleitorado populista só vota em quem coloca a corrupção não em primeiro mas em único destaque do seu programa. Mas, dadas as contradições do próprio fenómeno com as expectativas que cria, é bem provável que o resultado de cada candidato populista dificilmente se repita, e que portanto cada eleição queime um ou dois destes personagens. O que não significa que este eleitorado não cresça.

2 comentários :

Luís Lavoura disse...

Tem graça, eu votei tanto no Coelho como no Marinho Pinto (mencionados no 2º parágrafo do texto) e, no entanto, não me identifico minimamente com nenhum dos motivos elencados nos 3º e 4º parágrafos. Fico sem saber se sou populista ou não. Ou, se calhar, são Coelho e Marinho Pinto que não são populistas.

Ricardo Alves disse...

Não sei. Quais foram os motivos para esses votos?